'Gabinete do ódio': acusações contra Delegado se complementam
Já estão com a Procuradoria dos Crimes contra a Administração Pública (Procap) informações relativas a despesas e funcionários lotados no gabinete do deputado estadual Delegado Cavalcante (PSL) na Assembleia Legislativa do Ceará. As informações foram pedidas pelo promotor Ricardo Rocha, da Procap, em requerimento referendado pelo procurador-geral de Justiça do Ceará, Manuel Pinheiro. A ideia é investigar se pessoas com cargos comissionados no gabinete do parlamentar usaram estrutura do Legislativo estadual para atuar em prol da criação do Aliança pelo Brasil, partido articulado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Ação segue denúncia, baseada em imagens das próprias redes sociais do deputado, que mostra três servidores comissionados em vários eventos de coleta de assinaturas para a criação da sigla. "Em nítido desvio de função e malversação do erário", diz denúncia.
Nas imagens, o deputado ou os servidores aparecem em eventos em municípios do Interior do Ceará e até em outros estados, como Alagoas, Bahia, Brasília, Paraíba e Rio Grande do Norte. Vários dos atos teriam acontecido ainda dentro do horário de expediente da Assembleia. Nas redes, os comissionados publicavam fichas e até instruções legais para o apoio ao partido.
"Tendo em vista a necessidade de instrução do procedimento, que apura suposto ato de improbidade administrativa praticado pelo deputado estadual Delegado Cavalcante e servidores comissionados lotados em seu gabinete", justifica Rocha. O pedido foi encaminhado pelo procurador-geral de Justiça ao presidente da Assembleia Legislativa, Dr. Sarto (PDT), dois dias depois, em 17 de abril. As informações foram respondidas pela Casa em 20 de maio e chegaram ao MP nos últimos dias.
DEPUTADO Delegado Cavalcante nega envolvimento de assessores em ações do 'gabinete do ódio'
Foto: Junior Pio/ALCE
DEPUTADO Delegado Cavalcante nega envolvimento de assessores em ações do 'gabinete do ódio'
"Gabinete do Ódio"
A investigação da Procap ocorre paralelamente a outra, tocada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que apura funcionamento do chamado "Gabinete de Ódio" - redes de militância profissional de suposta ligação com gabinetes de parlamentares bolsonaristas. Em depoimento dado ao Supremo entre o fim do ano passado e o início de 2020, o deputado federal Heitor Freire (PSL) acusou os deputados Delegado Cavalcante e André Fernandes de serem os principais articuladores da versão cearense do grupo.
No depoimento, Freire apresenta dossiê que inclui, além de detalhes de uso da estrutura da Assembleia cearense para fins políticos, uma mensagem de Delegado Cavalcante com ataques ao presidente do STF, ministro Dias Toffoli.
O curioso é que, em seu depoimento, Freire cita como integrantes do tal Gabinete do Ódio justamente Jessely Duarte e Manuela Melo, as mesmas duas assessoras do gabinete de Cavalcante que incluem a denúncia da apuração tocada paralelamente pela Procap no Ceará. Sem aparente relação inicial alguma, as duas investigações acabam se complementando.
Outro lado
Procurado à época do pedido da Procap, Delegado Cavalcante disse jamais ter gastado "um centavo sequer" da Assembleia em prol da criação do Aliança pelo Brasil. O deputado também afirma que seus assessores fazem militância política "espontânea", sem qualquer financiamento público e fora do horário de trabalho. "Esse pessoal trabalha 24 horas por dia, mas nunca teve relação nenhuma com a Assembleia, nunca foi investido um centavo de dinheiro da Assembleia em nada de partido", diz o deputado, que afirma ser alvo de perseguição política por ser aliado de Bolsonaro no Ceará.
Já sobre o depoimento de Heitor Freire, Cavalcante negou irregularidades e prometeu acionar o acusador na Justiça. "Ele (Heitor Freire) vai levar tanto processo agora para ele criar vergonha. (...) Ele vai ver o que é bom pra tosse". Sobre mensagens que mostrariam ele atacando o ministro Dias Toffoli, Cavalcante disse que seriam "montagens".