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Coluna Carlos Mazza - QR Code Friendly
Quinta, 30 Mai 2019 04:43

Coluna Carlos Mazza

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Desde que Jair Bolsonaro (PSL) tomou posse como presidente da República, o governador Camilo Santana (PT) tem se esforçado por manter relação diplomática com o novo ocupante do Planalto. Nos últimos cinco meses, trocou afagos com ministros em palanques e não poupou elogios para ações onde o apoio mútuo prevaleceu, como na pronta resposta do ministro Sergio Moro (Justiça) durante crise da segurança cearense em janeiro. Natural até pela dependência do governo estadual de recursos da União, a relação amistosa entre palácios da Abolição e do Planalto, no entanto, parece ter esfriado nos últimos dias.   Quem sinaliza a degradação do diálogo entre Fortaleza e Brasília é a própria base aliada de Camilo, que, desde ontem, resolveu subir o tom contra o governo federal na Assembleia. "O presidente Bolsonaro está, até o presente momento, boicotando o Estado do Ceará. Foram os quatro piores meses de investimento no nosso Estado e de falta de repasses de um governo federal", disse o deputado Leonardo Araújo (MDB), abrindo uma sessão de ataques ao Planalto na Casa. Outros parlamentares influentes da base, como Marcos Sobreira (PDT), também afirmaram que o governo federal teria cortado investimentos no Estado.   Vice-líder do governo na Casa, Walter Cavalcante (PP) chegou até a fazer apelo à base de Bolsonaro por uma reunião entre o presidente e os deputados estaduais cearenses. O bolsonarista André Fernandes (PSL), por sua vez, rebate: "O Bolsonaro fez reunião sobre o Nordeste, e mais da metade da bancada cearense não compareceu. O Bolsonaro convocou, mas nenhum do PT e do PDT estavam presentes. Esses mesmos agora cobram relação com a Presidência", diz. Mesmo assim, Fernandes prometeu articular a tal reunião. "Tentarei marcar audiência com os deputados estaduais, é um compromisso nosso".   A estratégia de compartilhar responsabilidades não é nenhuma novidade para Camilo: durante todo o primeiro mandato, foram vários os momentos em que o governador cobrou maior participação do então presidente Michel Temer (MDB) no combate à violência no Estado. Quando foi disputar a reeleição em 2018, o petista já tinha "discurso pronto" para rebater ataques da oposição sobre o tema, lembrando das constantes reclamações que fez durante a gestão. Quando o fluxo de repasses do Planalto diminuía na era Temer, Camilo também fazia questão de deixar claro para o eleitorado a responsabilidade do presidente no aperto de contas.   Agora, a estratégia volta no momento em que o governo anuncia um arrocho nos cofres públicos. Vale lembrar ainda que a subida de tom ocorre dois dias após reunião entre os deputados e o governador Camilo Santana no Palácio da Abolição. Teria sido desenhada durante a conversa?   Mauro e Guedes   O que é curioso é que, guardadas as devidas proporções, claro, receituário dos coordenadores das políticas econômicas de Camilo e de Bolsonaro é bem parecido. Diante da situação negativa nas contas públicas, tanto Paulo Guedes (ministro da Economia) quanto Mauro Filho (secretário do Planejamento) ordenaram cortes expressivos de custeio, congelamento de reajustes e suspensão de concursos públicos. Caso a reforma da Previdência vingue no Congresso, as mudanças devem ser quase que instantaneamente replicadas no campo estadual. A diferença aqui é, essencialmente, no trato com a comunicação. Enquanto Mauro sentou, abriu as contas e frisou bem o caráter temporário dos cortes, ministros de Bolsonaro passaram à frente de Guedes para falar em "balbúrdia" e "gente pelada". Deu no que deu.   Outra diferença fundamental foi que, ao contrário das gestões que antecederam Bolsonaro no Planalto, o governo estadual vem se preparando e lidando com os maus ventos da economia há anos. Mesmo que existam todas as críticas para outros setores do governo, é difícil deixar de reconhecer a eficiência das gestões ligadas ao clã Ferreira Gomes na área fiscal. Até por isso, o Estado consegue pagar credores e funcionários em dia e retém até certa capacidade de endividamento - coisa que parece pouca, mas anda bem rara no Brasil. Com o descontrole muito menor, o Estado pode se dar ao luxo de maneirar nos cortes.       CARLOS MAZZA
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