Os metros que separam a parte central e o portão do Centro Educacional Patativa do Assaré (Cepa) só foram vencidos pelo adolescente de 17 anos com a ajuda da avó. Na tarde de ontem, com o joelho ferido por uma bala de borracha na rebelião de horas antes, caminhava num arrastar. Mais que com a boca, era com os olhos que ele falava de dor, revolta e alívio. “Foi um mês que eu queria esquecer”, contou, enxugando, com raiva, as lágrimas.
A infração cometida que valeu ao adolescente o mês no Cepa não quis ser comentada. Mas a família tinha certeza que a pena era muito maior do que o delito. Familiares de outros jovens que se reuniram ontem em frente ao centro concordavam. Impedidas de visitá-los por conta das rebeliões na noite de terça, 31, e na manhã de ontem, as mães e namoradas ouviam no relato do jovem as suspeitas das condições precárias se confirmarem.
“Não tem água, não tem merenda, a gente morre de fome. Não tem lazer, é direto preso. A gente apanha de madrugada dos orientadores de balaclava. Por isso que estoura rebelião” , relatou o ex-interno.
Ontem seria dia de mutirão de atendimento e orientação jurídica da Defensoria Pública no Cepa, mas as rebeliões e o clima de instabilidade não permitiram. Após visitar o centro, o defensor público Antônio David Guerra Rolim de Oliveira contou que cerca de dez adolescentes estão feridos. Um, com os pés queimados, teria sido obrigado a caminhar em um colchão em chamas.
Conforme o defensor, entre outros problemas, há relatos de que a unidade está sem água há mais de uma semana. Ele informa que a Secretaria do Trabalho e do Desenvolvimento Social (STDS) deve receber ofício requerendo medidas emergenciais.
Por meio de nota, a STDS informou que a Superintendência das Medidas Socioeducativas, cujo projeto espera aprovação na Assembleia Legislativa, “deverá pôr fim a uma série de problemas acirrados neste momento de transição de atual modelo para o novo sistema”.