Quando a crise da saúde se tornou mais visível, em 2015, o prefeito Roberto Cláudio (PDT) anunciou que construiria o “IJF 2”. A ideia havia sido apresentada por um adversário do atual prefeito na eleição de 2012 – Heitor Férrer (PSB). Os dois devem se enfrentar novamente em outubro deste ano. Há quatro anos, Heitor era o pedetista e Roberto Cláudio estava no PSB. Passados quatro anos, eles trocaram de proposta e de partido.
Justiça se faça, o prefeito já havia anunciado que abraçaria a ideia de um anexo do Instituto José Frota ainda no segundo turno de sua campanha, quando recebeu adesão do PDT, embora Heitor tenha declarado neutralidade. E, quando o prefeito anunciou que encamparia a ideia, em junho do ano passado, Heitor comemorou. Naquela época, a preocupação com financiamento já estava presente. O deputado, na época, pediu que Roberto Cláudio já fizesse contatos com o Ministério da Saúde para deixar já combinados os repasses necessários ao funcionamento. Em 2012, em entrevista à rádio O POVO/CBN, Heitor dizia que a manutenção do hospital seria “dentro do que se gasta no próprio IJF. Os gastos com as filas são onerosos”.
Sobre a ideia em si, já escrevi um punhado de vezes: melhor que um grande hospital é uma rede capilarizada, nos bairros, perto da população. Um mega-hospital traz algumas vantagens: é possível construir uma estrutura de excelência. Mas, a maioria dos atendimentos pode ser feita em outras unidades. É melhor para todos. Menos, talvez, para a propaganda oficial, que fatura melhor com uma grande estrutura para propaganda.
A SOLUÇÃO ALÉM DO IJFPelo exposto acima, não penso que um IJF 2 seja a melhor saída. Mas, em conversa com gestores do IJF, eles deixam claro que a solução para o IJF não está dentro do hospital. Seja com um anexo ou investindo em outros hospitais, é preciso criar formas de desafogá-lo. O IJF virou símbolo da crise por suas virtudes: por receber mais pacientes do que teria condições e, mesmo assim, manter as portas abertas a todos. Esse é o motivo para os corredores abarrotados. Não há como cobrar mais do IJF. Então, necessidade de ampliar a rede é indiscutível. A questão é discutir como e onde fazer isso. IDAS, VINDAS E MARQUETAGEMA autocrítica de Heitor não deixa de ser positiva. Mas, traz elementos interessantes para discutir a consistência do que é proposto em campanha. Em entrevista ontem ao O POVO no Rádio, na Rádio O POVO/CBN, ele admitiu que a ideia do IJF 2 não foi apresentada com a devida profundidade e amadurecimento. Ora, imagine se Heitor tivesse sido eleito. Mesmo que chegasse à mesma conclusão, ele teria vencido com essa ideia. E, no governo, seria cobrado a executá-la. Provavelmente, acabaria levando adiante uma proposta que julga equivocada. É um problema da forma como os candidatos propõem iniciativas que podem atender os anseios do eleitor, funcionar como estratégia de marketing. Mas, estão longe de ser soluções reais. As lorotas de campanha, de um jeito ou de outro, podem acabar virando políticas públicas.