Em busca da reeleição, deputados avaliam que políticos citados em inquéritos são julgados pelo eleitor, mesmo que sejam inocentados depois
( Foto: José Leomar )
No atual cenário de fragilização da classe política, ações do Ministério Público (MP) e da Polícia Federal (PF) autorizadas por integrantes do Poder Judiciário contra detentores de mandatos ou integrantes dos governos federal, estaduais e municipais têm gerado apreensão em muitos políticos que pretendem disputar votos no pleito deste ano, principalmente pelo fato de uma investigação já transformar o envolvido em eventuais denúncias em réu na Justiça.
Para deputados estaduais entrevistados pelo Diário do Nordeste, ações contra políticos serão determinantes para algumas postulações no pleito de outubro próximo, assim como as chamadas "fake news". Segundo disseram, ainda que seja inocentado a posteriori, o político já é julgado apenas por ser mencionado em determinados inquéritos.
Na avaliação do deputado Heitor Férrer (SD), pessoas envolvidas em escândalos, quando da divulgação de seus atos irregulares, acabam por macular toda a figura pública. Segundo ele, a sociedade, há algum tempo, está atenta a ilicitudes, o que aumenta a responsabilidade do Ministério Público, da Receita Federal e da Polícia Federal.
"O mandado de um juiz federal não é algo desprezível. Não há dano maior do que restringir a liberdade de alguém. O eleitor precisa estar atento, porque é indício de que aquela pessoa tem mácula", ressaltou.
Notícias falsas
José Sarto (PDT), por sua vez, disse que vê com preocupação algumas ações protagonizadas pela Polícia Federal, assim como as chamadas "fake news", que podem ser definidoras para algumas candidaturas. "Antigamente se dizia que lago jogado não volta mais atrás, e tem coisas que não dá mais para se recuperar", citou, ao criticar a repercussão de algumas investigações que prejudicam figuras públicas.
"Há casos em que se estampam manchetes nos jornais, vão para as rádios, mas o desmentido vem de forma minúscula. Daqui que o afetado repare sua perda, já passou-se a eleição, até porque vivemos um momento de ânimos alterados", afirmou.
Elmano de Freitas (PT) lembrou que nos governos de Lula e Dilma Rousseff houve um "considerável" fortalecimento da Polícia Federal e da Justiça Federal. De acordo com ele, as ações de órgãos de fiscalização são corretas, mas é preciso discutir o acompanhamento constante da imprensa nessas operações, bem como a "espetacularização" em determinados momentos. "Uma pessoa pode ser investigada e ser inocente, mas ela já foi condenada sem poder se defender. Temos que discutir isso no âmbito do processo penal".
Presidente do Legislativo, o deputado Zezinho Albuquerque (PDT) destacou que as operações em curso já há algum tempo não ajudam na melhoria da imagem do homem público. Segundo disse, há casos em que parlamentares são denunciados e absolvidos, mas a opinião pública faz sua condenação à parte.
"Essas operações vão influenciar no pleito deste ano, não tenho dúvida. Um indício não quer dizer que a pessoa seja condenada, mas daqui que se prove que não havia nada, já fica difícil retomar a situação", opinou.
Versões
"Eu tenho um temor grande", disse, por sua vez, o deputado Sérgio Aguiar (PDT). Ele lembrou o caso de suicídio do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, investigado pela PF sob a acusação de desvios na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). "Em ato extremo, esse reitor cometeu suicídio. Em seguida, pelo que acompanhei na imprensa, nada foi comprovado contra ele", pontuou.
Para Aguiar, ações da Justiça devem influenciar boa parte do pleito eleitoral, o que resultará também em um aumento do número de abstenções do eleitorado, diante da decepção de parte da população com a classe política. Ele defendeu, porém, que a abstenção é um "erro expressivo", visto que aqueles que se abstiverem de votar neste ano não terão o direito à crítica.
Julinho (PPS) destacou que a Polícia deve fazer o seu papel, mas o que não se tem evitado é a utilização dessas ações por parte de adversários políticos para "potencializar o episódio e condenar as pessoas antecipadamente". Para ele, a população tem a obrigação de escutar as versões apresentadas antes de emitir opinião. "O que não pode é formar uma opinião só porque a classe política está desmoralizada".