A escolha de um vice de força
Do ponto de vista dos votos que agrega, Roberto Cláudio (PDT) tem o mais forte candidato a vice-prefeito que poderia ao seu lado. A interrogação é, em caso de vitória, qual seria o peso de ter ao lado do prefeito um vice com a força política de Moroni Torgan (DEM).
Desde a redemocratização, nenhum vice-prefeito chegou ao cargo com tamanho peso eleitoral. Aliás, de Maria Luiza para cá, o único vice que tinha mandato ao ser eleito era Tin Gomes (PHS), presidente da Câmara Municipal. Com ou sem mandato, os últimos cinco vice-prefeitos de Fortaleza romperam com os prefeitos. Moroni não necessariamente precisa seguir essa sina. Mas, se resolver fazê-lo, tem mais força eleitoral que qualquer outro para o embate.
O deputado do DEM, a propósito, já teve sua experiência de vice. Foi no Governo do Estado, quando compôs chapa ao lado de Tasso Jereissati (PSDB), entre 1995 a 1998. Romperam em 1997.
Mas, antes de se preocupar em governar, é necessário vencer a eleição. Esse parece ser o pensamento de Roberto Cláudio. Em conversas reservadas, o prefeito não escondia que Moroni era o nome que mais agregaria em termos de voto. Tinha dúvida sobre a disposição de um deputado federal se dispor a deixar Brasília para ser vice-prefeito. Uma vez que Moroni foi convencido, o peso que agrega à chapa é inegável.
Leva eleitores, mas, também, rejeição. Não é pequena, como se viu nas eleições majoritárias que disputou. Entretanto, mais que os votos que tem, o deputado federal do DEM é escolha estratégica. Diz muito sobre como Roberto Cláudio vê os adversários e sobre como se prepara para o discurso de campanha.
O ENFRENTAMENTO COM WAGNER
Moroni é parte crucial do contraponto de Roberto Cláudio em relação ao Capitão Wagner (PR). O candidato do PR tem a maior aliança e a melhor estrutura entre os candidatos de oposição. Wagner tem força entre os policiais. Moroni é policial federal aposentado e foi secretário da Segurança Pública. Wagner defenderá atuação firme do Município em relação à segurança pública. Bandeira que sempre foi de Moroni.
CENTRALIDADE DO TEMA
A presença do deputado do DEM na chapa, com objetivo estratégico de se contrapor a Wagner, sinaliza o quanto o tema segurança deverá ter presença forte na eleição. Até porque o vice de Wagner, Gaudêncio Lucena (PMDB), é empresário da área de segurança privada. Se a eleição municipal passada era marcada pela profusão de médicos por todos os lados, este ano o perfil muda. Para pior.
Os candidatos da área de segurança dominam a eleição, porque o tema está entre as preocupações cruciais do fortalezense. Ainda que o Estado divulgue melhora nos indicadores de criminalidade, a situação ainda é gravíssima. Então, a presença do tema na campanha é compreensível. O problema é a forma como será abordado.
A Prefeitura tem tudo a ver com segurança. Pela forma como mantém e cuida os espaços públicos, pela indução ou não à ocupação das ruas, calçadas e praças, ao permitir ou não a degradação urbana, pela qualidade ou precariedade da iluminação pública, pela urbanização e preservação de áreas verdes. A existência de terrenos baldios, casas abandonadas, muros altos são outros fatores de insegurança. O Município não tem ingerência direta sobre bens privados, mas pode ser indutor de formas de ocupação, por leis de uso e ocupação do solo. Enfim, há margem para rico debate sobre as formas de tornar Fortaleza mais segura, por meio de políticas urbanas, conservação dos espaços coletivos, usos adequados e sustentáveis dos locais públicos.
O pior dos mundos é se o tema segurança entrar na campanha pelo viés do policiamento, da presença ostensiva da Guarda Municipal como espécie de polícia municipal. Não é sua natureza, seu preparo, seu papel nem sua necessidade. Claro que Polícia é importante, mas tem seu espaço de ser debatida. E não é na campanha municipal. Tratar a Guarda como subpolícia é pior ainda. Se a discussão sobre armar ou não a Guarda se tornar um dos motes centrais da eleição, será a miséria suprema do debate.
Ao longo de sua história, Moroni muito tentou, mas nunca conseguiu apresentar visão da atuação do Município nessa área para além da velha ideia de colocar “milhares de homens na rua”, como apregoou desde 2000. Tampouco Capitão Wagner, até hoje, elaborou concepção mais sofisticada a esse respeito. Aguardemos o que a campanha trará.