Sete de dezembro de 2011. Assembleia Legislativa do Ceará. Uma visita surpresa. Cid Gomes apresenta projetos de mobilidade urbana. Tenta esclarecer o uso do termo “rolo” numa conversa com empresários cujo vídeo vazara na imprensa do sul do País e que lhe causava óbvio desconforto. Dá uma definição anódina do termo. O escândalo dos banheiros fedia. Instado pela oposição sobre o caso dos consignados exaspera-se tanto que um deputado da base intervém e pede calma: “a emoção está prejudicando a racionalidade do governador”. Não. A emoção, no caso, confirmou empiricamente o conceito de inconsciente: “sei” algo, mas algo em mim se recusa a saber, por ser insuportável. Vejamos.
Cid: “Talvez eu não saiba... Estou me recusando a acreditar. Não, não preciso saber de nada, é só bom senso. O pior dos mundos é a desconfiança. Se o governo tivesse alguma intenção de fazer disso um meio de vida eu não ia mexer na mamata, é, na mamata que eu digo, perdoem a palavra, na generosidade com que essa questão é tratada.”
“Eu perdi a aula na 5ª série, dos juros sobre juros. Quanto é, eu não acredito porque não é razoável. Quem é que está interferindo pra alguém ter lucro? Teoricamente se é o genro do Arialdo, seria o Arialdo. De que forma ele pressiona e a quem? Imaginemos, só em hipótese... pra polícia...me dê uma linha de investigação que determino nesse instante que a Polícia Civil abra uma investigação. Me dê uma coisa minimamente crível.”
“Esse governo é sério, honesto. Se alguém age errado é pra ser demitido sumariamente. Pode acreditar. Tenho a consciência tranquila e confio nas pessoas, mas não sou ingênuo, já tenho experiência demais na vida pública, pra não ter malícia, astúcia, perspicácia.”
“Isso tira a credibilidade do meu governo. Sou responsável. Se sou sério e meu governo é desonesto, no mínimo sou incompetente, imbecil. Eu não roubo, nem deixo roubar. Se alguém está roubando me diga, me diga. Eu não vou aceitar extorsão embora, repito, isso não tem nada a ver com o governo, não tem nada a ver, vírgula, o governo não tem autoridade sobre essa empresa, ela tem que prestar serviço, se prestar mal feito, nós cancelamos”.
16 de abril de 2012. O POVO. Depois do escândalo servido noutra matéria do Sul, Ciro Gomes afirma que é “imoral” o fato de a ABC ter contratado empresa de parente de um secretário para gerenciar os consignados. “Não é certo. O ato administrativo tem que ser moral”. “Absurdo”, “caos”, “não é sério”, expressões usadas sobre os altos juros cobrados dos servidores.
Os irmãos conversaram entre dezembro e abril? E a linha de investigação? A Seplag diz que não há irregularidades no contrato. Não houve tráfico de influência? A ABC não aceita o cancelamento, o sogro continua lá. Cid diz que o caso está encerrado. Afinal, eu entendo bem os filósofos racionalistas, porque não preciso acreditar neles. Acreditei no governador emocionado, mas para confiar no seu governo preciso entendê-lo. Alguém me explica o que afinal é ‘mamata’? Serve ‘perspicácia’ também. Não necessariamente nessa ordem. Sandra Helena de Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.ra de Filosofia e Ética da Unifor