Fatos que esquentam uma campanha fria
A execução de três policiais em um bar da periferia de Fortaleza, em plena luz do dia, dá medida do grau de ousadia, afronta ao qual chegou o crime. Foi um ataque direto, brutal, acintoso, intimidador aos profissionais de segurança. Ao Estado. O que ocorreu foi lastimável, uma terrível tragédia humana. Porém, há os desdobramentos políticos.
A coluna de ontem mencionou o quanto Camilo Santana (PT) dava sinais de empurrar a campanha com a barriga. Episódios como o de ontem são daqueles capazes de esquentar uma campanha. Não, não digo a ponto de abalar o favoritismo do governador para a reeleição. Uma coisa que os governantes tiram de bom dos seguidos anos de violência desmedida é que a população parece já anestesiada. Mesmo índices tão absurdos de criminalidade não parecem mais ter impacto político significativo. Porém, é inevitável que o governador fique pressionado.
O caso lembra a eleição de 2010, quando ocorreu o caso Bruce. Policial do Ronda do Quarteirão atirou na nuca de adolescente de 14 anos, numa ação desastrada e absurda. Não evitou que Cid Gomes fosse reeleito no primeiro turno, mas foi uma marca na campanha.
A execução a sangue frio registrada ontem ocorre em momento em que, depois de comer o pão que o diabo amassou, os índices de criminalidade começaram devagarinho a melhorar. O secretário André Costa, eficaz arma de Camilo para neutralizar Capitão Wagner (Pros) e reduzir a rejeição perante a tropa, não tinha se manifestado até o fechamento da coluna. Estava estranhamente calado. O próprio governador, tão assíduo nas redes sociais, foi tímido na manifestação. Limitou-se a falar do assunto em entrevista de campanha que já estava marcada na TVC. Em momentos de crise, o silêncio das autoridades não é bom sinal.
Não sei se esse episódio irá introduzir o mínimo de competitividade que a pesquisa não mostrou nessa campanha. É difícil que isso aconteça de forma significativa. A diferença é muito grande e o eleitor não escolhe com base em fatos isolados. Porém, é certo que o episódio de ontem estará no horário eleitoral que começa daqui a uma semana. Será assunto nos debates por vir, esteja presente o governador ou não.
Pode não ser decisivo, pode não mudar os rumos, mas a campanha no Ceará tem seu primeiro grande tema. Infelizmente, num assunto que tem sido tão