O maior arco de alianças e o suporte do Governo do Estado têm reflexos visíveis a olho nu na campanha de Roberto Cláudio. Nos primeiros 10 dias do período eleitoral, o volume da propaganda do candidato do PSB foi o principal fato político da disputa. A capilaridade é, por enquanto, esmagadoramente maior que a de Elmano de Freitas (PT) – único concorrente a possuir rede de apoios capaz de minimamente rivalizar com o representante do governador Cid Gomes (PSB) na disputa. Embora tenha começado a se movimentar mais cedo, a impressão é de que a campanha petista largou atrás em termos de organização. Parece ter sido apanhada em plenos preparativos, enquanto o ex-aliado foi mais rápido. Os carros de som circulando, os muros pintados e os cabos eleitorais que agitam bandeiras nas vias podem ser vistos em número muito maior do lado do PSB que o de praticamente todos os demais juntos. O deputado federal Eudes Xavier (PT) levantou a suspeita de que “falcatruas da Casa Civil” seriam responsáveis por abastecer o concorrente. Sem entrar nesse mérito, era mesmo previsível que a maior estrutura seria de Roberto Cláudio. O PT montou coligação composta de partidos de oposição e vários nanicos. Já o PSB atraiu o gigante PMDB e várias siglas médias, como PP, PTB, PSD, PHS e PRB. Além disso, enquanto a manutenção do poder pelo partido da prefeita é uma incógnita, o governador terá, em qualquer cenário, dois anos de mandato pela frente, com uma máquina maior e mais poderosa. Com isso, seu poder de fogo é naturalmente maior. Mas o principal fator para explicar a diferença de estrutura está nos personagens que estão do lado de Roberto Cláudio.
Desde 2004 o PT não entrava numa eleição sem aliança com os Ferreira Gomes e Eunício Oliveira (PMDB). Na reeleição de Luizianne Lins, em 2008, e na eleição de José Pimentel, em 2010, alguns dos principais responsáveis por articular a arrecadação eram pessoas que hoje estão com Roberto Cláudio, como Arialdo Pinho, Eunício Oliveira e Gaudêncio Lucena. Os petistas sempre foram mestres em mobilizar a militância, mas nunca precisaram, sozinhos, captar recursos e organizar uma campanha desse porte no Ceará. Essa diferença de expertise tem resultados visíveis, por enquanto.
O efeito no resultado final, contudo, é coisa a se conferir. Em eleições estaduais é rara a derrota do candidato com maior estrutura. Já em pleitos municipais, sobretudo em capitais – e particularmente em Fortaleza – essa matemática não é tão simples.
O INIMIGO ESCOLHIDO
A campanha de Elmano passou o recibo da maior estrutura exibida por Roberto Cláudio. Como mostrou a repórter Ranne Almeida, no O POVO de sábado, os discursos na inauguração do comitê petista escolheram o candidato do PSB como adversário. Além de Eudes Xavier, a prefeita Luizianne Lins também fez discurso tendo como alvo o aliado até outro dia. É parte da lógica como o PT funciona. O partido precisa ter o inimigo claramente identificado. O antagonismo e o enfrentamento são os combustíveis usados para inflamar a militância. Dessa vez, contudo, são dois candidatos que estão embaixo e lutam para subir. Embora seja possível, não será simples nem fácil que ambos cresçam a ponto de irem juntos ao segundo turno. Ao trocarem caneladas enquanto ainda estão atrás favorecem os outros candidatos.