Para o primeiro-secretário da Assembleia, Sérgio Aguiar (PDT), os embates são inevitáveis, dado o acirramento de ânimos em época de eleição
( Foto: José Leomar )
Com o dia da eleição cada vez mais próximo, tem aumentado o número de deputados estaduais que sobem à tribuna do Plenário 13 de Maio, na Assembleia Legislativa do Ceará, para fazer defesa de aliados e atacar adversários que estão na disputa deste ano. Parlamentares entrevistados pelo Diário do Nordeste disseram que tratar de temas relacionados aos municípios, mesmo que com a campanha em curso, é inevitável, e a tendência é que os embates fiquem cada vez mais acirrados na tribuna da Casa.
Nos dois dias de sessões ordinárias desta semana, não foram poucas as intervenções feitas pelos deputados sobre questões municipais, a maioria dando conta de localidades onde há postulantes aliados dos que levaram o assunto à tribuna.
Quando do pronunciamento do líder do Governo, Evandro Leitão (PDT), sobre a qualidade da educação no Ceará, na última terça-feira (13), por exemplo, Roberto Mesquita (PSD) enalteceu os investimentos feitos pelo prefeito da Capital, Roberto Cláudio (PDT), enquanto que Ferreira Aragão (PDT) destacou a influência de Ivo Gomes (PDT) na melhoria da educação no município de Sobral. Tanto Ivo Gomes quanto Roberto Cláudio são candidatos a prefeito.
Na mesma sessão, Osmar Baquit (PSD) fez denúncias contra a gestão do atual prefeito de Caucaia, Washington Luiz Gois (PRB), enquanto que o deputado estadual Manoel Santana (PT), pai do candidato a vice-prefeito em Juazeiro do Norte Gabriel Santana, na chapa encabeçada por Gilmar Bender (PDT), criticou a atual administração do município. Ontem, foi a vez de Danniel Oliveira (PMDB) tecer comentários contrários à postulação de Ivo Gomes em Sobral, relatando as doações feitas para a campanha do pedetista.
Confusão
Há três semanas, em um acesso de ira, três deputados partiram para as vias de fato, enquanto discutiam ações locais no município de Iguatu. Osmar Baquit, Agenor Neto (PMDB) e Tomaz Holanda (PMDB), este último candidato a prefeito de Quixeramobim, só não se agrediram fisicamente porque a assessoria da Casa Legislativa, bem como militares presentes, evitaram que ocorresse algo pior.
Para o primeiro-secretário da Assembleia, Sérgio Aguiar (PDT), tais embates são inevitáveis, uma vez que os ânimos ficam mais acirrados durante o período eleitoral. Segundo ele, alguns deputados encarnam em si as disputas nos municípios, ainda mais neste ano, quando um terço dos parlamentares está em disputa direta e outro terço envolvido indiretamente com parentes, filhos e esposas. "O clima do município vem para dentro da Casa, e em alguns momentos há exaltação de ânimos, e isso deve causar uma estranheza muito grande", considerou.
Conforme informou, o Legislativo Estadual não será apenado, visto que nenhum parlamentar tem subido à tribuna para pedir voto para determinado candidato. "A crítica a determinado postulante é normal. Eu tenho a convicção que os 46 deputados têm cautela e não vão infringir a legislação eleitoral".
Evandro Leitão concordou com o colega, e opinou que, por mais que se tente policiar, o deputado estadual sempre vai "olhar para seu umbigo, buscando pessoas mais próximas". "Termina sendo inevitável ficar citando os municípios em que você tem interesse", afirmou.
Ambiente propício
"Não é porque estamos em época de eleição que a gente vai se calar diante dos desmandos nos municípios", justificou, por sua vez, o petista Manoel Santana. Segundo ele, em Juazeiro do Norte, há muitas reclamações sobre a área, bem como a respeito do sucateamento dos equipamentos de saúde, que devem ser informados na tribuna da Casa.
Para Roberto Mesquita (PSD), a emoção das disputas locais encontra palco na Assembleia Legislativa por ser a Casa Legislativa um ambiente de discussão. "Não tem como afastar os problemas dos municípios da Assembleia. Como interfere diariamente na vida das pessoas, não há como a Casa não falar a respeito". Ele diz, porém, que os debates se encontram fragilizados, com pouca participação. "Deve existir, no entanto, um debate respeitoso, diferente de agressão", apontou.
Na avaliação de Elmano de Freitas (PT), discutir as cidades é inevitável em qualquer momento. Segundo ele, não pode haver, contudo, redução do nível do debate, desrespeito ou informação errada. "É preciso que se tenha respeito pela opinião do outro, faz parte. Temos que debater a cidade, porque do contrário ocorre um grande absurdo no Interior e o deputado não fala por causa do período eleitoral".