Foi pouco
No intuito de demonstrar a união do Ceará para resolver o problema da insegurança, Camilo levou o presidente da Assembleia, Zezinho Albuquerque, e o presidente do Tribunal de Justiça, Gladyson Pontes, ao encontro de Temer. Mas o que saiu do encontro, do ponto de vista prático, ainda foi pouco. O Ceará precisa de uma resposta mais forte e urgente da União.Após o registro de duas chacinas em três dias, no Ceará, o presidente Michel Temer autorizou, ontem, o envio de uma força-tarefa da equipe de Inteligência da Polícia Federal para o Ceará. Essa equipe deverá auxiliar as Forças de Segurança Pública no Estado. A medida foi tomada após reunião do governador do Ceará, Camilo Santana, com Temer, no Palácio do Planalto. Até o início da tarde, a reunião não constava na agenda presidencial e foi articulada de última hora, por Eunício Oliveira.
Santana saiu da reunião satisfeito com o que ouviu. "O presidente foi muito solícito. Já autorizou de imediato uma força-tarefa, com um grupo especializado da Polícia Federal para o Ceará, para trabalhar a questão da Inteligência. E ficou de avaliar todos os outros pontos solicitados na audiência", disse o governador, em um vídeo divulgado por sua assessoria de comunicação.
Além de apoio imediato, Santana também pediu "medidas de médio e longo prazos". Dentre as demandas do governador, está o apoio financeiro para que o Ceará possa investir em ações de Segurança Pública. Logo após a reunião, Camilo informou que reforçou com o presidente Temer a importância de um Plano Nacional de Segurança Pública para os 27 estados, que sofrem com a violência e pediu o apoio da Polícia Federal (PF) para combater o crime organizado.
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Em declarações dadas à imprensa no início da semana, Santana havia dito que a entrada de armas e drogas no Estado é uma ação do crime organizado, que deve ser combatida pelo Governo Federal.
A fala do governador não foi bem recebida no Palácio do Planalto. Segundo assessores do presidente, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, encabeçará as conversas com o governador do Ceará daqui para frente. Jardim também informou que não está prevista nenhuma visita ao Ceará. "Não há convite e iniciativa para isso", disse.
A assessoria do Ministério adiantou que o pedido de ajuda do governador ao Estado precisa ser apresentado oficialmente ao Ministério e não ao Governo Federal. Após a solicitação ser apresentada, o ministro deverá estudar o caso e avaliar a melhor situação junto a Força Nacional.
Em uma rede social, o governador comunicou aos seguidores, ontem, que iria se reunir com Temer para buscar apoio no enfrentamento ao crime organizado e ao combate ao tráfico de drogas. "Precisamos proteger as fronteiras do narcotráfico que é um problema nacional e afeta diretamente o Ceará", disse.
O presidente do Congresso Nacional, senador Eunício Oliveira (MDB-CE), também esteve no encontro. "Todas as reivindicações que o governador trouxe ao presidente da República estão sendo analisadas. Algumas foram de pronto autorizadas", disse, em vídeo. Eunício afirmou, ainda, que "não é momento para disputas e discussões".
Próxima semana
O superintendente da Polícia Federal no Ceará, Delano Cerqueira Bunn, afirmou que o trabalho já era previsto antes da Chacina das Cajazeiras. Porém, após o episódio, e diante do cenário da violência, foi acertado que já na próxima semana, policiais de outros estados cheguem ao Ceará.
Delano Bunn acrescentou que "será o primeiro a cobrar resultados". O superintendente garante que o período de atuação da equipe não tem prazo definido, e será controlado a partir da metodologia de trabalho da PF. "Essa equipe fica subordinada à PF do Ceará. São policiais de outros Estados, mas toda a coordenação é da PF-CE que também estará nesse trabalho voltado para combater às facções. Estamos trazendo esse reforço para dar a nossa contribuição", disse o superintendente do órgão.
Questionado sobre o projeto da 'Guarda Fardada' da PF, Delano Bunn, afirmou que este nome não é oficial e que a proposta será implementada, em no mínimo, um ano. Isso, porque, conforme Bunn, é preciso que seja criado um cargo específico de nível médio na Corporação, que só tem servidores de nível superior. O novo cargo também deverá ser ocupado por aprovados em um futuro concurso público. "O projeto está sendo discutido pela direção geral da PF. Está em processo de estruturação interna. Não é algo criado agora, participei da concepção dele há mais de cinco anos", afirmou Delano Bunn.
O superintendente pontuou que, no próximo dia 8, também em Brasília, haverá uma reunião no Ministério da Justiça, para que sejam definidos alguns pontos. Bunn lembra que a proposta não é voltada, especificamente, para as últimas ocorrências no Estado, já que é algo que será implementado a médio prazo.