Eram 6h30min do dia 19 de setembro quando iniciei meu dia com a missão de acompanhar a agenda de campanha de Heitor Férrer (PSB) em Fortaleza. Naquela manhã de segunda-feira, eu já estava em ritmo de trabalho pelo expediente em regime de plantão que dei no final de semana que antecedeu a pauta.
Meu ritmo acelerado, porém, sequer aproximou-se da disposição de Heitor em mais um dia de andanças incansáveis por ruas, becos e avenidas da Capital cearense.
“Eu durmo tarde, mas, como eu fui do Exército, acordo cedo. Hoje acordei 5h38min. Acordo normalmente entre 5h30min e 6 horas no máximo, e durmo tarde. E tenho andado bastante (na campanha), todos os dias, o que é muito bom para a saúde”.
O gasto da sola de sapato tem sido promessa cumprida de Heitor enquanto candidato. Com pouco dinheiro para custear os gastos da campanha, tempo reduzido na propaganda gratuita de rádio e televisão e quase nenhum apoio político, é a caminhada e o corpo a corpo com o eleitor a principal estratégia do parlamentar para driblar as limitações.
A proximidade com o eleitor, por meio de caminhadas, tem sido intensificada desde o primeiro dia de campanha — data em que também o acompanhei — e usada como a principal arma para se contrapor às pesquisas e chegar pela primeira vez ao segundo turno de uma eleição para o Executivo.
Marquei com a assessoria de imprensa do deputado estadual o encontro já na primeira atividade do dia, às 8h30min, na Feira do Carlito Pamplona.
Após deixar a redação do O POVO, às 8 horas, para o acompanhamento da rotina de campanha, fui surpreendido com a ligação da assessora Regina Paz avisando que o socialista já havia chegado à feira e iniciado o corpo a corpo com os eleitores. Uma surpresa, já que tradicionalmente o repórter toma chá de cadeira em pautas com a presença de políticos.
Mas o clima era de campanha, e não de uma rotina na Assembleia Legislativa, onde Heitor cumpre expediente há quatro legislaturas consecutivas. As agendas eram aceleradas, tudo com objetivo de ganhar tempo em um processo eleitoral tão curto.
Mais do que pontualidade, descobri, na sequência, que o dia de campanha de Heitor na realidade havia sido antecipado pela solicitação de uma entrevista para uma emissora de televisão local.
Foi assim que o dia começou: uma entrevista, um aperto de mão aqui, um abraço ali, selfies, sorrisos e nenhuma recusa do eleitorado — pelo menos naquele dia. “As recusas são naturais da política brasileira. Tem um segmento decepcionado além da cota. Mas comigo isso é inexistente, as pessoas não têm manifestado esse rancor a mim. As pessoas me veem de uma maneira diferente”, acredita.
Nas ruas, no contato direto com o eleitor, percebi que, diferentemente de outros candidatos, Heitor não pede votos para si, sugere como mais uma opção. “São oito candidatos, e eu sou mais uma opção”, diz a um e a outro que encontra.
Com um movimento fraco de clientes na feira do Carlito, a passagem se deu de forma rápida. Sabendo que o repórter fotográfico Aurélio Alves e eu acompanharíamos as atividades daquele dia, Heitor logo arrumou uma outra visita que não estava prevista na agenda pré-definida no dia anterior.
Às 9h05min partimos para a rua Conde D’eu, no Centro. Com uma equipe reduzida de militantes, o candidato percorreu o comércio no entorno da Igreja da Sé e conversou com comerciantes e clientes. “Tudo bem? Sou uma opção a mais e essas (ao entregar o panfleto) são as minhas propostas”, repetia a cada eleitor que encontrava.
Propondo medidas polêmicas, como a retirada de pelo menos a metade dos fotossensores em Fortaleza, o candidato foi parado inúmeras vezes por admiradores da proposta que concordavam com a necessidade da medida. “Vamos prender essa ladrão do fotossensor”, disse um motoqueiro que não se identificou.
Às 10h15min fez uma pausa, retomando a agenda de campanha ao meio-dia para participar de uma entrevista a uma rádio local, quando o candidato voltou a falar das principais propostas e das polêmicas que fizeram parte da eleição na Capital.
Após uma hora de entrevista, Heitor fez nova pausa para o almoço e passou a tarde em preparação para um debate na Universidade Federal do Ceará, à noite.
Rotina
A rotina desgastante de campanha tem gerado comentários de pessoas próximas ao candidato. “Ontem me disseram assim: Ih, rapaz, o homem só tem cabeça. Ou seja, é como se eu estivesse perdendo massa, né?”, contou Heitor. As andanças fizeram o candidato perder pelo menos dois quilos.
Confesso que me cansei acompanhando a rotina eleitoral de um candidato por um só dia. Dificilmente aguentaria uma rotina de campanha como candidato até o fim.
Bastidores
1 Durante a panfletagem, Heitor orientava a militância: “Quando eu não ver (o eleitor) entreguem vocês também”.
2 Após entrevista na rádio, Heitor se apresentava bem humorado mostrando vídeos engraçados no celular. Dei risada também.
3 Na primeira pausa da agenda de campanha, Heitor foi ao encontro de possíveis apoiadores da candidatura. O candidato reclamou do pouco dinheiro para custear os gastos principalmente com as gravações para os programas do horário gratuito de rádio e televisão. “Tudo muito caro”.
4 Com 50 pontos na carteira de habilitação, o candidato não dirigiu o carro em momento algum dos percursos de campanha. Um motorista particular o conduziu entre uma atividade de outra naquele dia.
5 Durante a caminhada no Centro, uma eleitora surpreendeu Heitor com um grito de dentro de uma loja: “Heitor, eu te aaaamooo!”. Envergonhada, se escondeu do candidato em seguida.
VÍDEO
Assista ao webdoc com o dia de campanha de Heitor Férrer no link: www.opovo.com.br/videos