Terceiro colocado na disputa pela Presidência em 2018, Ciro Gomes (PDT) admitiu ontem ter mantido diálogo com o senador Tasso Jereissati (PSDB). Segundo o pedetista, o tucano o convidou para um café cerca de duas semanas atrás.
"Já me emocionei a partir da hora do convite. Cheguei lá e encontrei um velho amigo", disse à rádio Tribuna Bandnews FM. "Tivemos uma boa conversa de avôs, mostramos as fotografias dos netos um para o outro. E eu fiquei muito feliz."
O encontro de fato aconteceu, mas ainda em dezembro do ano passado, por iniciativa de Tasso, cuja relação com Ciro se distendeu com a ajuda de um Ferreira Gomes: o também senador Cid, colega de bancada do empresário no Congresso.
Entre os temas do café entre Tasso e Ciro, porém, não estiveram somente elogios mútuos aos netos, mas avaliações preliminares sobre possíveis cenários para as eleições de 2020, conforme O POVO apurou.
Hoje, Tasso é o principal aliado no Ceará do deputado federal Capitão Wagner (Pros), que já anunciou que será candidato à sucessão do prefeito Roberto Cláudio (PDT). O parlamentar apoiou General Theophilo, então no PSDB, ao Governo do Estado no ano passado.
De acordo com fonte que falou reservadamente, Cid já vinha atuando para dissipar os desentendimentos que haviam restado na relação entre o pedetista e o tucano, que romperam em 2010 após a família de Sobral preterir Tasso em favor de Eunício Oliveira (MDB), lançado ao Senado juntamente com o candidato José Pimentel (PT).
Ambos foram eleitos, impondo ao ex-governador a sua maior derrota eleitoral, após a qual ele disse que deixaria a política para cuidar dos netos.
De lá para cá, sobraram rusgas entre os dois. Em entrevista ao Estadão em setembro de 2018, Tasso chegou a dizer que "o Ciro de hoje é muito diferente do Ciro de ontem" e que o pedetista "traçou o caminho dele, de que eu discordo".
Em seguida, afirmou que, no Ceará, Ciro estava "sendo profundamente inconsistente e incoerente com sua trajetória política", referindo-se à presença de Eunício numa aliança informal com Camilo Santana (PT) e o PDT.
A retomada do diálogo entre os dois neste momento levaria em conta o cenário político, as articulações de Wagner e as movimentações de novos atores, como a entrada em cena do empresário Geraldo Luciano, empossado como presidente estadual do Novo.
Líder do PDT na Assembleia Legislativa do Ceará, o deputado Guilherme Landim avalia com "bons olhos esse diálogo (entre Ciro e Tasso)". Para ele, todavia, não existe nada sobre entendimento mais amplo entre PDT e PSDB. "Pelo menos não agora", afirmou.
Segundo o deputado, é natural que o senador tenha procurado Ciro num momento de debate sobre a reforma da Previdência. "Ele é uma pessoa que tem que ser escutada", disse.
Não foi a mesma reação da também deputada estadual Fernanda Pessoa, do PSDB. Questionada sobre como analisa essa conversa, respondeu: "Fui tomada de surpresa". A parlamentar acrescentou que havia estado com Tasso há alguns dias e que não chegaram a tratar do assunto. "Vamos aguardar ou tentar falar com ele depois", finalizou.
HENRIQUE ARAÚJO