A campanha eleitoral deste ano, com suas diferenças em relação a pleitos anteriores após ter sido aprovada minirreforma na lei eleitoral em 2015, não tem sido fácil para candidatos de siglas pequenas. Dos oito postulantes à Prefeitura de Fortaleza, três têm, diariamente, menos de 30 segundos - tempo de duração média de comerciais - para expor suas propostas na televisão. Destes, dois também não têm, pela nova legislação, presença garantida em debates. No cenário de limitações, então, eles têm dosado, desde o primeiro dos 45 dias de campanha, críticas às novas regras ao mesmo tempo em que buscam votos.
As estratégias para levar aos eleitores os planos de governo, portanto, também acabam sendo outras. Somados, Francisco Gonzaga (PSTU), João Alfredo (PSOL) e Tin Gomes (PHS) têm tempo de propaganda em cadeia de rádio e televisão menor que quatro dos outros adversários no pleito individualmente. O tempo dos três é de 42 segundos, enquanto que Capitão Wagner (PR) tem 3 minutos e 24 segundos, Roberto Cláudio (PDT), 3 minutos e 4 segundos, Luizianne Lins (PT), 1 minuto e 24 segundos e Heitor Férrer (PSB), 51 segundos. Só Ronaldo Martins (PRB) possui tempo de propaganda inferior à soma dos três - 31 segundos sozinho.
O corpo a corpo, então, é prioridade diante das "dificuldades" impostas pela lei, a começar, segundo o operário da construção civil Francisco Gonzaga, "pelo tempo que a gente não tem". "Sete segundos é praticamente nada, mas estamos em canteiros de obras, em locais de trabalho, nas comunidades, essa é a nossa campanha", diz o candidato do PSTU que, em TV e rádio, tem sete segundos diários de propaganda. "É quase impossível a gente passar uma mensagem em sete segundos", constata.
Divisão do tempo
Desde o dia 26 de agosto, a propaganda reservada a prefeituráveis ocupa dois blocos de dez minutos nas grades de programação das emissoras. De acordo com a Lei das Eleições, só 10% do tempo foram distribuídos igualmente entre todos. Já os outros 90% foram fatiados proporcionalmente ao número de representantes que cada partido tem na Câmara dos Deputados. No caso das coligações, o cálculo considerou a soma do número de parlamentares das seis maiores legendas do bloco.
Para Gonzaga, a regra é reflexo de uma "democracia dos ricos", que, na prática, favorece "o lado do poder econômico". "As reformas que aparecem, inclusive a eleitoral, dificultam cada vez mais (para) os partidos pequenos, porque achamos que nas eleições, dentro dessa democracia que é tão reivindicada, os candidatos deveriam ter tempos iguais, para que pudessem, em pé de igualdade, apresentar suas propostas", argumenta.
Detalhes do programa do "governo dos trabalhadores", defendido por ele, não aparecem na TV. No tempo reduzido, o PSTU tem optado por dar voz ao lema "Fora, Temer! Fora todos eles!" e ao slogan já conhecido do partido: "Contra burguês, vote 16". As propostas são repassadas no "boca-a-boca", mas, junto com o apoio recebido nas ruas, vêm questionamentos.
"Os trabalhadores me perguntam: 'rapaz, que democracia é essa que você não vai para o debate e a gente não lhe vê na televisão?'. Digo que é uma democracia de ricos, em que os que têm poder aquisitivo maior têm mais espaço", relata.
Ao seu modo, o vereador João Alfredo também faz uma campanha de "resistência". Na televisão, os 13 segundos de propaganda são pouco para apresentar o conteúdo do programa de governo da coligação do PSOL e do PCB, de 91 páginas. Mas, se não é possível detalhar propostas, o candidato utiliza o tempo, também, para fazer críticas à nova legislação eleitoral e ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que comandava os trabalhos da Casa quando a minirreforma foi aprovada. O desafio, porém, é equilibrar críticas e propostas.
"A gente tem que saber dosar a crítica a essa tentativa de nos invisibilizar e, ao mesmo tempo, tentar apresentar nossas propostas. O que tenho procurado (fazer) no programa de televisão é pegar um ponto específico de uma área do nosso programa e pedir às pessoas para acessarem o nosso site", detalha. "É pegar uma 'frasezinha' naqueles segundos e pedir às pessoas para irem ao site", acrescenta.
'Invisibilizar'
Para João Alfredo, a minirreforma eleitoral de 2015 trouxe uma mudança boa e duas péssimas. Positiva é a proibição do financiamento de campanhas por empresas, que, segundo ele, tornou a disputa mais barata. Por outro lado, o candidato socialista afirma que duas novas regras praticamente condenaram o PSOL à invisibilidade na eleição.
"Só não somos invisíveis porque resistimos. Uma é esse tempo ridículo de televisão, de 13 segundos. Basta ver que na eleição passada o Ailton (Lopes, candidato do PSOL ao Governo do Estado em 2014) teve cerca de um minuto e meio. E a outra coisa é essa questão do debate. A legislação, ao determinar que apenas os partidos com 10 deputados federais são garantidos nos debates, nos deixou praticamente fora. As emissoras poderiam nos convidar, mas estão nos inviabilizando", critica.
Para participar, ele aposta em outros caminhos. João Alfredo tentou ter presença garantida nos debates por meio de pedido de liminar - negado - à Justiça Eleitoral, organizou ato nas ruas, buscou contato com os adversários e até mesmo com as emissoras, mas, até agora, não teve retorno favorável. Tem, então, comentado os debates televisivos na internet. "Vamos fazer sempre, combinando várias atividades: panfletagens, 'bandeiraços', caminhadas, rodas de conversa, 'adesivaços'", cita.
Se João Alfredo, cujo partido tem seis deputados federais, e Francisco Gonzaga, membro de sigla que não possui nenhum representante na Câmara, não têm participado dos debates, o deputado estadual Tin Gomes, sabendo das limitações que o pequeno PHS teria na campanha, buscou coligação para não ficar de fora das discussões na TV. "Eu lutei muito para fazer coligação e me garantir nos debates", destaca.
Discurso
A inconformidade com as novas regras, desde o início da campanha, divide espaço em quase todas as falas do candidato com suas propostas para a cidade. "Nas entrevistas que eu tenho dado, começo criticando o processo (eleitoral) e depois boto as minhas propostas, mas em um programa eleitoral não tenho como pensar nisso", lamenta. "Eu vou para a tribuna da Assembleia (Legislativa) para mostrar que o Congresso está sendo irresponsável e os partidos grandes são coniventes entre eles para que permaneçam no poder".
Apesar de ter formado coligação com três partidos (PMN, PRP e PTdoB), o que lhe dá o direito de participar dos debates por somar 13 deputados federais no bloco, Tin Gomes tem apenas 22 segundos de propaganda em TV e rádio. Para aproveitar o pouco tempo, a estratégia dele é a repetição. "É colocar quatro, cinco propostas e ficar repetindo em vários programas, para massificar", justifica.
Para o deputado estadual, o próprio tempo de campanha - que diminuiu de 90 para 45 dias - prejudica os partidos pequenos, uma vez que, na avaliação dele, não dá aos postulantes chance de "compensar" o pouco tempo de propaganda com caminhadas que cheguem a todas as regiões da cidade. "Ele só vai ser candidato mesmo porque quer ser. As chances de alcançar o eleitor são muito pequenas", diz.
Mas, apesar das diferenças em comparação aos concorrentes, nenhum dos três parece desanimado no pleito. Francisco Gonzaga, por exemplo, acredita que a eleição é "um jogo de cartas marcadas", mas ressalta que não está na disputa apenas para pedir votos, e sim para, também, chamar trabalhadores à luta. "O balanço é positivo, mesmo com todos esses problemas. É positivo porque encaramos a eleição como um momento de luta e apresentamos um programa que é diferente dos outros".