Decidido hoje em votação histórica no Senado, impeachment de Dilma Rousseff (PT) lança impactos chegando à disputa pela Prefeitura de Fortaleza. Podendo confirmar ou não o PMDB como ator central da política brasileira, resultado cria nova bandeira para petistas e pode afetar base de Roberto Cláudio (PDT), candidato opositor a Michel Temer (PMDB), na disputa.
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À época do afastamento de Dilma, em maio deste ano, vereadores de siglas ligadas a RC admitiram ao O POVO que o impeachment tornaria “mais atraente” chapa de Capitão Wagner (PR) na disputa. Tudo por conta da aliança do militar com o senador Eunício Oliveira (PMDB), próximo de Michel Temer e detentor de grande prestígio na indicação de cargos federais.
Com confirmação de Temer no Planalto, peemedebistas confirmariam nova munição na hora de negociar apoios de última hora. Até agora, no entanto, parlamentares evitam comentar possíveis defecções para o lado do opositor. “Só vai se pensar nisso quando tiver um resultado concreto”, diz um vereador, que não quis se identificar.
Nos últimos meses, Eunício tem ganhado espaço em cargos federais, com exoneração de aliados de Cid e Ciro Gomes (PDT) em órgãos como o Banco do Nordeste (BNB) e do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Resta saber, no entanto, se as negociações conseguirão atrair algum dos 18 partidos na coligação do prefeito.
Rejeição a Temer
Por outro lado, RC tem do seu lado a associação de Capitão Wagner com Temer, alvo de alta rejeição na Capital. Segundo última pesquisa O POVO/Datafolha, 79% dos eleitores da Cidade afirmam que não votariam em candidato apoiado pelo líder peemedebista.
Apesar da má imagem do presidente em exercício, Capitão tem dito "não ter receio" de se vincular ao peemedebista. Pelo contrário, ele chegou a afirmar querer o apoio de Temer.
“Não tenho nenhum receio de ser ligado ao Temer. Seja quem for o prefeito que vença, o presidente deve ser o Temer, se confirmada a votação do impeachment. É muito mais interessante nos aproximar da Presidência da República para buscar os recursos”, disse ao O POVO.
Fora RC, Wagner e Luizianne Lins (PT), demais candidatos na disputa, como Heitor Férrer (PSB), Pastor Ronaldo Martins (PRB), Tin Gomes (PHS), João Alfredo (Psol) e Francisco Gonzaga (PSTU) não possuem laços com o atual governo, sendo pouco afetados pela votação.
Nas últimas eleições em Fortaleza, foram comuns as “viradas de casaca” de partidos durante a campanha, conforme a maré da eleição. Em 2012, por exemplo, apoio do PTC oscilou diversas vezes entre Roberto Cláudio e Elmano de Freitas (PT) e foi parar na Justiça. Em 2014, foi o PSC que motivou embate entre candidaturas de Eunício e Camilo Santana (PT) ao governo.
SAIBA MAIS
Resta ainda indefinição sobre como o PSDB, atual aliado de Capitão Wagner (PR) em Fortaleza, deverá se posicionar com relação ao governo Michel Temer após a votação do impeachment.
Nos bastidores do impeachment, se comenta que a sigla tem emitido sinais de que deve deixar o governo caso o afastamento de Dilma seja confirmado. A principal queixa seria de que o peemedebista não tem tocado pautas de corte de reajustes e equilíbrio das contas públicas.
A ação também faria parte do plano do partido de olho em 2018. Resta saber se a ação afetaria o ajuste entre PMDB e PSDB com Capitão Wagner em Fortaleza.
QUEM É ATINGIDO
Capitão Wagner (PR)
Seria o principal beneficiado com confirmação do impeachment de Dilma. Sua proximidade com Eunício Oliveira (PMDB), aliado próximo de Michel Temer (PMDB), poderia garantir grande força política na hora de negociar apoios de última hora entre os 18 partidos da base de Roberto Cláudio. Ele precisaria enfrentar, no entanto, grande desgaste de Michel Temer entre fortalezenses.
Roberto Cláudio (PDT)
Impeachment de Dilma confirmaria o afastamento definitivo também da influência de Cid e Ciro Gomes no governo federal. Isso acabaria prejudicando Roberto Cláudio, que sofreria ameaça de debandada de partidos em sua base. O prefeito, no entanto, pode associar Wagner ao novo governo, que já começa acumulando desgastes entre eleitorado de Fortaleza.
Luizianne Lins (PT)
Caso raro entre candidatos petistas, a ex-prefeita de Fortaleza não tem “escondido” a presidente Dilma ou o PT de sua campanha eleitoral. A saída da presidente, portanto, pode gerar nova bandeira para suas atividades, mobilizando sentimento daqueles insatisfeitos com uma possível aprovação do impeachment pelo Senado Federal nesta quarta-feira.