Deputado Roberto Mesquita, ontem, leu trechos da reportagem no plenário da Assembleia Legislativa do Ceará
"Nós fracassamos e esse é um sentimento que precisamos dividir, sem apontar o dedo, porque Governo e oposição fracassaram", concluiu o deputado Roberto Mesquita (PROS), ao discursar ontem, da tribuna da Assembleia Legislativa, sobre a atuação das facções criminosas no Estado. Tanto ele quanto a liderança do Governo na Casa assumiram um "mea culpa" diante do aumento da violência no Estado do Ceará.
O debate foi puxado pelo deputado Roberto Mesquita, destacando reportagem especial do Diário do Nordeste, na edição do último sábado, intitulada "Órfãos das guerras das facções são deixados para trás", retratando o abandono de crianças e adolescentes, nas ruas de Fortaleza, após terem perdido os pais nos conflitos entre facções criminosas, assinada pela jornalista Márcia Feitosa. Para Mesquita, vivemos em "uma cidade onde as facções dominam" e nem Governo nem oposição foram capazes de apontar saídas.
"Se o Governo, que tem a prerrogativa de implementar políticas públicas que diminuam o sofrimento das famílias, que possam dar tranquilidade às famílias, reconhece que fracassou, a oposição também reconhece, porque ela não teve a competência de sensibilizar, nem de mostrar ao Governo que nós estávamos no caminho errado. Não tivemos a competência de usar as armas do regime democrático para mostrar ao Governo o tamanho do equívoco que cometemos. Nós cavamos um buraco e pulamos todos dentro dele: Governo e oposição", considerou.
Por outro lado, Mesquita colocou em xeque o esforço do Estado em atrair negócios, como a refinaria, os centros de conexões aérea, marítima e tecnológica (HUBs), "com alguns poucos se dando bem, quando uma multidão está se multiplicando quase que de forma geométrica e nós nada estamos fazendo". "Quando matam os pais dessas crianças e adolescentes tiram deles a última chance que tinham. Não quero nessa fala fazer aqui críticas, quero que a gente possa construir juntos soluções. Precisamos discutir a saída".
Reflexão
O líder do Governo, deputado Evandro Leitão (PDT) reconheceu as fragilidades do Estado em enfrentar a criminalidade, mas ressaltou que essas "deficiências" persistem há sucessivos governos, pelo menos, nos últimos 20 anos. "Penso que se esse problema tivesse tido a prudência e cautela há 20 anos atrás, hoje, não estaríamos pagando um preço tão alto".
Evandro Leitão acredita que é preciso o Parlamento e o próprio Governo do Estado, somados à Igreja e movimentos sociais, fazerem uma reflexão sobre o que pode ser feito para que os jovens não sejam atraídos para o mundo do crime. "Talvez falte algo que nós ainda não conseguimos enquanto Estado, fazer uma intercessão de esforços. Se vê muitas políticas, mas sobrepostas, uma secretaria fazendo uma ação, onde a outra já existe".