Até o fim desta semana, a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) deve começar a deixar o Estado, anunciou ontem o secretário nacional de segurança pública, General Guilherme Theophilo. Atuando no Ceará desde 5 de janeiro, a tropa tinha como previsão inicial de permanência 30 dias. O anúncio gera desencontro com as expectativas do governador Camilo Santana (PT) e do secretário da Segurança Pública e Defesa Social, André Costa.
Em entrevista durante a abertura oficial dos trabalhos na Assembleia Legislativa, na manhã de ontem, o governador chegou a afirmar que "a informação não oficial que foi dada é que a Força Nacional irá ser estendida, apesar de que o ministro (Moro, da Justiça) acha que a situação já foi resolvida no Ceará".
Em nota, mais tarde, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) afirmou que as tratativas para a prorrogação "seguem em andamento". Na última segunda-feira, André Costa havia se reunido com o General Theophilo para debater a necessidade de permanência da Força Nacional. "Sequer foi ventilada qualquer possibilidade de retirada das tropas", afirmou o secretário ontem, também na Assembleia. "Para nós, e é uma análise de toda a nossa inteligência, não é o momento ainda de fazer nenhuma desmobilização. Inclusive, as próprias forças de segurança não têm desmobilizado em nada o seu efetivo".
Nessa terça-feira, 5, em Brasília (DF), o General Theophilo apresentou um balanço da operação da Força Nacional no Estado. Durante a fala, destacando ainda que outros estados já pediam o reforço, ele apontou o arrefecimento dos ataques para justificar a retirada dos agentes. "A partir do dia 4, 5 de janeiro começaram a declinar até chegar, no dia 30, 31 do mês passado, a zero ataques. O que nós temos ainda hoje acontecendo, uma ou outra queima de viaturas, de ônibus, já não são mais ataques de terrorismo, como estávamos qualificando. São mais oportunistas aproveitando o clima de terror estabelecido", afirmou.
Desde 2 de janeiro, mais de 200 ataques, em diversos municípios, foram registrados. No cinco primeiros dias de atentados, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) registrou 143 ações criminosas. Na madrugada da última segunda-feira, 4, um caminhão foi incendiado no bairro Álvaro Weyne. Antes, em 29 de janeiro, um ônibus havia sido incendiado no bairro Jangurussu. Ambos na Capital.
"Por questões de segurança", Theophilo não informou detalhes sobre o planejamento de desmobilização. Ressaltou apenas que a retirada seria progressiva. Questionado se a saída da Força Nacional pode fazer aumentar a onda de ataques, ele disse acreditar que isso não ocorreria, citando as medidas tomadas pelo Governo do Estado para combater a crise — como a convocação de policiais militares da reserva e o pagamento de horas extras. "Também deixamos um legado de equipamentos, armamentos, equipamentos de inteligência que vão permanecer no Ceará para que possam manter, com os recursos que têm, a segurança no Estado".
De acordo com ele, a prioridade agora é o reforço de agentes penitenciários para atuação nos presídios. Cinquenta e cinco agentes penitenciários de outros estados já atuam no Ceará e devem ficar até o fim deste mês. O Governo tem a expectativa de que mais 90 venham, com deslocamento, estadia e diárias custeados pelos ministério. "Mandando mais 90 agentes vai me ajudar bastante, por mais 90 dias", afirmou, também na Assembleia, o secretário da Administração Penitenciária, Mauro Albuquerque.
No início da noite de ontem, no entanto, o ministério negou em nota o envio de mais agentes ao Ceará, contrariando a declaração de Theophilo. (Colaboraram Igor Cavalcante e Carlos Holanda)