Lideranças de oposição ao governo Camilo Santana cobraram, ontem, em discussão no plenário da Assembleia Legislativa, que as denúncias feitas pelos empresários Wesley e Joesley Batista, da JBS, em delação premiada, devem ser devidamente apuradas. Já aliados do Governo pedem cautela. O assunto movimentou a maior parte da sessão plenária da AL.
Wesley Batista revelou à Lava Jato que ex-governador do Ceará, Cid Gomes, foi à sede da empresa pedir dinheiro para campanha de seu sucessor, em 2014, Camilo Santana (PT); pagamentos teriam sido feitos via contratos fictícios e doações eleitorais, como condição para que dívida do Estado com a empresa, de mais de R$ 110 milhões, fosse quitada. Cid, porém, repudia as referências em delação que atribuem a ele o recebimento de dinheiro.
“Toda semana precisamos tratar desse assunto e cobrar explicações dos envolvidos”, defendeu o deputado Odilon Aguiar (PMB), acrescentando que “o certo é apurar as denúncias. Desqualificar o delator não vai fazer sumir as acusações que foram feitas”.
Odilon requereu, ainda, informações sobre os pagamentos e investimentos feitos pelo Estado às empresas, por meio do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI). Segundo ele, o objetivo é analisar e saber por que algumas empresas não foram beneficiadas com os pagamentos. “Não queremos aqui fazer julgamentos errôneos, só exercer nossa função como parlamentares, que é fiscalizar”, frisou ele.
O deputado Leonardo Araújo (PMDB), por sua vez, ressaltou que, pelo que está sendo divulgado na imprensa e apurado pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), haveria indícios de acordos ilegais entre o Governo do Estado e a empresa JBS, nos últimos anos.
Afastamento
Já o deputado Heitor Férrer (PSB) cobrou o afastamento dos secretários de Turismo e das Relações Internacionais do Estado, Arialdo Pinho e Antônio Balhmann, respectivamente. Heitor acredita que a delação mostra que os secretários estão envolvidos de “maneira evidente”.
O deputado ressaltou, ainda, que a delação do empresário da JBS é confirmada através de documentos. “Quando não tem eleição os incentivos são pagos em fevereiro. Em ano eleitoral, o Governo guarda a verba para pagar em julho. É direito das empresas receber esses incentivos, então o que foi feito pode ser classificado como extorsão”, apontou ele.
Cautela
Coube ao líder do Governo na Assembleia, deputado Evandro Leitão (PDT), pedir cautela aos parlamentares de oposição sobre a abordagem da delação do empresário Wesley Batista, que cita nomes de políticos cearenses.
“Quero lembrar aqui que, em nenhum momento, o nome de Camilo Santana foi mencionado na delação, e que Cid Gomes também não aceitou nenhum tipo de negociação. Isso está claro no depoimento em vídeo”, salientou ele, ressaltando a diferença entre o Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI) e Programa de Incentivo às Atividades Portuárias e Industriais (Proapi), pontuando que o último é um programa de incentivo financeiro e não tributário.
Evandro Leitão esclareceu, ainda, que empresas ligadas à licitação da Arena Castelão estão sendo averiguada, e não a participação de qualquer servidor. O deputado José Sarto (PDT) também reforçou o pedido de cuidado com as declarações. “Acredito que devamos deixar o Ministério Público apurar tudo antes de fazermos qualquer acusação”, ponderou.
Para o deputado Dr. Santana (PT), é preciso saber diferenciar a denúncia do crime comprovado por meio de investigação e apresentação de provas. “Não podemos entrar no jogo dos meios de comunicação que colocam todos os políticos no mesmo saco”, defendeu. Sobre o financiamento que é feito por grandes empresários, o parlamentar lembrou que praticamente todos os partidos foram beneficiados.