Strauss, a maior empresa de alimentos e bebidas de Israel, apresentou à delegação cearense como investe em projetos de inovação para garantir tecnologia na produção de alimentos
LUIZ VIANA
Estreitar ainda mais as relações entre Israel e o Ceará é a meta do grupo que chegou na última sexta-feira e fica até sábado, no Oriente Médio. Nem a longa viagem de 32 horas e muito menos a intensa programação organizada pelos israelenses, desanima o grupo. Liderada pelo Banco do Nordeste do Brasil, pela Assembleia Legislativa e universidades, a missão tem o foco em novos negócios - também chamados de startups - na inovação e na gestão de recursos hídricos.
A delegação cearense segue a trilha do caminho aberto desde 2012 pelo Estado e colhe os frutos da aproximação com Israel. Para o deputado Carlos Matos, um dos organizadores, que já coordenou outras missões de igual natureza, o Ceará tem muito que aprender aqui. “Os israelenses têm características que nos aproximam, como a falta d’água e as condições geográficas”, analisa. A visita à empresa Mekorot, que faz a gestão nacional dos recursos hídricos, reforça essa tese.
Oitenta por cento da água consumida aqui vem da dessalinização e o desperdício de água, que no Ceará chega a 40%, não passa de 10% em Israel. Da água consumida, 85% é reaproveitada através de diversos processos de reuso. Apesar da magnitude do desafio de conseguir água numa região inóspita, que era um grande deserto há 40 anos, o diretor da Mekorot, Yossi Yaacoby, garante que “não falta água na torneira em Israel para nenhum cidadão, inclusive para os vizinhos Jordânia, Palestina e Faixa de Gaza”, para os quais a Mekorot também é fornecedora.
Israel se parece muito com os Estados Unidos, não só na arquitetura e pelo idioma inglês, falado por quase todos, mas também no modo de administrar e fazer negócios. Pressionado pelas relações turbulentas com os vizinhos, que eles consideram inimigos, apesar de não admitirem abertamente, o País é extremante militarizado. Aqui todos são obrigados a servir às forças armadas aos 18 anos, inclusive as mulheres.
Como reflexo disso, muitas empresas surgiram a partir da experiência em inteligência e segurança. Foi o que vimos na empresa Axioma, que prestou serviços de monitoramento e vigilância para os jogos olímpicos do Rio de Janeiro e tem atuação global. A Axioma não revela, por razões de segurança, os clientes para os quais oferece serviços de monitoramento por câmeras, identificação de placas de carros e de pessoas, mas confirma que só em Israel está desenvolvendo projeto piloto para instalar mais de 20 mil câmeras públicas de vigilância.
Investimentos em inovação
O banco Hapoalim segue o mesmo trilho das grandes empresas de Israel, no que se refere aos investimentos em inovação. Com decoração futurista, espaços coloridos e vista 360 graus da cidade de Telaviv, o escritório da empresa nem parece um banco. O presidente do BNB, Marcos Holanda, conheceu de perto como os Israelenses se utilizam de tecnologias como a realidade aumentada, a mineração de dados e a inteligência artificial. O chefe do setor de Inovação do Hapoalim, Avi Kochva, contou porque acredita que os bancos terão cada vez menos agências físicas e os clientes farão suas transações majoritariamente pelo celular.
Na tarde de ontem, a delegação cearense também conheceu a operação mundial da Strauss, a maior empresa de alimentos e bebidas de Israel. Calorosamente recebidos pela presidente do Conselho de Administração, Ofra Strauss, os reitores e pro-reitores das universidades Federal, Estadual, Urca, Uva e IFCE viram como a empresa abraça projetos de inovação, trazendo alta tecnologia para a produção de alimentos. O grupo Strauss mantém parceria com várias empresas no mundo, entre elas a brasileira Três Corações.
A última reunião da missão do Ceará ontem foi com representantes do governo de Israel. Dirigentes do Israel Innovation Authority (IIA), órgão público dedicado exclusivamente à inovação e ao apoio a startups, apresentaram o modelo de gestão da estatal, que faz do País o líder mundial em número de empresas e na quantidade de dinheiro investido em startups. Israel apoia agressivamente o surgimento de empresas inovadoras não só aqui, mas em todo o mundo. Quase 50% dos projetos apresentados e selecionados, recebem ajuda oficial do governo de Israel. Executivos do IIA também ouviram do Ceará possibilidades de cooperação e ações conjuntas, especialmente com o Hubine, que é o braço de inovação do Banco do Nordeste.
A agenda do grupo de cearenses segue hoje com um seminário de inovação da Universidade de Ben-Gurion, na cidade de Beersheva, no sul do país, e visitas ao Instituto das Águas e a uma aceleradora de desenvolvimento.
* O jornalista viajou a convite do BNB