O secretário de Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, diz que o Estado está intermediando os pedidos de prefeitos e associações e a Coelce
FOTO: ALEX COSTA
Iniciando o quarto ano consecutivo de seca, o Ceará não conseguiu superar problemas básicos de convivência com o semiárido. Prefeitos e associações comunitárias continuam recorrendo ao Governo do Estado para cobrar agilidade da Companhia Energética do Ceará (Coelce) na ligação de poços profundos, já que o órgão deve instalar rede elétrica nas fontes de captação de água. Dez adutoras do Estado trabalham com gerador e centenas de poços já perfurados não estão funcionando adequadamente porque não foram energizados.
Além de poços e adutoras, a falta de energia impede o funcionamento do Hospital Regional do Sertão Central, em Quixeramobim, inaugurado em dezembro último pelo ex-governador Cid Gomes. O problema do equipamento é agravado pela ausência de água. Nos arredores do hospital, seguranças e engenheiros responsáveis pela obra afirmam que não são autorizados a comentar o assunto. A expectativa é que o prédio só funcione a partir de novembro.
Segundo a assessoria de imprensa do Governo, adutoras de Alcântaras, Crateús, Ipu, Irauçuba, Maranguape, Pacujá, Potiretama e Quiterianópolis estão funcionado com geradores por não terem subestação de energia. Os oito municípios são responsáveis por dez adutoras, mas o Executivo só solicitou à Coelce a ligação de seis delas, alegando que as demais estão em fase de teste.
Procurada pelo Diário do Nordeste, a Companhia respondeu, por meio de nota, que já atendeu a nove pedidos de ligação de adutoras neste ano e está com seis em andamento, que devem ser finalizados até 4 de março, acrescentando que "as demais (adutoras) contêm pendências técnicas impeditivas de ligação, de responsabilidade do Governo".
Ineficiência
Publicado em 2013, o relatório da Comissão da Seca da Assembleia Legislativa já alertava para ineficiência da companhia energética em instalar com agilidade os poços perfurados. A expectativa do grupo é que, à época, cerca de 800 poços não estavam funcionando por falta de energia. Na última semana, a cobrança foi reforçada pelo deputado Welington Landim, que foi o relator do colegiado.
"Isso não é de hoje, é de muito tempo. Ela (Coelce) admitiu isso na Comissão da Seca e dizia não ter estrutura, mas não é problema nosso. Temos de buscar empresas de fora para solicitar isso. A população não pode ser penalizada. O que adianta correr para fazer perfuração de poços se não tem energia?", declarou Landim ao Diário do Nordeste.
O secretário estadual de Recursos Hídricos e ex-ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira, explica que o Governo, por meio da Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra) e da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), está trabalhando na perfuração de poços, mas pondera que são as prefeituras e associações comunitárias que devem solicitar formalmente à Coelce a ligação dos poços.
O gestor confirma que o Poder Executivo tem recebido inúmeras reivindicações de entidades municipais criticando a demora da Coelce em instalar os poços. "Tenho recebido sobretudo prefeitos que solicitam apoio para o Governo intervir junto à Coelce para agilizar essa ligação de alguns poços que as prefeituras pediram. Essas solicitações têm lá, sim", reforça Teixeira.
Para tentar minimizar os danos gerados pela morosidade de energização de poços e adutoras, o governador Camilo Santana montou um grupo de trabalho, do qual a Coelce participa, para discutir as ações imediatas de superação dos efeitos da estiagem. "A Coelce já tem feito algumas ligações. Depois da reunião provocada pelo governador Camilo Santana, isso progrediu muito", alega o secretário, ressaltando que a pressão feita pelo Governo tem gerado retorno.
Demanda
Questionada sobre a demanda de instalação de poços, que a Comissão da Seca do Legislativo estadual estima se aproximar de 800, a Coelce limitou-se a negar que tenha recebido qualquer demanda dessa natureza referente ao Governo Estadual. Acrescentou que não há nenhum pedido pendente do Executivo no tocante à instalação de poços.
"O que o Governo tem feito é o papel dele de cobrar da Coelce a prestação de serviço adequado para toda a sociedade cearense, já que ela tem uma concessão fiscalizada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), pela Arce (Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Ceará), e o governador solicitou que ela agilizasse os processos para não faltar água para comunidades rurais e sedes municipais por conta da falta de energia", diz Teixeira.
A falta de agilidade e estrutura da Coelce para atender a demandas das comunidades foi citada várias vezes nas 130 páginas do relatório da Comissão da Seca divulgado pela Assembleia Legislativa em 2013. Os deputados chegaram a propor que o Governo do Estado procure suporte na iniciativa privada.
"Sugere-se diversificar os contratos de instalações elétricas do Governo do Estado com empresas privadas para não depender unicamente da Coelce, uma vez que ela reconheceu, em reunião no dia 24 de abril (de 2013), que não tem estoque de equipamentos nem mão de obra suficiente para atender à demanda crescente do período de seca", diz o texto. "Houve denúncias de que, em alguns municípios, existem poços para retirada da água, a água é boa, mas falta instalação elétrica pela Coelce, o que é inadmissível", segue o documento.
A Casa Civil está promovendo reuniões semanais com órgãos estratégicos para a seca. A Coelce diz que tem enviado representantes da empresa para os encontros, o que foi confirmado pelo secretário Francisco Teixeira.
Lorena alvesRepórter