Delação premiada do ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, pode atrapalhar o projeto do senador cearense Eunício Oliveira (PMDB) de se candidatar para a sucessão do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do Senado Federal, na eleição do início do ano.
Ao O POVO, o senador Jorge Viana (PT), atual vice-presidente da Casa, recuou sobre o prévio acordo entre os partidos de apoio ao nome da legenda com maior bancada na Casa, como é o caso do PMDB.
“A situação ficou muito grave. Estou indo para Brasília para me reunir com a bancada do PT e decidir. Não quero me pronunciar antes de me reunir com a bancada. Mas é de uma gravidade tamanha a situação”, ressaltou.
O movimento de revisão do posicionamento que envolve a sucessão pode ser acompanhado por demais partidos, inclusive da base aliada para evitar um novo caso de presidente do Congresso Nacional sob suspeita da justiça.
A gravidade que fala o senador petista é a delação do ex-executivo da empreiteira investigada em que aponta o suposto repasse de R$ 2.100.000 mil em propina para o senador do Ceará entre 2013 e 2014.
No documento de 82 páginas, o delator afirma que a negociação criminosa era feita com o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que, na sequência, repassaria as informações da propina para os correligionários Renan Calheiros e Eunício Oliveira. A delação ainda não foi homologada e o vazamento deverá ser investigado.
Aliados
Aliados do senador peemedebista rebatem a delação e avaliam que a “falta de provas” envolvendo Eunício deverá manter sua candidatura à presidência do Senado Federal, na eleição do início do ano que vem.
O vice-prefeito de Fortaleza, Gaudêncio Lucena (PMDB), defende que não houve “ilicitude”. “O que existe de diferença nos repasses é entre a doação legal e a propina. Só é crime se for propina. Nunca soube que o Eunício tenha feito qualquer ilicitude para favorecer qualquer doador de campanha”, disse afirmando ainda não acreditar em veto do nome do parlamentar na eleição da Casa.
Assim como Gaudêncio, o deputado Leonardo Araújo (PMDB) não crê que a delação atrapalhe os planos do aliado no Senado. “Não acredito que vá mudar essa condição da eleição no Senado. Não há pedido de abertura de inquérito, não há denúncia formalizada, não há delação homologada. Nada impede que ele seja o candidato”.
Frases
SÓ É CRIME SE FOR PROPINA. NUNCA SOUBE QUE O EUNÍCIO TENHA FEITO QUALQUER ILICITUDE PARA FAVORECER QUALQUER DOADOR DE CAMPANHA.
Gaudêncio Lucena (PMDB), vice-prefeito de Fortaleza e aliado do senador Eunício Oliveira
A SITUAÇÃO FICOU MUITO GRAVE. ESTOU INDO PARA BRASÍLIA PARA ME REUNIR COM A BANCADA DO PT E DECIDIR. MAS É DE UMA GRAVIDADE TAMANHA A SITUAÇÃO.
Jorge Viana (PT-AC), senador e 1° vice-presidente do Senado Federal
NÃO HÁ PEDIDO DE ABERTURA DE INQUÉRITO, NÃO HÁ DENÚNCIA FORMALIZADA, NÃO HÁ DELAÇÃO HOMOLOGADA. NADA IMPEDE QUE ELE SEJA O CANDIDATO.
Leonardo Araújo (PMDB), deputado estadual e aliado do senador Eunício Oliveira
Saiba mais
Cotado para assumir a presidência do Senado Federal, Eunício Oliveira é hoje o líder do PMDB na Casa e um dos peemedebistas mais ligados ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
O presidente do Senado também é o presidente do Congresso Nacional, que é a união entre a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. O cargo é o terceiro na linha sucessória da presidência da República brasileira.