Rebeliões registradas neste fim de semana foram apenas o “primeiro Carandiru” que pode ocorrer no Ceará, disse ontem o deputado Capitão Wagner (PR). O parlamentar afirma que o governo não tem conseguido lidar com a organização do crime local, que pode voltar a organizar conflitos com a planejada instalação de bloqueadores de celular em penitenciárias do Estado.
“Com certeza o crime vai tentar de alguma forma se rebelar contra isso, e aí mais vidas vão ser perdidas (...) os agentes não tem estrutura: É preciso anunciar concurso para a categoria, melhorar equipamentos e armamentos”, disse Wagner, que compara o episódio deste fim de semana com o massacre do Carandiru – rebelião de 1992 que terminou com a morte de 111 detentos em São Paulo.
Líder do governo na Casa, Evandro Leitão (PDT) rejeita a tese e segue linha parecida com a do Chefe de Gabinete de Camilo Santana (PT), Élcio Batista, que responsabiliza o comando de greve dos agentes penitenciários pela crise. Ele destaca que só houve rebeliões onde estavam previstas visitas aos detentos, havendo então uma “orquestração” para se instalar o caos.
O líder destaca, no entanto, que o governo não irá recuar na instalação de bloqueadores em presídios. Ele afirma ainda que o governo manteve todo diálogo com agentes, apresentando diversas propostas para a categoria. “Tem que se dialogar, mas não essa atitude desastrosa, irresponsável”. Wagner rebate: “Diálogo para eles é só escutar, mas sem dar resposta ”.
Embates
Na manhã de ontem, rebeliões registradas no Estado foi assunto dos mais comentados na Assembleia. Para Tin Gomes (PHS), as mortes foram uma “irresponsabilidade” do sindicato dos agentes penitenciários. Já Zé Ailton Brasil disse não ter sentido a tese de que o governo não dialogou com agentes. “Mesmo com crise, a prioridade sempre foi a segurança pública”.
Já Roberto Mesquita (PSD) classificou a tese de culpa dos agentes como “conversa fiada”. “Camilo Santana precisa vir a Assembleia e se pronunciar, reconhecer sua fraqueza política quando se trata de segurança”. Heitor Férrer (PDT) destacou que rebeliões eram “tragédia anunciada”, diante da situação de “falência” do sistema. “Nossos presídios têm capacidade para 11 mil presos, e temos 23 mil”.
Presidente do sindicato dos agentes penitenciários, Valdemiro Barbosa lamentou a “politização” da questão na Casa. “Vimos que acabou sendo um embate entre base e oposição. Isso para nós não é interessante, porque o que nos importa é investimento no sistema penitenciário. Até para que não se transforme num embate entre candidatos a prefeito”.
Valdomiro também diz concordar com a tese de Capitão Wagner de que novos confrontos podem ocorrer. “O que ocorreu foi que a bandidagem viu que o sistema está esculhambado e avançou para acertar suas contas. Se não temos efetivo, armamento, munição, disciplina, o que vai fazer depois? Eles só se aproveitaram disso”, diz.