Dez meses antes das eleições no Brasil e o cenário ainda é tão incerto que nem mesmo os partidos sabem o que irão apresentar para convencer o eleitor e logram resultados positivos nas urnas.
A indefinição encontra-se em todos os níveis de poder e leva dúvidas aos pretensos candidatos, seja às cadeiras de deputadas estaduais ou à presidência da República. Os desafios incluem o descrédito da classe política junto à população e a dificuldade de financiamento das campanhas. Desta forma, mesmo diante de pesquisas e indicativos de que a população quer uma completa renovação, os partidos apontam para tradicionais nomes da política brasileira como solução.
Segundo especialistas e políticos ouvidos pelo jornal O Estado, o discurso sobre o “novo” foi adaptado ao longo dos últimos meses e acabou incorporado por aqueles que dominam o cenário há décadas. A promessa agora é de uma “nova política”.
O exemplo mais recente é o caso do PMDB, que depois de 37 anos voltará a se chamar apenas Movimento Democrático Brasileiro (MDB). A alteração ainda precisará ser ratificada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Temos baixa renovação em termos de projeto. As pessoas até mudam, mas não apresentam novos projetos. Aumenta uma renovação em virtude do descontentamento, mas isso não significa nomes novos que possam ocupar estes espaços de representação. No Brasil, ainda se assemelha ao regime vitalício, mesma linhagem política. Ainda é um traço muito forte. Ainda é muito tradicional”, afirma a cientista política Carla Michele Quaresma, professora do Centro Universitário Estácio do Ceará.
A especialista citou o caso do PMDB e acredita numa renovação acima de 20%. “Este movimento de mudança de siglas é uma tentativa de mostrar novidade, mas o que temos dentro deste movimento são as mesmas figuras políticas, que têm práticas fisiologistas. Eles tentam mudar a roupagem, mas não significa novo projeto político”, frisou a cientista política.
Quaresma observou, ainda, o retorno de um discurso muito forte de “extrema direita”, que havia sido abandonado no País.
A especialista ressaltou, porém, os perigos da renovação, da falta de opções apresentadas pelas legendas e da descrença com a política.
A tendência, segundo avalia, é um grande número de abstenções, votos brancos e nulos no pleito de 2018. O cenário, inclusive segundo Carla Michele, foi antecipado nas eleições municipais de 2016, quando a soma de manifestações sem voto chegou a 32,5%. “O Parlamento alemão não tinha participação de partido conversador. Agora, já tem. Mas, não significa algo positivo”, citou ela como exemplo.
Desafio
Em entrevista ao jornal O Estado, o deputado Vitor Valim (PMDB) avaliou que o maior desafio para a disputa de 2018 será mostrar ao eleitor a “política de transformação”, após inúmeros escândalos de corrupção. Já para o deputado Heitor Férrer (PSB), o maior desafio do pleito do ano que vem será vencer a descrença da população e o descrédito em relação aos partidos. “A descrença do eleitor é fato e decorre dos escândalos envolvendo desvio do dinheiro público.
Quem tem mandato recebe os respingos dessa descrença, mas o eleitor que acompanha o cotidiano da política saberá discernir os que fizeram bons mandatos. Eu, particularmente, sinto, onde ando, uma extraordinária receptividade dos eleitores, o que nos conforta muito”, explicou o parlamentar.