O candidato do PPL à Prefeitura de Fortaleza, André Ramos, foi entrevistado ontem na série A Hora da Verdade e disse ser contra a eleição direta de diretores e coordenadores de escolas públicas. O candidato defende que ele mesmo, caso eleito prefeito, deverá ser o responsável por indicar os nomes dos profissionais que irão dirigir a rede municipal de ensino de Fortaleza.
Confrontado sobre a possibilidade de o método se assemelhar ao clientelismo, o candidato defendeu que terá critérios baseados no Plano de Cargos e Carreiras da categoria para indicar os docentes que ocupariam as vagas. Ao mesmo tempo, admite que poderá ter a interferência de vereadores na indicação dos nomes. “Só acho que não deve ser feito da forma como é feito hoje. Tão esdrúxula, tão sem critério algum”, disparou, referindo-se ao atual método utilizado para seleção de diretores e coordenadores de escolas da rede municipal. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
Ruy Lima - Por que criar mais um partido em um país onde os partidos não têm nenhuma identidade ideológica, ficam recitando a mesma ladainha sobre a cidade? Por que em vez de o senhor criar um novo partido não foi criar esse discurso em um partido já existente?André Ramos - Primeiro, porque nós não encontramos nos atuais partidos aquele que colocasse como prioridade as questões que o Partido Pátria Livre (PPL) está colocando. E nós do PPL não achamos que essa pluralidade de partidos seja ruim para a nossa democracia. Pelo contrário.
Demitri Túlio - No site do senhor, diz que o PPL surgiu para completar a libertação do Brasil, dando sequência à luta de Getúlio Vargas e Tiradentes. Não acha uma contradição esse partido estar defendendo o Getúlio Vargas? Um cara que foi ditador, que promoveu torturas na época em que governou o País?André - O momento histórico exige o que os governantes fazem. O Getúlio Vargas foi importante para trazer o processo democrático pro País. Ele furou um esquema. Com a industrialização, Getúlio Vargas levou o País para uma outra condição. A base do que é o País hoje está no Getúlio Vargas. Mas houve vários momentos históricos, no Período do Estado Novo, no período ditatorial... era fruto de uma conjuntura que obrigou o Getúlio a tomar essas medidas.
Plínio Bortolotti - Foi inclusive nesse período que ele era simpatizante do Nazismo e entregou uma miilitante de Esquerda, Olga Benário, aos carrascos nazistas e ela foi morta na prisão.André - É difícil, depois de tanto tempo, julgar. Mas, na época, existiram relações diplomáticas e não era dado qual era a situação do nazismo na Europa aqui no Brasil. Então, no tempo de hoje é fácil criticar o Getúlio.
Ruy - Em um debate recente, o senhor fez uma conclamação para que a população não permitisse que os meios de comunicação decidissem as eleições. Qual é o papel que o senhor acha que os meios de comunicação têm exercido nessas eleições?André - A crítica que fiz foi com relação à divulgação das pesquisas. Eu creio que a pesquisa deve orientar a campanha, para que os partidos sintam como está. Mas, a partir do momento em que você divulga as pesquisas, ela tem o papel de conduzir o eleitor a determinada situação que acaba diminuindo um pouco o debate da nossa eleição, que está sendo uma das mais disputadas do nosso município.
Plínio - Qual a sua relação com a cidade de Fortaleza?André - Eu sou morador da cidade, trabalho aqui. Moro aqui desde 2007.
Plínio - O senhor trabalha em quê?André - Trabalhei na Prefeitura de Fortaleza e atualmente trabalho prestando consultoria a algumas entidades, na formulação de projetos, captação de recursos.
Plínio - Que entidades?André - Atualmente, trablaho para a Unifort (União Estudantil de Fortaleza) e para uma associação de moradores do (bairro) Presidente Kennedy.
Demitri - Quem banca o PPL aqui no Ceará?André - Os filiados. Temos um recurso muito pequeno do fundo partidário. Por mês, a gente recebe R$ 1.500 do fundo nacional partidário. Mas temos mais recursos porque todos os nossos filiados têm uma contribuição regular de 2% do seu salário. Isso também gera renda ao partido. Mas é uma renda pequena. A gente tem conseguido manter aluguel de sede, materiais, as coisas básicas para funcionamento do partido, mas ainda precisamos de muito mais recursos.
Demitri - O senhor bate a porta de quem para buscar recursos e pagar as dívidas de campanha?André - A gente tem batido a porta de empresários em busca de apoio. Alguns estão em situação de conversa, mas até o momento nós só temos conseguido recursos de militantes, de alguns profissionais com uma condição um pouco melhor do que o conjunto da militância, e tem um advogado que fez uma doação ao partido tirando do seu salário. É dessa forma que a gente tem conseguido conduzir a candidatura até aqui.
Ruy - O senhor é a favor do casamento de pessoas do mesmo sexo?André - Sou a favor. Mas casamento já não compete à Prefeitura.
Demitri - Caso o senhor seja eleito, o senhor quer decidir quem vai ser diretor e coordenador de escola pública? O senhor não é a favor da eleição direta?André - Não, não sou a favor da eleição direta. Eu quero influenciar na escolha do diretor. Eu quero fazer uma escolha pessoal. Estou apresentando um projeto para os eleitores. Creio que se os eleitores confiarem à minha pessoa e ao meu partido esse projeto, eu quero trabalhar com pessoas que estejam comprometidas com esse projeto. E acredito que o diretor é um cargo de confiança. Mas não necessariamente você precisa escolher sem critério algum.
Demitri - Na escolha que é feita no Estado, o candidato passa por uma seleção, depois passa por um conselho dentro da comunidade. Há todo um processo antes de chegar lá. Então, nesse esquema que o senhor sugere, a gente pode até pensar em clientelismo. Só vai o pessoal da confiança do prefeito, vai haver ingerência de vereador?André - Pode até haver. Acho que nunca vai deixar de existir a ingerência dos vereadores porque a Câmara é importante na hora de você governar. Mas acho que não deve ser feito da forma como é feito hoje. Tão esdrúxula, tão sem critério algum. Sou a favor do plano de cargos e carreiras e que, dentro de alguns funcionários que tenham condições, o prefeito possa escolher entre três ou quatro que estejam em condições de ser o diretor. Eu sou contra pegar uma pessoa que não tenha a menor experiência, que esteja do outro lado da cidade, e botar pra ser diretor de uma escola só porque o vereador indicou. Mas eu quero, enquanto prefeito, ter a possibilidade de escolher uma pessoa que tenha mais afinidade com o projeto que eu apresentei à sociedade.
Demitri - Mas é exatamente isso que tem acontecido dentro da Prefeitura hoje.André - Não, o que vem ocorrendo hoje é que, por pressão dos vereadores, são escolhidos diretores que não tem a menor relação com aquele ambiente.
Magela Lima - Quantos vereadores o seu partido cogita fazer nessa eleição?André - O nosso partido tem 50 candidatos a vereadores. Nós cogitamos fazer dois candidatos pelo PPL. Agora que aumentaram duas cadeiras, nós queremos pegá-las.
Plínio - O senhor não declarou nenhum bem ao Tribunal Superior Eleitoral. Por que o senhor não entregou a declaração de renda?André - Eu entreguei. Mas eu não tenho bens, infelizmente. Quem
ENTENDA A NOTÍCIA
André Ramos candidatou-se à Prefeitura de Fortaleza pelo PPL, partido que ele mesmo fundou em Fortaleza. O candidato é natural do Rio Grande do Norte e vive em Fortaleza desde 2007. Mediador Ruy Lima trabalha na TV O Povo há cinco anos, onde comanda o Grande Debate e o programa Memória Viva. Na rádio O Povo/CBN apresenta o programa Debates do Povo. Foi repórter e diretor de jornalismo da TV Manchete e da TV Jangadeiro, em Fortaleza. Foi chefe de redação e editor do Jornal Nacional da Rede Globo, no Rio de Janeiro. Em política, participou como repórter da cobertura da queda das ditaduras no Chile, no Paraguai, no Uruguai, na Argentina e no Brasil. Entrevistadores
Magela Lima, 31 anos, é natural de Várzea Alegre, mas deixou o Interior pela Capital ainda pequeno. Desde 1994, vive as alegrias e dificuldades de Fortaleza. É jornalista formado pela Universidade Federal do Ceará e mestre em teatro pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. No O POVO desde 2009, é editor-executivo do Núcleo de Cultura e Entretenimento, onde mantém coluna quinzenal com crítica de espetáculos; e ainda articulista de Opinião.
Plínio Bortolotti, diretor Institucional do Grupo de Comunicação O POVO, entrou no jornal como repórter e também atuou como editor e ombudsman por três mandatos (2005/2007). Foi diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo entre os anos 2008 e 2011. Coordena o Conselho de Leitores do jornal e integra seu Conselho Editorial. Começou na editoria de Esportes. Foi repórter de Política e Economia, editora de Vida & Arte, editora de Ceará e editora-adjunta de Cidades, hoje Cotidiano. Por cinco anos, escreveu a coluna Ceará, sobre questões de costumes do Interior.
Demitri Túlio é atualmente editor, colunista (Das Antigas) e repórter especial do O POVO. Na época em que Moroni Torgan foi vice-governador de Tasso Jereissati, entre 1995-1998, o jornalista atuou como repórter de Cidades e, depois, chefe de reportagem do jornal onde trabalha há 16 anos.
Bastidores
O candidato André Ramos chegou para participar da entrevista quando faltavam cinco minutos para o programa entrar no ar pela Rádio O POVO-CBN. Ele estava acompanhado de seu assessor de imprensa, Jailson Silva.
No segundo intervalo, André Ramos disse que encontrou-se com o candidato Roberto Claudio, no dia anterior, e o adversário teria alertado: “É você quem vai participar da entrevista amanhã no O POVO? Se prepare. Eu estudei bastante, mas não foi nem metade do que os caras do jornal descobriram”. Próximo candidato Seguindo a ordem da última pesquisa O POVO/Datafolha, o próximo candidato a prefeito a ser entrevistado será professor Valdeci Cunha (PRTB).
O candidato será sabatinado por uma hora pelos jornalistas Guálter George, editor-executivo do núcleo de Conjuntura, Henrique Araújo , editor-adjunto de Cotidiano, e Kamila Fernandes, editora-adjunta de Economia. Multimídia
Confira a íntegra da entrevista no portal O POVO Online, em www.opovo.com.br
O projeto “A Hora da Verdade” é transmitido pela rádio O POVO/CBN AM 1010 e portal O POVO Online
Ouvintes podem participar, enviando perguntas pelo telefone (085) 3066.4030 )
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Confira o Documento Debate em http://bit.ly/RH5M2E