O deputado estadual Manoel Santana defende que o PT repense seus objetivos táticos e estratégicos a partir de falhas que vem protagonizando
( Foto: José Leomar )
O Brasil vive, hoje, um momento atípico em sua história política, com um presidente interino, do PMDB, uma presidente afastada, do PT, e um presidente da Câmara Federal, do DEM, eleito na semana passada para um mandato "tampão" de seis meses. Petistas cearenses entrevistados pelo Diário do Nordeste reconheceram que parte desta mudança, na qual o espectro político de direita vem se consolidando, aconteceu por erros na condução da política nacional quando do Governo do Partido dos Trabalhadores.
Para o deputado estadual Manoel Santana, a agremiação perdeu o norte da condução estratégica da política quando se preocupou mais com a crise no capitalismo, sendo responsável por modelos de políticas compensatórias, mas que deram resultados. No entanto, ele ressalta que, mesmo com índice bom no que diz respeito à economia, a estrutura econômica era fraca e foi abalada pela crise econômica internacional, perdendo-se muito do que foi conquistado.
"Isso se reflete na política partidária e o partido perdeu a perspectiva de ideologia. Dentro de uma votação como essa (do novo presidente), na Câmara dos Deputados, o PT deveria marcar muito bem seu espaço ou estar organizando as forças de esquerda em um projeto político claro. Mas ocorreu uma fragmentação que resultou na indicação do DEM, o que representa um retrocesso, sendo, no entanto, o mal menor", lamentou.
Tática e estratégia
Para o deputado petista, é necessário que o partido repense seus objetivos táticos e estratégicos, pois falhou nos dois. "No tático, quando fez alianças a qualquer custo para se manter no Governo, e no estratégico porque perdeu o objetivo a longo prazo. Eu tenho dito nos debates internos do PT que a aliança com o PMDB lá atrás foi um mal necessário, mas foi isso que contribuiu, de forma importante, para a nossa fragmentação e fortalecimento deles", opinou.
Santana, no entanto, salienta que o contexto da crise brasileira não pode ser visto fora do que ocorre nos demais países da América Latina, visto que, em sua análise, há um revés dos governos democráticos e populares. Para ele, nos países onde ainda existe sobrevida deste pensamento ideológico, isso se dá porque há uma política estratégica clara. "Faltou isso no Brasil e na Argentina, por exemplo".
Presidente do PT em Fortaleza, o deputado estadual Elmano de Freitas disse que o partido contribuiu para a alteração da conjuntura política nacional quando não insistiu em fazer reformas estruturais no País, como a Política, a Tributária e a dos Meios de Comunicação. "A falta de reformas contribuiu para o crescimento de pequenos partidos sem ideologia, e conseguiu fazer surgir figuras como o (ex-presidente da Câmara Federal) Eduardo Cunha", disse.
Para Elmano, tanto no Congresso quanto no Governo há uma pauta de retrocesso no que diz respeito aos direitos dos trabalhadores. "O povo brasileiro, os estudantes do Fies e Prouni, vão ter que lutar muito para garantir os direitos conquistados com o PT. A sociedade que foi às ruas a favor de impeachment, ou não, não quer a diminuição de direitos", afirmou.
Rachel Marques, por sua vez, reconheceu que o PT foi responsável por muitos erros ao longo do Governo da presidente afastada Dilma Rousseff, mas, segundo ela, o motivo que levou ao afastamento da petista não foi a corrupção. A deputada reconhece que parte das mudanças na conjuntura política nacional foi oriunda da gestão petista. Ela denominou o momento atual do País como "retrocesso diante de avanços recentes com a redução da pobreza e desigualdades".
Reação popular
A parlamentar disse, porém, estar otimista com os rumos que a política brasileira está tomando, uma vez que, segundo ela, houve uma reação da população que, inclusive, resultou na melhoria da popularidade de Dilma e do ex-presidente Lula. "Com certeza o PT tem erros, mas não posso responsabilizar o partido por essa onda direitista, conservadora. O PT tem erros e precisa fazer críticas, mas há uma onda conservadora no mundo".
Já o deputado Moisés Braz opinou que o PT tem pouca responsabilidade na mudança do espectro político nacional, atribuindo à Dilma Rousseff a culpa da crise com as demais legendas, visto que a chefe do Poder Executivo, atualmente afastada, não dialogou com o Congresso Nacional como deveria ter feito. "Esse diálogo dependia mais dela, até porque o partido se articulou bem na Câmara. Mas tudo isso é culpa também de um Congresso Nacional que só pensa em seus interesses", apontou.