A decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) de manter a condenação do ex-presidente Lula (PT) deve ter pouco impacto no Ceará. É o que avaliam cientistas políticos ouvidos pelo Diário do Nordeste. De acordo com eles, boa parte da repercussão sobre o Partido dos Trabalhadores já foi absorvida, enquanto os líderes majoritários no Estado não dependem do apoio do ex-presidente.
Segundo o sociólogo Rui Martinho, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), "estão supervalorizando esse processo". Para ele, o debate eleitoral no Estado tem características que acabam por descolá-lo do que ocorre em âmbito nacional. "Parece-me que já existe um entendimento bastante avançado, pelo menos entre o senador Eunício Oliveira (MDB) e o governador Camilo Santana (PT)", diz. A condenação, para ele, não deve alterar o cenário nesse aspecto.
> Base e oposição no Ceará avaliam julgamento de Lula
Professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Emanuel Freitas lembra que a primeira campanha de Camilo Santana, em 2014, ocorreu numa quase total ausência da figura do ex-presidente, portanto Lula, agora, teria pouca influência nas chances de reeleição de Camilo.
Para o professor, a definição sobre um eventual descolamento entre a disputa local e nacional depende mais da oposição do que da base, em um cenário em que o deputado estadual Capitão Wagner (PR) recuasse da decisão de não disputar o Palácio da Abolição, dando ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSC) palanque no Estado.
Já para o cientista político Cleiton Monte, professor das Faculdades Cearenses (Fac), a influência deve ser maior do que projetam os colegas. "A prova é que os principais líderes partidários estavam aguardando o julgamento", declara. Segundo ele, Lula é cabo eleitoral importante no Estado. "Temos pesquisas que comprovam isso", diz.
Todavia, segundo ele, o impacto deve ser maior nos votos presidenciais. Caso Lula saia de cena, Cleiton Monte avalia que a candidatura de Ciro Gomes (PDT) à Presidência deve ser ampliada. "A gente vai ter uma disputa no Ceará mais desligada do cenário nacional", explica.
Proporcional
Do ponto de vista da eleição proporcional, todos concordam que o partido já vem enfrentando dificuldades há tempos. "É um partido que está fragilizado, apesar de, no Ceará, não existir um sentimento anti-petista", declara. Para ele, o objetivo do PT deve ser o de tentar não perder espaço na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados. "Acho que eles não trabalham com o cenário de ampliação", afirma.
De acordo com Emanuel Freitas, a crise de imagem do PT não é nova e a base que poderia abandonar a sigla já o fez. "O desgaste se aprofunda, mas ele não é novo", diz. Rui Martinho, por sua vez, opina que, caso as bancadas do partido venham a ser reduzidas, o motivo não será a condenação. "O eleitor fiel vai continuar votando (no PT), com ou sem Lula", sustenta.