Desde que tomaram posse, em 2015, pelo menos 26 dos atuais 46 deputados da Assembleia já mudaram ou pretendem trocar de partido
( Foto: José Leomar )
Com o fim das festas de fim de ano e o início de 2018, diversos políticos cearenses já fazem cálculos para saber que partido lhes dará melhores condições de sobrevivência após a disputa eleitoral de outubro próximo. Na Assembleia Legislativa, pelo menos 26 dos atuais 46 deputados já mudaram ou pretendem mudar de sigla com a abertura da janela partidária, entre março e abril deste ano.
De acordo com parlamentares entrevistados pelo Diário do Nordeste, as agremiações partidárias estão cada vez mais desacreditadas pela população, o que faz com que as pessoas apostem mais em votar no candidato e não mais nas legendas. Desta forma, segundo dizem alguns deputados, pouco importa ao eleitor comum o partido para o qual um pretenso candidato vá, desde que ele apresente resultado para os compromissos que assumiu com a sociedade durante a disputa eleitoral.
Nas últimas semanas de 2017, algumas mudanças aconteceram em legendas com representatividade no Ceará. Outras, ao longo da atual Legislatura, foram feitas na Assembleia, o que alterou quase que por completo a composição das bancadas da Casa. Um dos casos mais recentes ocorridos no Estado é o do deputado federal Cabo Sabino, que, apesar de ainda estar no Partido da República (PR), já acertou ingresso no Partido Humanista da Solidariedade (PHS) no mês de março.
Assessores e correligionários do parlamentar estão no comando da sigla. Já o deputado Tin Gomes, até então presidente do PHS, deve ingressar em um partido que faça parte da base governista de Camilo Santana, uma vez que a legenda humanista, segundo Cabo Sabino, a partir de agora, é "independente".
Nos bastidores da política local, fala-se que Tin deve se filiar ao PDT, legenda que mais cresceu no Estado, nos últimos anos, com a chegada do grupo político liderado por Ciro e Cid Gomes. O partido contava com três parlamentares na Assembleia, em 2015, e atualmente está com 15, após ingresso daqueles que foram eleitos pelo PROS. Além de Tin Gomes, ainda podem se filiar ao partido os deputados Gony Arruda e Osmar Baquit, após saírem do PSD.
O deputado Sérgio Aguiar, que já foi filiado ao PSB, ao PROS e agora está no PDT, afirma que mais trocas de partidos devem acontecer com a previsão de "janela partidária" a partir de março. Segundo ele, as conveniências eleitorais, principalmente para a disputa de outubro, farão com que parlamentares busquem alternativas de viabilidade eleitoral. "Realmente, os partidos estão muito fragilizados, o que leva à tendência da personificação do postulante em detrimento da legenda partidária. E a janela pode ser considerada uma boa alternativa para os mandatários irem às urnas em melhores condições de disputa".
Diálogo
O PROS poderá, ainda, ter um representante na Casa, visto que Capitão Wagner (PR), desde o ano passado, vem dialogando com lideranças do partido. Com isso, o PR voltaria a ter apenas um integrante na Assembleia.
Wagner sustenta que a população não acredita mais em partidos políticos e está cada vez mais votando em pessoas e não em siglas. "Isso fragiliza os partidos, e as janelas têm favorecido a migração que fragiliza ainda mais as agremiações", afirmou.
Segundo ele, no entanto, até a próxima semana terá uma resposta sobre seu futuro no PR. Antes do início do recesso parlamentar, o presidente do grêmio, o ex-governador Lúcio Alcântara, chegou a oferecer a legenda a Wagner, que fez algumas ponderações e não respondeu se aceitava dirigir o grêmio.
Danilo Forte, que se elegeu deputado federal em 2014 pelo PMDB, se filiou ao PSB, mas no fim do ano passado ingressou no DEM, que também está buscando atrair mais nomes com densidade eleitoral para se fortalecer durante as eleições vindouras.
Presidências
Mudanças nas presidências de partidos são outro tema recorrente nos bastidores da política local, a exemplo do que aconteceu com Tin Gomes, no PHS, e Patrícia Aguiar, no PMB. Outros dirigentes podem deixar seus postos e novos nomes tendem a ocupar o comando das legendas.
Outros que mudaram de partido ao longo da atual Legislatura foram Roberto Mesquita, eleito pelo PV e agora no PSD; Lucilvio Girão, que saiu do SD para o PP; Bethrose, que foi do PRP para o PMB; Joaquim Noronha, do PP para o PRP; Fernando Hugo, do SD para o PP; Bruno Pedrosa, do PSC para o PP; e ainda Leonardo Pinheiro, do PSD para o PP.
Odilon Aguiar foi eleito pelo PROS, ingressou no PMB e, agora, com a legenda na base governista, ele estuda ir para outro partido de oposição. Já o deputado Julinho foi eleito pelo PTN, passou alguns meses no PMB, se filiou em 2016 ao PDT e pode retornar ao PMB para disputar a reeleição à Assembleia.
Independente
Walter Cavalcante, por sua vez, foi eleito pelo PMDB, ingressou no PP e deve retornar para a legenda emedebista. Tomaz Holanda protagonizou movimentação semelhante. Foi eleito pelo PPS, saiu para ingresso no PMDB e retornou ao PPS.
Já Heitor Férrer, depois de anos no PDT, se filiou ao PSB após o grupo político de Ciro e Cid Gomes ingressar na sigla pedetista. Com o partido na base governista sob o comando do deputado federal Odorico Monteiro, o parlamentar não tem pretensões de deixar o PSB, mas espera que a direção nacional do partido permita que ele atue de forma independente no Ceará, a exemplo do que fez quando membro do PDT.
Segundo Heitor, no Brasil a filiação partidária está quase sempre ligada à conveniência eleitoral. Para ele, na maioria das vezes, os partidos também são todos iguais. "Querem fortalecer a cada eleição para terem como negociar cargos no Executivo. A cada dia, o quadro político está mudando e quem vai disputar mandato passa a analisar qual partido é mais viável".