Tenho enorme capacidade de me surpreender ao ver como alguns cenários podem piorar. Fiquei desanimada com a decisão do governo Camilo de cancelar apoio aos carnavais do Interior com a desculpa mixuruca da seca. Postura antiga do jovem governador. Mas vá lá. Em tempos de aperto, com boa vontade, dá para engolir. Mas eis que o governo encaminhou à Assembleia Legislativa reforma administrativa transferindo a Funceme da Secretaria da Ciência e Tecnologia para a Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH). A fundamentação veio em meia linha de texto: “devido à maior afinidade de competências”. No mais, duas protocolares citações. E só.
Confesso, não entendi. A Funceme, criada em 1972, já havia sido vinculada à SRH por duas vezes, mas o fato é que uma olhada na trajetória do órgão dá conta de uma ressimbolização marcada pela pesquisa, ciência e tecnologia nas áreas de meteorologia, clima, meio ambiente, desertificação, geografia e recursos hídricos.. Alcançou prestígio internacional, integrada a redes mundiais de dados, inclusive como geradora de informação. Sem contar o papel fundamental para o desenvolvimento do semiárido. Por lá passaram brilhantes cientistas e geração de pesquisadores atraída pela excelência da instituição, assim como já teve tecnologia de ponta. Não sei exatamente qual a situação atual. Falo do que conheci e da percepção do quão fundamental é ter uma Funceme fortalecida no seu papel. Tem um percurso brilhante que, deve-se, no princípio, à visão do ex-governador e agora senador Tasso Jereissati.
Todas as vinculações da instituição levam à ciência e tecnologia, que era onde estava. Então por que levá-la a guarda-chuva que é apenas um de seus braços de atuação? No texto da reforma reservado a espécie de consideração geral, fala-se em “princípio da eficiência” (?). Não explica. Nem os deputados tiveram a curiosidade de questionar. Num rasgo dos gênios, devem ter entendido rapidinho. Aprovaram em tempo recorde. Analistas dizem que a reforma teve finalidade menos técnica, digamos, e mais política, de rearranjar poderes. Uma pena.
A Funceme, geradora de informações para tomada de decisão num Ceará assolado pela seca, merecia mais cuidado. Mas como diz um amigo, agora morreu Maria Preá. É torcer para que, na SRH, continue com sua produção,essencial ao desenvolvimento sustentável do Estado e do semiárido. A esperança é que o ex-ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira, secretário da SRH, que já tem sistema hídrico complexo para gerenciar, consiga não desimportar a Funceme. Em todo caso, fica o alerta.
Fátima Sudário
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.sta do O POVO