Se o segundo turno repetir a temperatura da festa do PT ontem à noite, Fortaleza vai pegar fogo nos próximos 20 dias. O partido começou chutando o balde contra o adversário de Elmano de Freitas (PT) na disputa, Roberto Cláudio (PSB). Também foi anunciada outra estratégia: amanhã, Elmano seguirá com a prefeita Luizianne Lins (PT) para São Paulo, na tentativa de agendar de vez a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha em Fortaleza. No primeiro discurso após o resultado, na Avenida da Universidade, Elmano e Luizianne foram com tudo para cima do adversário. “Fortaleza não terá estaleiro. Não terá pedágio. Alguém vai para os Estados Unidos, volta, ouve os neoliberais e quer fazer o povo pagar pedágio”, gritou Elmano. Roberto Cláudio nega que adotará a medida, caso eleito. Ele diz que a cobrança aparece em seu plano de governo porque o documento incluiu propostas apresentadas pela sociedade durante a campanha.
A prefeita engrossou o discurso ao bradar que Fortaleza “não vai deixar coronel, nem filhote de coronel governar” e que “teve gente que chegou de fora para conhecer a cidade pelos mapas, dentro dos gabinetes”.
Daqui para a frenteApesar do tom acalorado das declarações e da promessa de “não levar desaforo para casa”, os petistas ainda pregaram “equilíbrio e serenidade”. No bojo dessa pitada de cautela, está a aparente preocupação com a relação com o PSB após a eleição. O POVO apurou com fontes influentes do PT que não está completamente descartada a hipótese de entendimento com a sigla do governador Cid Gomes (PSB). “Tudo vai depender do clima do segundo turno”, disse uma fonte, que pediu para não ser identificada. O deputado federal José Guimarães (PT), um dos principais articuladores da aliança entre as duas siglas e um dos que mais resistiram ao rompimento este ano, também deu a entender que, cedo ou tarde, Luizianne e Cid terão de sentar para rediscutir a relação. “Vamos esperar a música tocar. A gente vai dançando conforme a música”, afirmou.
Até lá, os esforços ficarão concentrados na busca de apoio. A menina dos olhos do PT é o candidato Heitor Férrer (PDT), que ficou em terceiro lugar no primeiro turno. O PDT é mais próximo do PSB de Cid, mas o Heitor é um dos maiores opositores do governador. "Eles atacaram, fizeram baixaria. Mas esse pt unido, ninguém segura" Elmano de freitas Lucinthya Gomes Com um claro discurso de aliança vencida e desgastada na Capital entre PT e PSB, Roberto Cláudio (PSB) comemorou vaga no 2º turno, em seu comitê, na avenida Sebastião de Abreu, demarcando os dois caminhos possíveis à população de Fortaleza: “Quem acha que a atual gestão é boa e tem dado boas respostas, há um candidato para representar esse projeto. Quem acha que é preciso mudar Fortaleza, eu estou à disposição para representar essa inovação”, afirmou.
No palanque, prometeu arregaçar as mangas para esta segunda etapa da disputa e procurar cada um dos oito candidatos que saíram derrotados no primeiro turno. De olho nos apoios, não poupou elogios. “Candidatos que debateram de forma prurida, democrática, o destino da cidade Fortaleza. Gente de bem, honrada, valorosa”. Garantiu que irá ouvir as boas ideias e até incorporá-las ao seu plano de governo.
De acordo com o governador do Estado, Cid Gomes, presidente estadual do PSB, é o próprio Roberto Cláudio quem irá conduzir o processo, em busca de alianças. “Ele tá feliz porque está no segundo turno. Mas os outros ainda estão sentindo a não concretização de uma vitória parcial. Isso tem que ser respeitado e todos serão procurados”, confirmou o governador.
Ao deixar claro seu interesse em manter a aliança nacional e estadual que o PSB tem com PT, Cid Gomes comentou o desgaste na relação entre as duas siglas na Capital. “Em Fortaleza, por razões já públicas, notórias, conhecidas, não foi possível a aliança. Mas isso não vai significar o fim do mundo”, afirmou.
Sobre as razões para o rompimento, Roberto Cláudio e Cid Gomes, mais uma vez, criticaram a saúde pública, a educação, o transporte público e a habitação. “Modelo sujo”O coordenador de campanha, Ciro Gomes (PSB), foi além e assumiu o discurso mais duro: “Somos contra o modelo cansado, sujo, da atual Prefeitura de Fortaleza. Contra a miudice, contra o clientelismo, a fisiologia, o descaso comas pessoas. Contra a esculhambação em que está a saúde pública, as escolas, as obras da Copa, que foram entregues à Delta, do Carlinhos Cachoeira”. Sobre Heitor Férrer (PDT), cujo desempenho surpreendeu no 1º turno, Ciro disse que não há problema algum em Roberto Cláudio ser apoiado por ele, que sempre foi voz de oposição ao governador. “A disputa não é o Governo do Estado. É a Prefeitura de Fortaleza. E o Heitor interpretou com muita fidelidade alguns valores de mudança, da condição da Prefeitura”.
"Irei procurar todos. Irei ouvir as boas ideias, e vou inclusive incorporar no nosso plano de governo” Roberto cláudio