O ex-gestor Carlile Lavor tentava transferir investimentos para a rede privada conveniada justificando ser mais barato aos cofres públicos
FOTO: BRUNO GOMES
O ex-secretário da Saúde Carlile Lavor esteve presente, ontem, na comissão de Seguridade e Saúde da Assembleia Legislativa para prestar esclarecimentos sobre as dificuldades do setor que motivaram a sua saída. Ele afirmou que não conseguiu realizar ações como gestor, como ampliar gastos nos hospitais filantrópicos, devido à falta de consenso entre os muitos setores da Pasta, tornando insustentável a sua permanência no cargo.
De acordo com Lavor, uma de suas ideias era fazer com que o Governo investisse mais nos hospitais filantrópicos e nos particulares conveniados, onde o custo de muitos procedimentos é menor dos que nos próprios equipamentos públicos. A sugestão não foi bem recebida especialmente pelo Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), que administra Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) 24 horas e unidades do setor terciário.
Segundo o ex-secretário, sua renúncia foi ocasionada por não conseguir coordenar ideias dentro da Secretaria para enfrentar os problemas. "Eu penso que o problema do Ceará é que não há consenso e, se não há consenso, a gestão deixa de ser boa", opinou o médico.
Carlile ressaltou que a gestão passada investiu em grandes construções de equipamentos, mas não projetou a manutenção e funcionamento desses espaços. "Uma coisa é o investimento, outra coisa é o que vem em seguida, pois tem todo um funcionamento profissional, recursos humanos", completou, garantindo que os cortes de verbas federais agravaram a situação.
Tensão
A deputada Silvana Oliveira (PMDB) protagonizou um momento de tensão no encontro ao criticar Carlile Lavor por não ter acatado pedido feito pela parlamentar para comprar colchões e macas para o Hospital Geral de Fortaleza (HGF), a fim de ajudar uma paciente que estava sendo atendida em uma cadeira de rodas. Em resposta, o ex-secretário disse que sua postura na área sempre foi de não "furar fila" para conhecidos e defendeu que a Saúde é de todos.
Silvana não se contentou com a resposta e, em réplica, condenou sua postura. Segundo ela, o ex-gestor tentou reduzir seu mandato. "Ele demonstrou frieza transparente de vir confessar que não conseguiu coordenar a pasta. Eu torço para que o próximo secretário tenha um perfil mais político, diferente do que foi adotado por Carlile Lavor", afirmou a peemedebista.
O presidente da comissão, Carlomano Marques (PMDB), destacou que a reunião foi esclarecedora, pois alguns pontos ainda estavam sem resolubilidade. Para ele, Carlile saiu porque "mexeu no queijo de alguém", referindo-se ao ISGH e as cooperativas. "Carlile queria abrir leito de hospitais para diminuir o custo do paciente do Hospital Geral, que é caríssimo. A cultura aqui é de estatizar para que o ISGH e as cooperativas se beneficiem".
Integrante da comissão, a deputada Fernanda Pessoa (PR) afirmou que houve "atrito" entre as mudanças propostas por Carlile e dirigentes que já administravam os hospitais. "Deixou claro que os hospitais filantrópicos têm menor custo e condições de atender mais com menor custo". Carlos Matos (PSDB) declarou que um problema enfrentado por Lavor foi a falta de autoridade do gestor da Saúde no Governo do Estado.