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Segunda, 04 Junho 2012 07:01

"Prévias fortaleceriam PSDB para eleições"

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  “Eu vejo as prévias como uma coisa que depura e que cristaliza a relação política e, consequentemente, fortalece o partido”. Essa é a opinião do jornalista e coordenador da ONG Instituto Vida, João Mota, que trava uma luta interna dentro do PSDB para que a sigla realize uma prévia, junto a seus filiados, a fim de se obter um nome à disputa à prefeitura de Fortaleza. Mota criticou a morosidade do partido no âmbito municipal e reconhece que o PSDB “desaprendeu a fazer oposição”, mas mostrou-se confiante quando ao desempenho dos tucanos nas eleições vindouras. Mota pregou ainda que o candidato tucano seja alguém que conheça os “intestinos da cidade”. Segue abaixo os principais trechos da entrevista. O Estado: Você esteve recentemente em Brasília, no encontro nacional dos pré-candidatos do PSDB nas 100 maiores cidades do País. Qual era o clima do evento?João Mota: O clima foi bom, as pessoas estão animadas, empolgadas com o clima político. Nós acreditamos que o PSDB vai fazer bonito agora em 2012. O PSDB conseguiu, nesse tempo todo, ficar mais maduro e, por conta disso, acho que vamos conseguir fazer uma boa quantidade de prefeitos e vereadores no país todo. OE: No âmbito de Fortaleza, como está a questão das prévias, no PSDB?JM: Eu tenho sido forte crítico dentro do próprio partido. Eu acho que o PSDB estava absolutamente parado. O presidente do diretório municipal, Pedro Fiúza, foi para São Paulo, tomar de conta dos negócios dele e só agora retornou à Fortaleza, e isso porque eu o instiguei. Eu disse que era lastimável e problemático que, num momento tão decisivo da política, o nosso presidente não estivesse aqui. E tenho a impressão que isso chegou aos ouvidos dele. Ele cometeu um pequeno erro de, ao chegar, depois de tanto tempo distante, ir logo dizendo como que seria o funcionamento, que o Marcos Cals é o candidato. Mas esse é o tipo de coisa que se faz em uma empresa, quando se é o dono. Na política não é assim. O partido tem uma vida diferenciada. Os ativos políticos estão engajados e, muitas vezes, surgem, da noite para o dia, novas lideranças. Então, você tem que se inteirar do que aconteceu e de quais foram as pessoas e as novas ideias que surgiram. E o Pedro Fiúza não fez isso. OE: Então, o erro não teria sido a ausência, mas sim, de ficar por fora do que estava acontecendo internamento no partido?JM: Isso. A questão da presença física não é importante, e sim, deixar de acompanhar as questões orgânicas do partido. Eu até prefiro acreditar que ele estava afastado e que não ficou sabendo do que estava acontecendo dentro do partido, do que acreditar que ele estava sabendo e chegou atropelando as decisões sem dar muita atenção ao processo que já está acontecendo. Então, Pedro retornou para Fortaleza e voltou a participar do processo eleitoral, quando foi infeliz nas primeiras colocações, mas já passou. O Marcos inclusive cobrou de mim, através da imprensa, o fato de que eu não tinha oficializado o meu pedido de pré-candidatura. Então, no dia seguinte, eu fiz o ofício ao partido solicitando isso. Mas acho até que ele não fez isso, acho que ele é pré-candidato, mas não oficializou. Como ele me cobrou, eu resolvi fazer. Entreguei e protocolei, informando que sou pré-candidato. A decisão final não é do Marcos, nem minha, é do diretório municipal e, no momento que eu fiz isso, ele (Marcos Cals) me disse que acreditava que a municipal não ia realizar as prévias porque não há tempo hábil. Eles também não oficializaram que não vão poder realizar as prévias, então, eu continuo defendendo a realização das prévias porque acho importante para o crescimento partidário e só vou deixar de cobrar prévias quando eles me oficializarem, justificadamente, porque que as prévias não vão acontecer. OE: E o que diz o estatuto do partido a respeito da realização das prévias? JM: O estatuto do partido é omisso com relação a tempo, apenas diz o seguinte: existindo mais de um candidato, tem-se que realizar as prévias. E precisamos usar do bom senso. É importante que a prévia seja um instrumento absolutamente democrático. Em minha opinião, quando eu comecei a cobrar a realização das prévias, há dois meses, nós poderíamos ter feito da seguinte forma: organizado três reuniões, convidando os delegados do partido e os filiados, onde iríamos debater e defender as ideias que cada um tem para Fortaleza. Quem seriam os pré-candidatos: João Mota, Carlos Matos, Fernando Hugo, Marcos Cals, fulano, beltrano, e, aí, iríamos defender nossas ideias. Depois disso, esse conjunto de pessoas reúne-se e vota em quem acredita que seja o melhor candidato. Isso seria absolutamente democrático, como acontece nos Estados Unidos. Infelizmente, o PSDB nunca teve prévias, e aqui cabe uma crítica ao partido, já que a realização de prévias nunca é ruim para o partido. OE: Mas existe também um pensamento de que a realização de prévias divide e enfraquece o partido. JM: De forma alguma, não. Eu acredito que as prévias fortalecem. Eu sou pré-candidato e o Marcos também o é, nós dois nos dirigimos ao conjunto dos filiados do partido para dizer a razão pela qual somos candidatos, defendendo, discutindo e aprimorando as nossas propostas para Fortaleza. Os filiados se estimulam por um ou outro candidato, votam e vamos completamente fortalecidos para o pleito. Como pessoas adultas, o que perder, vai apoiar o que ganhou, e daí vamos para uma relação eleitoral muito mais fortalecida. Eu vejo as prévias como uma coisa que depura e que cristaliza a relação política e, consequentemente, fortalece. Essa ideia de que as prévias enfraquecem o partido é uma visão patrimonialista. OE: Porque o senhor decidiu entrar nessa disputa? JM: Não é que eu veja o Marcos Cals como um nome ‘ruim’. É um nome muito bom. Ele foi presidente da Assembleia Legislativa, de uma competência imensa, foi deputado estadual quatro ou cinco vezes, assumiu a Secretaria de Justiça do governo Cid Gomes e, lá, também foi muito competente. Foi candidato a governo do Estado de uma maneira que não deveria ter sido, porque ele tinha acabado de sair do governo. Ele assinou o afastamento em um dia e, no outro seguinte, assumiu como deputado e fez um discurso parabenizando o governo Cid Gomes pelas grandes realizações, pela competência. Dez dias depois, anunciou que era candidato ao governo, como oposição. E eu tenho que fazer críticas quanto a isso. Como não criticar essa postura? Então, acho que isso foi um erro, o Marcos deveria ter sido candidato novamente a deputado estadual, teria sido melhor para o partido. Acho que poderíamos ter conseguido, dentro do partido, outro nome que pudesse ter feito uma crítica mais qualificada ao governo e acho a mesma coisa agora para prefeito. O Marcos é um nome excepcional, mas para voltar ao parlamento estadual. Para ser prefeito de Fortaleza, acho que o Marcos não conhece os “intestinos” da cidade. Então, acredito que seja melhor para o partido que se permitisse que o nosso candidato seja alguém que milite mais próximo do povo, que conheça as demandas mais próximas. Assim, teríamos mais qualificação para fazer o discurso e a crítica. OE: Mas o tempo de fazer oposição não seria exatamente o período em que o partido está fora do poder? JM: O PSDB é um partido que nasceu no poder, praticamente. Quando o Tasso foi candidato a governador, pela primeira vez, ele se elegeu. Então, eu não sei se nós não fazemos oposição porque nós não queremos ou porque não sabemos. Eu prefiro acreditar que é porque nós não sabemos fazer oposição. E por conta disso, de estar sempre no poder, e de não ter essa ambiência com a população, eu acho que fica muito mais difícil adotar essa postura.
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