Eudoro Santana, pai de Camilo, foi torturado em 1974
(Foto: DEIVYSON TEIXEIRA 15/4/2014)
Ficou comum nos últimos anos a crítica a governos do Partido dos Trabalhadores (PT) que acusa os petistas de tentarem "impor" uma "ideologia de esquerda" onde administram. A tese pode até colar nos governos federais de Lula e Dilma Rousseff, ou até em um outro estado petista, mas está longe da verossimilhança na gestão Camilo Santana (PT). Nas últimas semanas, quando o Brasil rachou em torno do pedido de Jair Bolsonaro (PSL) para que o Exército comemorasse os 55 anos do golpe de 1964, muitos integrantes da base aliada do governador passaram para o lado bolsonarista em defesa do regime na Assembleia.
Enquanto o próprio Camilo exaltou nas redes lei do Estado que proíbe homenagens à ditadura, aliados dele se manifestavam no parlamento celebrando o regime. Por ironia, alguns opositores do petista, como Vitor Valim (Pros) e Renato Roseno (do Psol, autor da lei destacada pelo governador), acabaram do outro lado, criticando os governos autoritários. Vá entender.
Um dos mais fervorosos do regime na Casa é Manoel Duca (PDT). Voz sempre atuante na defesa do governo militar, Duquinha subiu de novo à tribuna da Assembleia na última semana para exaltar a "revolução" de 1964. "Foi uma época em que tudo funcionou no Brasil, em que o povo podia andar na rua sem medo de assaltos e das mazelas de hoje", disse. Questionado sobre as centenas de casos de prisões arbitrárias, torturas e execuções documentadas durante o período, minimizou: "Que revolução não tem sacrifício?". Vale lembrar que o deputado é do PDT, partido de Cid e Ciro Gomes.
Outra apoiadora aberta do golpe militar na Casa é Dra. Silvana (PR), que destaca o movimento como uma forma de "salvar" o Brasil do comunismo. "O que acontecia naquela época era uma anarquia e partíamos para uma ditadura comunista. Temos o que comemorar sim, por termos tido um movimento salvador e libertador da nossa pátria", diz.
Em fevereiro de 2017, outro camilista, Lucílvio Girão (PDT), subiu à tribuna da Casa para fazer elogios ao regime militar. Ele disse ser contra a tortura e admitiu que "alguns foram até truculentos e tiraram da vida pública grandes homens", mas fez reiterados elogios à ditadura. "Na época de hoje há uma democracia que não aceito, de corrupção, de roubo (...) na década de 1970 e 1980, os pais de família de Fortaleza sentavam à noite na calçada com os vizinhos; hoje isso se acabou, porque senão é assaltado", diz.
Hoje de licença médica na Casa, Fernando Hugo (SD) é outro aliado do governador que sempre pede palavra para questionar ataques aos governos militares. Em uma das vezes, próximo da eleição de 2014, Hugo destacou que João Goulart, presidente democraticamente eleito deposto pelo golpe de 1964, não tinha "capacidade sequer para comandar o País". Já João Jaime (DEM), que se refere ao movimento como "revolução de 1964", diz não concordar com regimes que utilizem da tortura, mas aponta que PT e PCdoB apoiam "todos os regimes totalitários existentes, como da Coreia do Norte, Venezuela, China".
FORTALEZA, CE, BRASIL, 15-04-2014: Eudoro Santana, Presidente do Instituto de Planejamento de Fortaleza (IPLANFOR). (Foto: Deivyson Teixeira/O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 15-04-2014: Eudoro Santana, Presidente do Instituto de Planejamento de Fortaleza (IPLANFOR). (Foto: Deivyson Teixeira/O POVO)
Para nunca mais esquecer
Vale lembrar que o pai de Camilo, Eudoro Santana, foi preso e torturado pelo regime militar em 1974. O próprio governador narrou, logo após a confirmação da vitória no 2º turno da eleição de 2014, o drama da família Santana após o pai ser buscado para um depoimento pela polícia e, sem explicações ou chance de defesa, passar mais de um mês desaparecido. Na época, Eudoro era dono de uma fábrica de cerâmicas e foi acusado de empregar "subversivos" e integrar movimentos guerrilheiros que nunca existiram.
O próprio Eudoro narra: "Fui sequestrado da minha casa, encapuzado, preso e levado para Recife, sem que a minha família soubesse. Fui acusado de pertencer a uma organização revolucionária que planejava iniciar um movimento guerrilheiro em cima da Chapada do Araripe. Durante 30 dias permaneci preso, desaparecido e profundamente torturado na tentativa que eu confirmasse o projeto da guerrilha". É de se perguntar: Como alguém consegue exaltar esse tipo de coisa?