Com a eleição e a posse de Jair Bolsonaro (PSL) e as consequências que se seguem a essa mudança no cenário político, os demais atores acabam tendo que se adequar e tomar novas posições. O PSDB, antes um dos partidos de maior expressão a nível nacional, hoje enfraquecido após 2018, mantém posicionamento ambíguo frente ao novo governo – inclusive no Ceará.
Segundo conta o deputado estadual Carlos Matos (PSDB), o partido ainda não tomou posição sobre como se comportará frente ao governo de Bolsonaro, devido a discordâncias internas. “O partido está rachado, tem um grupo que acha que o partido deveria apoiar incondicionalmente o governo e outro grupo que acha que o PSDB deveria apoiar apenas as agendas que são convergentes com o pensamento do partido”, explica.
Ele conta que o PSDB tem adiado uma discussão entre seus principais líderes, que inicialmente ocorreria em outubro, depois passou para novembro, para dezembro e a perspectiva, agora, é de que ocorre este mês ou no próximo. Com esse encontro, conta ele, a expectativa é de que a posição do partido ficará mais clara.
O parlamentar, no entanto, não deixa de salientar a polarização política vivida no País desde o período eleitoral – fazendo referência, em parte, ao eleitorado do novo presidente. “O Brasil foi para extremos, agora temos extrema-esquerda e extrema-direita, e o brasileiro é mais equilibrado, ele busca uma postura de centro. Mas, mesmo com uma postura de centro, é preciso ser uma postura com firmeza”, avalia.
A deputada estadual Fernanda Pessoa – única tucana que conseguiu a reeleição na Assembleia Legislativa do Estado em 2018 – mostra-se confiante no bom desempenho da gestão de Bolsonaro. “A equipe que o presidente está formando se apresenta com um perfil bastante competente. Mas é importante esperarmos o seu desempenho. Um time ganha o jogo, mas o técnico o campeonato”, disse ela à reportagem.
O ex-governador Lúcio Alcântara, perguntado sobre o assunto, limitou-se a declarar que não tem informações a divulgar sobre isso.
PSL
O presidente do PSL – partido de Jair Bolsonaro – no Ceará, o deputado federal eleito Heitor Freire, afasta qualquer associação entre as duas legendas no Estado. “Não temos nenhuma relação com o PSDB”, reitera.
Sobre uma aproximação de ex-tucanos do Ceará com o novo governo, a exemplo do general Guilherme Theophilo e da médica Mayra Pinheiro, que aceitaram cargos em ministérios de Bolsonaro, Freire considera que trata-se de bons nomes que estavam no partido errado. “Acho que foi um erro terem ido para o PSDB na época, não são mais e isso não anula o currículo deles, eles têm currículos invejáveis e capacidade”, pontua.
Ele sublinha, ainda, que os dois se desfiliaram do partido antes de irem integrar o novo governo. “O General Theophilo mesmo já se posicionou que se decepcionou com o PSDB e de forma voluntária saiu, rasgou sua filiação. O que Jair Bolsonaro tem olhado não é partido”, assegura o futuro deputado.
Theophilo, hoje, lidera a Secretaria de Segurança Pública do Ministério da Justiça, sob comando de Sérgio Moro. Já Mayra foi chamada para a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (STGES) do Ministério da Saúde. Além dos dois, o deputado tucano Danilo Forte, que não conseguiu a reeleição para a bancada do Ceará na Câmara Federal, foi selecionado para atuar como articulador do Nordeste no governo de Bolsonaro.
Reinvenção
Carlos Matos defende que, para além das questões relativas ao novo governo federal, é necessário que haja uma reinvenção profunda da legenda, para que possa se manter relevante no cenário político. “É um partido com morte anunciada, se não for tomada uma medida grave e séria. Nós éramos um partido reconhecido pela seriedade, pela honradez, e não dá para defender Aécio Neves, um monte de nomes que se envolveram na corrupção e, com respeito ao partido, deveriam ter perdido afastamento. Não tendo pedido, era necessário que o partido tivesse afastado e não fez, e assim ficou interpretado como mais um partido que se misturou, que misturou o que é público e privado.”
Nacional
No cenário nacional, a divisão dentro do partido se percebe em nomes específicos, com o governador paulista João Dória destacando-se como uma das principais lideranças que apoiam o novo presidente. Enquanto isso, nomes como Geraldo Alckmin e o cearense Tasso Jereissati já vieram a público para criticar Bolsonaro e sinalizar uma oposição de centro ao novo governo.
Tasso, no entanto, também já ensaiou alguma aproximação com o novo governo, em meio às articulações pela presidência do Senado Federal. O PSL, com intenção de se opor à eleição de Renan Calheiros (MDB), teria se prontificado para apoiar a candidatura do cearense. Na última semana, no entanto, o partido lançou o nome de Major Olímpio para a disputa, o que deve minar a aliança com Tasso.