O governador Camilo Santana, oficialmente, comunicou aos deputados estaduais cearenses, recentemente, que aproximadamente 10% da população cearense têm "redes coletoras à disposição e não se interligam aos serviços. Esse é o quadro de desperdício do dinheiro investido, que favorece às doenças de veiculação hídrica direta e indireta que grassam no Estado e que contribui para a poluição ambiental dos rios, do mar e do lençol freático".
Levando-se em consideração a situação débil da saúde pública estadual e a importância do esgotamento sanitário na redução dos gastos com o atendimento da população nos postos e equipamentos outros do gênero não deixa de ser reprovável esse quadro, fruto da leniência da gestão, posto aceitar essa situação, posto dispor de meios para impor as ligações e a consequente utilização do sistema.
Até por empobrecido estarem, é relativamente pequeno o gasto dos governos municipais, estaduais e federal com a saúde da população, comparando-se com os valores utilizados pelo serviço complementar praticado pelos planos de saúde.
No Ceará, por exemplo, o somatório da parte do seu erário com o montante do Sistema Único de Saúde - SUS, praticamente se equipara ao total empregado pelas quatro principais operadoras, com a diferença abissal entre o contingente de pessoas atendidas por estas, e o do serviço público. Se existe um milhão de cearenses usuários da saúde complementar, pagantes ou dependentes de um plano de saúde, por um custo aproximado de R$ 3 milhões, todo o restante da população, mais de 7 milhões, atrás de consultas, cirurgias, hospitalizações e medicamentos nos 184 municípios, com um orçamento praticamente igual.
A disparidade dos números, tanto de recursos quanto de atendimentos, mostra como é imperiosa se ter uma gestão eficiente nesse setor, deveras sensível, em qualquer dos seus estágios -, do precário posto ao hospital terciário -, por tudo que ele encerra. O Ceará ainda não alcançou esse estágio, nem quando bem menor era a sua estrutura física de equipamentos.
O êxito da experiência gerencial no Hospital Waldemar Alcântara, de longas datas, parece ter sido única. Aliás, este estabelecimento é tão diferenciado dos demais públicos cearenses que pouco dele se fala, ao contrário dos seus pares de Fortaleza, como o Hospital Geral e o Hospital de Messejana, para ficarmos apenas nos próprios do Estado, sempre presentes no noticiário, não por seus grandes feitos, alguns até merecedores de registro, mas, via de regra, sempre são notícias por suas crônicas deficiências.
Todos ressaltam a importância do esgotamento sanitário para a saúde pública. É repetidamente enfatizado que R$ 1 aplicado em saneamento se reduz R$ 4 em gastos com saúde. Se verdade é, e parece ser, portanto não se tem contestação, como justificar, então, ter o Estado do Ceará uma rede coletora, para atender a 850 mil pessoas, desativada, ou não utilizada, tendo na outra ponta postos de saúde lotados, elevados gastos com medicamentos e outras dificuldades tão exploradas?
Periféricos
Realmente, falta eficiência na gestão nos setores responsáveis, no caso específico local das Secretarias das Cidades e da Saúde. Inconcebível essa triste realidade tornada pública pelo governador, não apenas pelo desperdício do dinheiro público, mas sobretudo pela importância do saneamento para a qualidade de vida das pessoas.
Camilo Santana propôs ao Legislativo, na primeira quinzena deste mês, a instituição de uma política e um sistema estadual de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, e de informações em saneamento. Ele próprio foi dizer aos deputados das dificuldades que o Ceará experimenta com a captação e oferta de água, e com a perspectiva de universalização do saneamento. Os dois temas ainda não mereceram, na Assembleia, a atenção que reclamam.
Nenhum deputado, até agora, ousou tratar das questões com o relevo e a importância que elas encerram. E por certo não o farão. Os temas relevantes para a administração pública cearense, e consequentemente para a sua população, quase nunca são tratados com a percuciência necessária. Os nossos deputados preferem os discursos fáceis, periféricos e sobretudo demagógicos, aqueles que não reclamam estudos e satisfazem apenas o ego e o interesse político imediato.