Quando entrar setembro
É natural a tendência de polarização na disputa pela Prefeitura de Fortaleza. Afinal, dois dos postulantes representam as maiores estruturas de poder vigente hoje no Estado. Além das máquinas administrativas, têm mais recursos, farão as campanhas mais caras e volumosas e estão montados nas alianças mais amplas.
Os candidatos do PT e do PSB, somados, vão ocupar dois terços do horário eleitoral gratuito. Por essas e por outras, são, é claro, significativas as chances dos dois partidos chegarem ao segundo turno.
Mas, há interesse das duas campanhas na polarização? Não, não há. Pelo menos nesse primeiro momento. Agora, Elmano de Freitas (PT) e Roberto Cláudio (PSB) têm pelo menos uma coisa em comum: são solenes desconhecidos dos eleitores e compartilham de insignificantes índices de intenção de voto.
Portanto, a estratégia inicial das campanhas de um e de outro é se fazer conhecido. Para isso, vão colar seus nomes nos líderes que os patrocinam politicamente. Enquanto se apresentam ao distinto público, vão procurar proferir um discurso propositivo.
A polarização embute seus riscos. O principal e mais óbvio: diante de uma disputa de nível duvidoso com ataques mútuos, os dois saem perdendo. Os eleitores costumam perceber o embate e começam a migrar para outras alternativas. A vitória de Luizianne Lins, em 2004, começou a se estabelecer a partir da polarização entre Inácio Arruda (PCdoB) e Moroni Torgan (DEM).
Duas semanas de horário eleitoral gratuito são suficientes para as tendências de crescimento e queda se estabelecerem. Quando entrar setembro, não é só a primavera que se anunciará. Ali, os comitês já terão a clareza sobre quem levará as bordoadas. E elas costumam ser inevitáveis.
Em contrapartida, nas eleições de dois turnos, guerra de terra arrasada costuma não ser uma boa estratégia. Bater forte em um adversário pode significar a perda de um apoio no segundo turno.
No que diz respeito à questão urbana, há um certo pessimismo em torno da campanha de Fortaleza. Os indícios até aqui são de que ninguém vai se comprometer com questões de fundo. Os discursos tendem a se manter superficiais.
Nenhum dos candidatos parece disposto a assumir o compromisso de, por exemplo, tornar mais severas as regras que se relacionam com a ordem urbana ou a pelo menos fazer valer as que hoje já estão em vigor.
Certamente, os candidatos vão tratar de segurança pública que, aqui, não deve ser confundido com policiamento. Há uma boa contribuição a ser dada pelo gestor municipal. No caso, a severidade no cumprimento das regras urbanas. Medida que gera um círculo virtuoso.
Na década de 90, os gestores de Nova York, metrópole infernizada pela violência, descobriram que a criminalidade violenta é, em boa parte, resultado da falta de combate à desordem e aos pequenos delitos. Alguns deles de cunho essencialmente urbano. Quando essa lógica foi quebrada, os efeitos sobre os índices de criminalidade foram benéficos para aquela cidade.
É alvissareiro quando se lê no O POVO que a área da Prefeitura que cuida da ordem urbana monta com a Polícia Militar uma estratégia para combater a poluição sonora, uma das fontes do clima de violência que se estabelece na cidade.
Alguém terá a coragem de abordar o tema e contagiar os eleitores com essa, digamos, novidade?