Fac-símile de matéria publicada no dia 9 de agosto de 2015, quando o PDT iniciava a movimentação de tornar Ciro Gomes o seu candidato à Presidência da República
Ciro Gomes (PDT) está falando, sem rodeio, sobre o cenário político nacional, para situar sua candidatura à Presidência da República, no próximo ano, quando deixa a entender já a ter consolidada. No seu pensar, chegou ao topo o desgaste imposto aos partidos e seus filiados, implicados na Lava-Jato, portanto, o quadro de candidatos em 2018 está praticamente definido.
Pouco, ou quase nada, será acrescentado aos escândalos atualmente conhecidos, mesmo com os depoimentos dos delatores da Odebrecht ainda mantidos em sigilo. O eleitorado brasileiro já está suficientemente enojado com as informações recebidas, portanto, no limite da indignação.
O ex-governador cearense se diz entristecido com a realidade política nacional e, ao mesmo tempo, confiante na sua postulação pela coerência do discurso que professa desde o início da sua, já considerada, longa vida pública que vai da Prefeitura de Fortaleza, passando pela Assembleia Legislativa, o Governo do Ceará, e dois ministérios (Fazenda e Integração Nacional) da República.
O PDT só não dá a estrutura mínima necessária para o embate, mas sem a candidatura do ex-presidente Lula a um novo mandato presidencial, ele entende não ser tão difícil montar uma aliança de centro-esquerda para fazer frente às forças conservadoras e de direita.
Candidatos
Ao contrário do pensar anterior, Ciro não trabalha com a hipótese de ter o PT como seu aliado, pelo menos no primeiro turno da disputa. Os petistas terão seu candidato, até por necessidade de manter suas bases ainda fiéis. A não candidatura do Lula, esclarece o pedetista, não tem qualquer relação com a Lava-Jato. Sem o seu principal nome na disputa, o PT não fechará o arco de aliança sempre montado nas últimas campanhas.
No quadro atual, Ciro admite que disputará com um candidato do PMDB, no seu entender um nome que repetirá o insucesso de Ulysses Guimarães, o último candidato do partido a presidente, assim como o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, um petista, Marina Silva e Jair Bolsonaro.
Mas não são os nomes dos prováveis adversários e nem as alianças para sustentação da campanha a sua principal preocupação no momento. Essa questão fica para ser cuidada a partir do fim deste ano e início do próximo por ele e a direção do PDT.
Os eventos nacionais do partido e as palestras em ambientes de formadores de opinião são os objetivos dos próximos meses, acrescentando a isso umas viagens à Europa e Estados Unidos, para encontros em universidades, a partir do fim deste mês (na Pensilvânia, em Paris, Barcelona e Oxford).
Dinâmica
Ele espera dar mais visibilidade às suas propostas e contraponto ao que tem sido feito na administração pública nacional, conquistando, com isso, multiplicadores das suas ideias e apoios suficientes para facilitar os entendimentos partidários. As declarações de Caetano Veloso em apoio à sua pretensão são um exemplo do que está pretendendo colher.
Em agosto de 2015, quando anunciamos neste espaço a disposição de Ciro Gomes ser novamente candidato à Presidência da República, dissemos que o eleitorado nacional, por conta das mazelas já conhecidas àquela época, embora em menor potencial, "exigirá discursos mais firmes dos postulantes, de modo, não a convencerem aos eleitores, atualmente ressabiados com tantas inverdades, mas capazes de os motivarem a ser menos céticos em relação às promessas" que sempre são feitas e não cumpridas.
Ciro, prosseguimos, "pode ser um dos que venham a ter audiência, não só pela fluência como pela consistência do discurso, hoje, por certo, mais embasado. Suas passagens por diversos cargos públicos nas esferas municipal, estadual, nacional, e de executivo da iniciativa privada, sem máculas, as credenciam-no a ser ouvido e estar à altura das exigências reclamadas a quem deseja ser presidente do Brasil".
A dinâmica como os fatos negativos surgem no Brasil, e a facilidade de o eleitor aceitar "salvadores", nos permitem admitir que o ambiente de instabilidade nos partidos e a insegurança de prováveis candidatos motivem alterações inesperadas, deixando a posição final para os últimos momentos permitidos pela legislação eleitoral, em meados do próximo ano.
Até lá, as especulações dominarão o ambiente, principalmente em razão das decisões judiciais no âmbito da Lava-Jato, e mais significativa e principalmente quanto ao processo de cassação da chapa Dilma-Temer, em avançado curso no Tribunal Superior Eleitoral.
Cassada a chapa e eleito indiretamente um presidente da República pelo Congresso Nacional, com direito a postular a reeleição, o ungido, mesmo que ao fim do processo tenha se mostrado uma figura de menor expressão, tenderá a alterar o quadro, seja como candidato ou patrocinador de qualquer deles com a força do Governo, instrumento desequilibrador de campanha.