Ontem, foi publicado o restante da pesquisa O POVO/Datafolha sobre o grau demonstrado pelos entrevistados em relação a várias instituições (do Estado e da sociedade civil), no Ceará. No item política, não houve praticamente surpresas quanto ao seu desprestígio. A desconfiança envolve a Câmara Municipal e a Assembleia, bem como o Executivo - municipal e estadual. Só a Presidência da República é mais bem avaliada, talvez, por prestígio pessoal do governante. Fora da área política, as instituições com maiores créditos são a Igreja Católica, as Forças Armadas e a imprensa, em ordem decrescente. Em relação às polícias, no Ceará, a Federal tem mais crédito do que a Civil e a Militar.
Pode-se dizer que, quanto mais distanciada do dia a dia das pessoas mais credibilidade existe. Talvez, como decorrência da falta de oportunidade de a relação ser testada no cotidiano. Assim, a instância municipal (prefeitura e câmara) é a que sofre mais desgaste, seguida pelo Governo estadual e pela Assembleia e, por último, a instância federal. Das demais instituições, a exceção é a Igreja Católica, que tem relação direta com a comunidade e mesmo assim mantém a credibilidade. Quanto às Forças Armadas, sua interferência no dia a dia é mínima e assim pode melhor se preservar. Ou seja, a pesquisa confirma o mesmo padrão já registrado antes.
O desprestígio da política não é exclusividade cearense, nem brasileira: na maior parte do mundo o quadro não é muito diferente. Existe uma crise da representação. Por que é assim? Especialistas debitam o fato ao formalismo da democracia representativa, que não oferece ao cidadão instrumentos de intervenção na coisa pública, fora o ato de votar. Além disso, o exercício da representação tornou-se uma profissão, perdendo a natureza de serviço cívico. O cidadão percebe a preponderância do poder econômico (que leva à corrupção) sobre o poder político e que o próprio estado nacional vive condicionado pelos grandes interesses do mercado global.
Dessa forma, tornar participativa a democracia passa a ser uma necessidade vital para a sobrevivência do próprio regime democrático e a recuperação do fazer político.