Considerando que a pesquisa O POVO-Datafolha captou as reações intenções dos eleitores de Fortaleza, está em curso a tendência de polarização da disputa entre o prefeito Roberto Cláudio (PDT) e o deputado Capitão Wagner (PR): 34 a 28. A linha de crescimento de ambos se manteve lenta e gradual. No espaço de pouco mais de um mês entre a primeira pesquisa Datafolha e esta última, RC cresceu sete pontos (saiu de 27 para 34), enquanto o Capitão cresceu oito (saiu de 20 para 28).
Entre os líderes, nenhum disparou. Porém, os dois distanciaram-se da terceira colocada, a ex-prefeita Luizianne Lins (PT) muito além da margem de erro. Na primeira pesquisa, em 19 de agosto, a petista tinha 17% e hoje tem 15%. Apenas oscilou para baixo, mas viu seu concorrente mais direto se isolar na segunda colocação. Também na margem de erro, Heitor Férrer perdeu três pontos (de nove para seis) desde o início da série de pesquisas.
Os resultados da pesquisa não dão tranquilidade a nenhum dos candidatos. Faltando apenas uma semana para a eleição, o jogo está sendo jogado. No entanto, o período se tornou muito curto para que tanto Luizianne quanto Heitor consiga promover reações. Os dois vão ter que trabalhar duro para manter a fidelidade do eleitorado que hoje afirma votar em algum dos dois.
Aliás, caso não reajam, a tarefa de Heitor e Luizianne de pelo menos manter as intenções de voto hoje verificadas pelo Datafolha será fundamental para que possam fazer valer seus pesos políticos no segundo turno, que, já se pode afirmar com bom grau de certeza, trata-se de fato consumado. Se ficarem na metade do caminho, os dois terão peso decisivo na segunda etapa.
Para o prefeito, a boa notícia da pesquisa é que conseguiu manter a liderança e uma distância razoável do segundo colocado. A campanha de RC não permitiu que a trajetória do Capitão se tornasse um fenômeno eleitoral avassalador. Ok, mas é má notícia o fato de não estar numa situação confortável quando tenta a reeleição.
Para o Capitão, a boa notícia está em sua linha de crescimento que o descolou de Luizianne e o manteve a uma distância pequena, no limite da margem de erro, em relação ao primeiro colocado. A má notícia é que o candidato não disparou. Significa que uma parte do eleitorado se mantém com um pé atrás em relação à sua candidatura.
Daqui por diante, tanto RC quanto o deputado do PR vão ter que aprender a falar com a salada ideológica e social que representa o eleitorado de Luizianne, de Heitor, de Ronaldo Martins (PRB) e de João Alfredo. Os dois últimos com 3% e 1% das intenções de voto. Ou seja, quatro pontos percentuais que podem fazer a diferença. Imaginem então o peso dos 21% que hoje dedicam seus votos a Heitor e Luizianne. Juntos, os quatro candidatos são donos um quarto dos eleitores da Capital.
A ECONOMIA DE FORTALEZA
O Jogo Político deste domingo trata de um tema de grande importância para Fortaleza, mas muito relegado pela campanha eleitoral. No caso, a economia da cidade. O que um gestor municipal pode fazer para criar um ambiente institucional, urbano e administrativo para facilitar a vida de empreendedores? O tema passa ao largo do discurso dos candidatos. Quando fala de empreendedorismo, a maioria se relaciona a programas quase assistenciais para formar negócios individuais de pequeníssimo porte. No estúdio, os experientes economistas Célio Fernando, que atua no setor privado, e Alex Araújo, com trajetória ligada ao setor público. O programa vai ao ar na noite de domingo, às 22 horas, nas TVs O POVO e Fortaleza. A TV Assembleia retransmite às 22 horas de segunda-feira.
BLOG DO FÁBIO CAMPOS
A partir desta segunda-feira, dia 26, volto a escrever um blog abrigado no portal O POVO (www.opovo.com.br/blogs). Política, claro, será o tema principal. Porém, como se tornou peculiar desde os tempos em que eu era titular da Coluna Política do O POVO impresso, os assuntos vão ser mais amplos. O blog não será somente de análise, a marca principal de meu trabalho. Será um retorno aos bastidores, com a busca de informações que, no fim das contas, desenham os acontecimentos na Capital e no Ceará. Até lá.Candidata do PT à Prefeitura de Fortaleza, a deputada federal Luizianne Lins explicou, em entrevista ao jornal O Estado, as razões que a levaram a disputar o comando da administração para um terceiro mandato. Sem papas na língua, Luizianne criticou o debate envolvendo segurança pública, classificando a discussão de “equivocada”. Disse, ainda, acreditar no ex-presidente Lula e não ter “vergonha” de tê-lo como cabo eleitoral. Se eleita, Luizianne prometeu trazer inovação para área da educação, onde, além de distribuir tablet para os alunos da rede pública, pretende adotar o passe livre estudantil.
[Jornal O Estado] Na última semana de campanha, o que vai ser prioridade dentro da estratégia eleitoral?
[Luizianne Lins] Tem muita coisa prevista. A principal prioridade vai ser o diálogo com as pessoas sobre a situação de Fortaleza, sobre as propostas que nós temos, sobre o que nós fizemos, sobre porque quero ser prefeita de novo. Esse debate a gente tenta fazer de todas as formas, seja através das redes sociais, seja através do programa eleitoral, porque tenho uma diversidade muito grande. Nosso tempo de televisão é de 1m24seg. Eu tenho menos da metade do tempo que os dois principais adversários. Até costumo dizer: eu tenho muita coisa para dizer e pouco tempo, enquanto muitos tem pouca coisa para dizer e muito tempo. Então, assim, é adverso. Por isso, que vamos tentar o contato corpo a corpo; o contato pessoal com as pessoas e o debate. Então, essa será nossa prioridade.
[OE] A presença do ex-presidente Lula tem um peso importante na sua campanha. O desgaste na imagem dele com as denúncias do MPF abalam a credibilidade do ex-presidente como cabo eleitoral?
[LL] Tenho dito que não tenho vergonha de dizer que tenho o Lula uma referência partidária e política muito forte, enquanto os outros adversários tem escondido seus padrinhos políticos. Quero dizer que, no Ceará, não tenho nenhum padrinho político. Eu venho de um grupo político e tenho uma história. Por um lado, o atual prefeito que tem os irmãos Ferreira Gomes, que o colocou na política e na Prefeitura. E, por outro lado, um candidato que tem coligação com o PMDB, do senador Eunício Oliveira, e PSDB, do senador Tasso Jereissati, e o vice, que é do PMDB e atualmente vice-prefeito, e essas coisas não estão sendo ditas. O Lula passa por um processo difícil da vida dele, porque está sendo criminalizado. Particularmente, eu confio em Lula. Confio, porque conheço o Lula desde os 19 anos e tenho clareza que ele tem exata dimensão do que é o Brasil, que representa o maior líder do país e, certamente, mesmo com todos os ataques, chega uma hora que as pessoas desconfiam.
Acha que esse homem só pode ter enfrentado muita gente grande para poder, neste momento, está sendo sacrificado. E, mesmo assim, vimos, no comício na última quarta-feira, um público de quarenta mil pessoas na Praça do Ferreira. Realmente, a praça estava lotada. E a força do Lula é de emocionar. Então, acho que ganhamos muito mais do que perdemos. Infelizmente, ele veio logo em seguida a denúncia, mas estamos vendo que são denúncias frágeis, até porque o próprio procurador se permite, numa coletiva, dizendo que não tem prova, mas as convicções levam a acreditar. Então, não se condena uma pessoa sem provas. Colaborou mais do que qualquer perda. Acho que deu uma animada na militância.
[OE] A movimentação que se apresenta na campanha mostra uma tendência de enfrentamento entre a senhora e o deputado Capitão Wagner. Qual a sua expectativa para a chegada a um segundo turno?
[LL] Minha expectativa é estar no segundo turno com qualquer dos dois rapazes. Isso que a gente quer assegurar. Na verdade, não é um confronto com o deputado Capitão Wagner. Na verdade, é um posicionamento. Muita gente estava me questionando porque estava só criticando o prefeito. Bom.., ele é o atual gestor.
Já fui gestora, então, é claro que tenho olhar crítico do governo agora. Por outro lado, no momento, que entra no debate político coisas que não são verdadeiras, levando o povo a entendimento equivocado. Tipo: não sou político, mas a pessoa foi vereador e não é político.
Tenta esconder e surfar na onda do descrédito, depois promete coisas que não é de responsabilidade do município. Mas, a força policial é constitucional do Estado. Então, quando vi esse debate, me vi na obrigação de me posicionar, fazendo críticas a atual gestão e críticas e observações sobre esse debate, que está sendo feito e que é completamente equivocado, para que Fortaleza, como tenho dito na TV, não fique no debate medíocre entre a mentira e o medo.
[OE] O debate central da campanha tem sido a questão da segurança pública. Um debate que já rendeu votos em eleições passadas, sobretudo para o Governo do Estado. Mas, agora, o assunto entra no debate municipal. Esse pode ser o fator que vai definir a eleição?
[LL] Não deveria. Em 2004, enfrentei esta discussão com Moroni Torgan, quando queriam militarizar a eleição. Em 2008, novamente, enfrentei o debate com Moroni Torgan, que vinha com apelo da segurança muito forte. Nós, enfrentamos este debate em 2012, com a candidatura do Elmano. Mas, este debate nunca prosperou com essa dimensão. Então, me preocupo porque tem duas chapas, que são dos principais adversários, que têm policial – Wagner já é o próprio policial militar e o Moroni policial federal e compõe a chapa do Roberto Cláudio. Nenhum preconceito, até porque sou filha de bombeiro militar reformado e tenho orgulho disso.
Não é nenhum problema com a corporação Polícia. A questão é dizer que vão resolver o problema da cidade. Mas, o problema da cidade é só segurança? Aí, a pergunta que fica. O Cotam não resolveu o problema. O Ronda do Quarteirão, que elegeu o Cid em 2006, não resolveu, só cresceu. O Raio não resolveu. Então, é a Guarda Municipal que resolverá o problema da segurança. Isso é de uma enganação absurda. Não dá para conviver com esse clima de medo e pavor, porque as pessoas estão amedrontadas mesmo. Mas, o que resolverá mesmo são políticas integradas de segurança pública juntamente com saúde, educação e oportunidade. No nosso governo, tivemos diminuição dos índices de violência. Por exemplo: o Grande Bom Jardim. Lá, fizemos um convênio com o Governo Federal e, durante dois anos, aconteceu um projeto. Ele foi capaz de reduzir em 30% os índices de violência e homicídio no Bom Jardim. Então, está provado, não é colocando mais armas, ou militarização da Guarda, que resolverá o problema. Já fui prefeita e a nossa cidade não vivia esse terror que vive hoje.
[OE] Depois de ser prefeita por oito anos, qual a motivação para voltar?
[LL] Inicialmente, pensava: já cumpri minha missão. Dediquei metade da minha juventude como vereadora, deputada estadual e prefeita para cuidar do povo. Achava que tinha cumprido esta missão. Agora, sou deputada federal, porque poderia contribuir de outra forma. Porém, fui fazer mestrado no Rio de Janeiro, e vim dar aula. Sempre que vinha, o clamor das pessoas que estavam perdendo coisas importantes conquistadas, foi muito forte.
Sofria com o desmanche de programas sociais conquistados durante o nossa gestão. Os equipamento, como Caps, Cras e programas sociais, foram se perdendo. Outra foi partidária. O partido está sendo muito atacado a nível nacional e, então, era um momento do partido sair com uma candidatura forte para poder dialogar com as pessoas. Tudo isso me fez avaliar.
[OE] Críticos da sua administração dizem que a senhora passou oito anos “sem abrir uma nova rua sequer” e defendem a gestão do seu sucessor pelas obras na área da mobilidade, como viadutos e novas vias. Como a senhora vê essa comparação?
[LL] Em primeiro lugar, isso não é verdade. Isso é desinformação. Todos os projetos, e ‘todos’ é uma palavra forte, que o prefeito tocou adiante, como obras da Copa, de mobilidade e etc, foram todos organizados, planejados e captados recursos no nosso governo. Primeiro, é o que deve ser dito. O que foi herdado do nosso governo, no dia 31 de dezembro, último dia da gestão, foram R$ 204 milhões da Beira Mar, R$ 80 milhões da Praia do Futuro, R$ 10,4 milhões do encosto do Morro de Santa Terezinha, Praça do Futuro, além de reforma do Mercado Central, Mercado dos Pinhões, reconstrução do Mercado da Aerolândia, requalificação da Monsenhor Tabosa. As obras viárias para Copa: nós, começamos. Ele só fez concluir. Ou seja, se parar e pensar, nós, deixamos mais de 256 quilômetros de ruas e avenidas com drenagem, saneamento, calçadas padronizadas, rebaixamento para cadeirante.
[OE] A senhora já disse que alguns pontos da cidade foram abandonados. Como a senhora vê Fortaleza hoje, sobretudo na periferia?
[LL] Lamento, porque observamos uma gestão que passou três anos sem olhar para periferia. Agora, cinco ou seis meses antes das eleições, diz que 11 areninhas são grandes obras. Poucas escolas chamadas de educação integral. Inclusive, tenho uma crítica a isso. Temos quase 400 unidades escolares. O ensino em tempo integral tem de ser em todas as escolas. Então, qual o desafio e a proposta? Você universalizar o ensino de tempo integral, mas nas escolas que existem. Não é construir ilhazinhas e dizer que é de tempo integral. Só eu, entre construir do chão e adquirir, foram 81 escolas. Todas com padrão MEC (Ministério da Educação). E algo que vem discutindo, a forma de olhar a cidade.
Acho que o fim da creche é grave. Muitas mães contavam com isso. Impacta a periferia. O fim dos programas sociais, que dialogavam diretamente com a juventude e propunham, para elas, políticas sociais concretas. Isso tudo foi perdido. E a periferia perde com isso.
Por exemplo: é na periferia que mais acontece um problema grave: a desestruturação da saúde pública. Realizamos o primeiro concurso público para programa de saúde da família de Fortaleza. Agora, dia 7 de agosto, fez dez anos que tomaram posse. Sendo médicos e enfermeiros, além de agentes comunitários, para proporcionar a maior cobertura de saúde da família. E quem disse que entregaria remédio em casa: hoje, sequer, tem remédio nos postos de saúde. Então, porque o olhar da periferia é fundamental. É preciso voltar a garantir o fardamento completo, que, hoje, não existe mais. Alimentação de qualidade, hoje, as crianças estão recebendo comida enlatada. Na nossa gestão, tinham legumes e verduras. Laboratórios de informáticas, todos fechados. Quem está sofrendo com isso? Quem tem filho na escola pública, quem não tem médico e remédio nos postos de saúde. Portanto, é fundamental que compreenda, que é preciso ter um governo que entenda que a cidade precisa ser respeitada como um todo. Por isso, nosso slogan: Fortaleza de toda gente. Para o Poder Público, não deve ter público A, B ou C. Às vezes, quem tem menos, precisa mais do olhar generoso e carinhoso e competente do Poder Público.
POR LAURA RAQUEL
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