O conservadorismo como marketing
Movimentos para censurar obras de arte, controlar o que professores ensinam, estabelecer ensino de uma única religião em escolas públicas. Toda uma plataforma política relacionada ao corpo como grande problema político e comportamental do planeta. O mundo anda para trás? A sociedade se torna mais retrógrada? Mais ignorante? Pode passar por tudo isso. Mas, além de tudo, há uma plataforma política, absolutamente pragmática e com fins eleitorais, que aposta nessa pauta emocional e algo irracional. Dá resultado. Poucas armas na política trazem retorno tão rápido e eficaz quanto as que envolvem muito sentimento e pouca necessidade de pensar. Mobilizam o emocional, dispensam muita reflexão e muita explicação. São eficazes.
O medo é dos instrumentos políticos mais eficazes. Quando um Jair Bolsonaro (PSC-RJ) defende o uso da violência e armar a população contra a violência, mobiliza instintos primitivos e assim consegue votos. Aborda chavões e preconceitos do arco da velha, mas que funcionam. Em 2002, quando isso não dava voto, ele foi bater à porta do então presidente eleito Lula, na Granja do Torto, para pedir a indicação de Aldo Rebelo, então do PCdoB, para ministro da Defesa. O que ele pensava então sobre a “ameaça comunista”? “Hoje, comunista toma uísque, mora bem e vai na piscina”. Faz mais sentido que o pensamento hoje difundido.
"Há uma plataforma política que aposta nessa pauta emocional e algo irracional. Poucas armas na política trazem retorno tão rápido e eficaz quanto as que envolvem muito sentimento e pouca necessidade de pensar. Dispensam muita reflexão e muita explicação"
(Hoje, a propósito, Aldo Rebelo saiu do PCdoB, foi para o PSB e sonha em ser candidato a vice-presidente na chapa de Geraldo Alckmin).
O Movimento Brasil Livre (MBL) tem jogado muito bem ao fabricar polêmicas e transformar a ignorância e a desinformação em capital político. Isso enquanto o País pega fogo e as polêmicas de verdade ficam ofuscadas.
Em cada casa legislativa do País, oportunistas descobriram a mina de ouro. O velho proselitismo religioso se funde ao pior da demagogia eleitoreira e alcança patamares jamais imaginados. A Assembleia Legislativa cearense é mostra de como a futrica, o debate sobre arte e a patrulha da vida alheia tem jogado para debaixo do tapete temas importantes. Mas, nas Câmaras de cada município, o obscurantismo também campeia.