A deputada Fernanda Pessoa diz que muitos prefeitos ignoram a solicitação para perfurar poços nas comunidades de parlamentares da oposição
( FOTO: JOSÉ LEOMAR )
Deputados estaduais afirmam estar preocupados com a previsão de seca para o próximo ano e criticam o uso da estiagem como moeda de troca no Interior. Na semana passada, o deputado federal Ronaldo Martins (PRB) denunciou a "indústria da seca" no Ceará. Neste mês, parlamentares apontaram, da tribuna da Assembleia Legislativa, que o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) está utilizando critérios políticos para perfuração de poços profundos nos municípios do Interior.
A deputada Fernanda Pessoa (PR) diz estar preocupada com a perspectiva de mais um ano de seca no Estado e afirmou não compreender o porquê de solicitações de parlamentares não serem acatadas por prefeitos para a perfuração de poços em algumas comunidades.
A parlamentar destacou que, em alguns casos, os pedidos não são atendidos quando o deputado solicitante é da oposição. "Fizemos, inclusive, audiência pública onde foi constatado que poços estavam sendo perfurados apenas em comunidades onde determinado prefeito havia recebido votos e outros eram deixados de lado. Isso é muito comum de acontecer", lamentou.
A deputada apontou que os poços, mesmo após a perfuração, não recebem eletricidade para pleno funcionamento. "Eu acredito que essa indústria da seca exista, sim, pois, como sou uma deputada de oposição, minhas demandas dificilmente são atendidas", reforçou.
Churrascarias
De acordo com a republicana, há casos de denúncias de que prefeituras procuraram atender até mesmo a churrascarias, deixando os interesses da população em segundo plano. "Infelizmente, em pleno século XXI, ainda estamos passando por esse tipo de política", ressaltou.
Roberto Mesquita (PV) destacou que a indústria seca está presente na história do Ceará, mas aponta que hoje existem ações de fiscalização mais eficazes. Ele lamentou a situação do Estado, que recebeu recarga de água em poucas regiões e em outras a situação é calamitosa. "Nunca vi o açude do General Sampaio ou de Pentecoste secos. Nem o carro-pipa pode atender, porque a água está cada vez mais longe e escassa", informou.
Para ele, o Governo do Estado vem trabalhando menos do que o Estado merece, mas salientou que a atual gestão tem apresentado políticas públicas para o enfrentamento dos efeitos da estiagem, como perfuração de poços profundos e instalação de adutoras de engate rápido.
"Essa é uma prática que, infelizmente, teima em existir, em que pessoas se aproveitam da situação em benefício próprio", disse o deputado Júlio César Filho (PTN). Ele afirma que isso acontece em busca de votos e de dinheiro. "Essa denúncia é grave e precisa ser apurada, envolvendo todos os órgãos que combatem a seca, como União, Exército e as prefeituras, que são o elo mais fraco entre todos", opina.
Devastadora
O parlamentar afirmou que é preciso que o caso seja denunciado ao Ministério Público para uma investigação mais aprofundada. Ele ressaltou que todos os parlamentares ficaram preocupados com a informação de que a seca em 2016 será mais devastadora, já que nos últimos anos a situação tem sido traumática para centenas de famílias no Interior do Estado. Júlio César defendeu uma intensificação dos trabalhos do Governo do Estado para enfrentar o problema.
"Devemos redobrar todas as ações emergenciais e de médio prazo. Apesar de as adutoras de engate rápido amenizarem o sofrimento da população, é preciso aumentar o trabalho para o Cinturão das Águas para pressionar os deputados federais para que possamos fazer com que a Transposição do São Francisco chegue até Jati", defendeu.
O deputado Zé Ailton Brasil (PP) afirmou que ainda não recebeu qualquer informação sobre o uso político de prefeitos em relação à seca, mas lamentou a situação de algumas cidades. Segundo ele, 2016 deve ser um ano muito difícil para a população e, hoje, ainda que o litoral e a região do Cariri não estejam com muitos problemas pela estiagem, boa parte do Estado sofre com a falta de reposição hídrica.