O Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência da Assembleia Legislativa iniciou, ontem, a formação de profissionais da área da saúde e da assistência social com foco na prevenção de homicídios na adolescência; a sensibilização para a segunda década de vida; e o trabalho com adolescentes vulneráveis aos crimes contra a vida.
O curso começou, promovido no edifício da Escola Superior do Parlamento Cearense (Unipace), segue até o dia 26 deste mês.
O deputado Renato Roseno (Psol), relator do comitê, participou da aula inaugural e comunicou aos participantes as ações do colegiado e suas diretrizes. Ou seja: descobrir porque se mata tantos adolescentes no Ceará, fazer recomendações e mobilizar a sociedade. Ele explicou que o trabalho de prevenção da violência começa no âmbito municipal, daí a necessidade de valorizar e investir no servidor público municipal.
Roseno explicou que a ideia do curso surgiu a partir de uma parceria entre o Instituto Oca, a Universidade Estadual do Ceará (Uece) e a Open Society Foundation. Isso após a entidade ter realizado um levantamento, no ano passado, apontando que um terço dos homicídios de adolescentes do mundo estão concentrados em oito países da América Latina, com o Brasil sendo responsável de 10% do mundo todo.
“Nosso objetivo aqui é sensibilizar os trabalhadores quanto à segunda década de vida. Não costumamos pensar muito nesse período, mas muito acontece na formação do indivíduo nesse período, como a entrada na adolescência, os conflitos de gerações, o gregarismo, e muitas outras variáveis que acabam envolvendo os jovens nos ambientes de violência”, disse.
O parlamentar salientou ainda que a iniciativa visa a sensibilização de 1.000 agentes públicos atuantes na política de saúde e assistência social de Fortaleza, pela prevenção de homicídios, além de fortalecer a implementação de um protocolo de atenção e proteção intersetorial a famílias de adolescentes vítimas de homicídios.
Foco
O objetivo, segundo a palestrante e professora de psicologia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Luciana Quixadá, é desconstruir estigmas e estereótipos criados a respeito da infância e da juventude nas comunidades da periferia.
De acordo com Luciana, a formação tem uma função social muito importante. Ela explica que o módulo “Políticas Públicas para a Segunda Década de Vida” visa estimular o pensamento crítico sobre esse tema por parte dos profissionais de saúde. “Queremos desconstruir esses estereótipos e buscar produzir uma nova cadeia de significantes sobre infância e juventude, principalmente nas periferias.
A enfermeira Sâmia Oliveira de Menezes, assessora técnica da Célula de Atenção Primária da Secretaria Municipal de Saúde, também percebe a iniciativa como essencial para trabalhar o apoio dado a famílias vítimas de violência.
Nas comunidades, conforme observou, todo mundo tem contato com alguma forma de violência. “Como profissionais da saúde e da assistência, temos contato diariamente com essas pessoas, então a importância dessa formação ocorre na medida que ela nos instrumentaliza para lidarmos melhor com esse tipo de situação. Algo que só contribui para nosso crescimento profissional”, assinalou.
Aulas
As aulas serão ministradas por membros do Instituto Oca e do próprio comitê. O curso terá duração de dois meses, com a formação de 500 profissionais no primeiro mês e de outros 500 no segundo mês. Serão 20h, no total, sendo 16h de aulas teóricas e quatro práticas.
A formação fornecerá ainda um guia de orientações para os participantes, como estratégia de prevenção terciária aos homicídios, contemplando recomendação do relatório “Cada Vida Importa”, de 2016, feito a partir de pesquisa do CCPHA. As Secretarias Municipais da Saúde (SMS) e dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS) também são parceiras da iniciativa.