Comissão Especial de Anistia apreciou os processos de cinco mulheres perseguidas pelo regime militar
FOTO. PAULO ROCHA/ASSEMBLEIA
Os olhos de Valéria Maria de Aguiar, que permaneceram molhados durante toda a manhã, denunciavam a importância daquele ato. O Dia Internacional da Mulher para a militante política aposentada, assim como para outras quatro mulheres, foi comemorado com o presente que esperavam há mais de três décadas. Neste dia, o Estado do Ceará pediu desculpas oficiais àquelas que sofreram perseguição no tempo da ditadura militar.
A ação aconteceu ontem em auditório da Assembleia Legislativa, quando a Comissão Especial de Anistia Wanda Sidou, vinculada à Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado (Sejus), realizou sessão extraordinária para apreciar processos de cinco mulheres perseguidas pelo regime. Destas, uma já faleceu, e foi representada por familiares.
Na ocasião, todas tiveram a oportunidade de contar sua história no período do golpe militar. Após cada depoimento, os conselheiros aprovavam o requerimento de indenização e, em nome do Estado, proferiam fala de desculpas a cada mulher. “É motivo de gratidão muito grande o Estado reconhecer que a gente de qualquer forma procurou contribuir um pouco para a democracia”, falou, emocionada, dona Valéria, ex-presa política. Quem proclamava os pedidos de desculpas, o presidente da Comissão da Anistia Mário Albuquerque, destacou que a ação simbólica não tinha intenção de reparar os erros cometidos pelo Estado, mas reconhecê-los. A atitude também emocionou Eliane Gadelha Dias, professora aposentada. “Depois de 52 anos do que eu passei, o Estado vir fazer isso agora me permite descansar sabendo que a justiça foi feita”, afirmou, arrancando aplausos dos presentes.
Além dela, Moema São Tiago, assessora política e militante que teve de passar cerca de seis anos exilada, disse se sentir homenageada com o ato. As outras duas mulheres que receberam pedidos de desculpas foram Francisca das Chagas Lima de Souza, operária aposentada, e a já falecida Maria de Lourdes Ferreira, que também era operária. Desde que Comissão foi instituída, em 2004, mais de 200 pessoas foram indenizadas. No total, foram pagos R$ 5,5 milhões. (Letícia Alves)