Após a volta dos atentados de facções criminosas a municípios cearenses, o Governo do Estado tem adotado uma postura de endurecimento contra as ações dos grupos criminosos, com foco em ostensividade e discurso sobre não recuar “um milímetro sequer” frente às investidas. Como resultado disso, têm surgido, nos últimos dias, diversas manifestações de apoio a essa postura por parte não só da base do governador Camilo Santana (PT), como também da oposição a ele, em grande parte identificada com as forças de segurança. É o caso de nomes célebres do Pros, por exemplo, como o deputado federal Capitão Wagner e o deputado estadual Vitor Valim, ambos tendo exaltado a atuação do governo na última semana.
Em meio a isso, o único parlamentar que tem adotado em seu discurso um tom mais crítico do que elogioso é o deputado estadual Renato Roseno (Psol), único de seu partido com cargo eletivo no Ceará. Na primeira sessão plenária da Assembleia Legislativa (AL) após o início dos ataques, ele, em vez de destacar positivamente a atuação do governo, criticou a política de segurança pública adotada no Estado. “O fechamento de 96 cadeias causou uma superlotação no sistema prisional, que era já lotado. É preciso, por exemplo, combater a hiperlotação”, defendeu.
Ele pontuou, na mesma ocasião, que é favorável ao disciplinamento no sistema carcerário, mas não à tortura. “Hoje o Ceará conta com mais ou menos 29 mil internos. É preciso acelerar os julgamentos, já que muitos nem julgados foram; garantir os direitos essenciais, como a visita da família, além de outras ações de humanização e ressocialização”, afirmou.
Terrorismo
Mais recentemente, Camilo declarou ser a favor de um endurecimento da Lei Antiterrorismo, de modo a enquadrar nela os ataques das facções. Roseno rebateu: “Quando o governador cita a criação de uma lei como esta, ele erra tecnicamente e politicamente. Primeiro porque no país já há tipificações penais para todos estes crimes, e segundo porque ele está contrariando posicionamento do seu próprio partido sobre o tema.”
O deputado ainda afirmou que os indicadores de violência letal estão concentrados no Norte e Nordeste porque houve uma migração do Sul e Sudeste e, por isso, a fala do governador é “um depoimento equivocado e perigoso”.
Segundo o parlamentar, “quando o governo faz esse apelo, ele entra numa seara de populismo penal, jogando a decisão para a população que clama por soluções imediatas contra o crime organizado”.
Segundo ele, para acabar com a problemática é necessário “políticas públicas que passam pela valorização, inteligência e formação do policial civil do Estado, prevenção e urbanismo social”.
Na mesma ocasião, sem tocar no assunto da Lei Antiterrorismo, o deputado estadual Tony Brito (Pros) ecoou a preocupação manifestada por Roseno sobre a valorização de investigação e inteligência nas polícias. “Precisamos regularizar a questão salarial dos policias, que recebem o penúltimo pior salário do país, deixando-os assim, desmotivados para suas funções”, pontuou.