Um governo mais Camilo
A ida de Zezinho Albuquerque para a Secretaria das Cidades abre espaço para Camilo Santana (PT) tentar dar um toque mais pessoal à política do Ceará. Na Assembleia Legislativa, Zezinho não criou dificuldade para o governador e ajudou a resolver alguns problemas. Porém, ele é articulador dos Ferreira Gomes. Chegou a disputar com Camilo pela indicação para concorrer ao governo, em 2014. A depender do rumo que tome a sucessão na Assembleia, talvez o governador emplaque alguém mais ligado a ele.
Será assim caso a escolha recaia sobre Evandro Leitão. Ele é o favorito do núcleo camilista. As outras opções no momento são Tin Gomes e José Sarto. Todos do PDT, mas os dois últimos são, como Zezinho, mais próximos aos Ferreira Gomes que a Camilo. Tin, sobretudo, está na briga. Conseguirá Camilo emplacar alguém mais ao seu feitio ou irá prevalecer a influência Ferreira Gomes?
Vale destacar: Camilo já deu seu toque pessoal em outra área crucial: a Fazenda. A pasta estava há 12 anos sob controle de Mauro Filho (PDT), outro Ferreira Gomes de carteirinha. Mauro ajudou muito Camilo. Mas nenhum governador costuma delegar a alguém que não de seu próprio grupo a chave do cofre. No primeiro governo, Camilo devia a vitória a Cid Gomes (PDT) e não tinha força para se impor. Agora é diferente.
Máquina de votos
Zezinho Albuquerque comandará na Secretaria das Cidades a pasta com ações mais pulverizadas nos municípios, com mais recurso para obras. Para um político de mão cheia e repleto de contatos no Interior, o potencial a extrair é grande. A pasta das Cidades é máquina de votos em potencial. Vale lembrar, foi de lá que Camilo saiu para virar governador.
Sucesso ou fracasso: veredito de Bolsonaro já está dado
O ambiente exacerbadamente passional no qual desembocou a política brasileira conduziu a situação curiosa. Jair Bolsonaro (PSL) tomou posse ontem e parcela bastante significativa de brasileiros já tem pronta sua avaliação sobre o governo. Para quem apoia, o sucesso já está dado. Terá de errar muito, demais, para que seus apoiadores mais apaixonados admitam insucesso. Da mesmo modo, os críticos não darão braço a torcer independentemente do que faça Bolsonaro.
Pode parecer que foi sempre assim. Nem tanto. Quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse, em 2003, havia sinais de boa vontade de adversários. E os aliados torciam, mas não tinham convicção de que daria certo. Não havia aprovação prévia, tanto que ruptura já no primeiro ano levou à fundação do Psol.
Tal nível de irracionalidade é perigoso. Significa que a capacidade de avaliação das políticas públicas está obstruído. Numa democracia, isso costuma conduzir a decisões equivocadas.
Claro, percepções a priori são da parte engajada da população. Para a maioria, pesará o reflexo da ação do governo em suas vidas.
Mas, na militância virtual, as primeiras medidas virão acompanhadas de aprovação prévia e reprovação imediata, conforme a trincheira do autor. Como debate político, uma indigência só.