Para especialistas, foram as políticas do Governo Federal nos últimos 12 anos que alavancaram a candidatura de Dilma Rousseff no Ceará
Alcançando 3,5 milhões de votos no Ceará, que representam quase 77% da votação no Estado, os apoios conseguidos pela presidente Dilma Rousseff são oriundos mais dos 12 anos do governo do PT à frente da Presidência da República do que da influência das candidaturas a governador do Ceará. É o que avaliam cientistas políticas ouvidas pelo Diário do Nordeste. O tucano Aécio Neves conquistou 23% dos eleitores cearenses, pouco mais de um milhão de votos.
A professora Cristina Nobre, doutora em Sociologia do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará (Uece), explica que as duas eleições do PT - para presidente da República e governador - não estavam tão vinculadas no início da campanha eleitoral. "O êxito da candidatura está vinculado aos 12 anos de Governo Federal e não ao PT em si, com programas que têm participação muito grande, como os programas da água e o Bolsa Família", detalha.
Apesar de não ter pedido voto abertamente para a presidente Dilma, Eunício teria feito campanha velada para a petista em alguns municípios, aponta. "Eunício não conseguiu diretamente, mas em alguns lugares do Interior ele pediu votos, tinha propaganda dele com ela". E completa: "Os dois (Camilo e Eunício) buscaram se aproximar, pegaram carona do desempenho positivo da candidatura da Dilma".
Como prova da falta de proximidade entre as campanha de Camilo e Dilma no Ceará, Cristina Nobre ressalta que a comemoração da vitória, no dia 26, foi dividida em dois espaços: o comitê de Camilo no Cocó e a festa na Avenida da Universidade, reduto histórico do PT, em referência à reeleição de Dilma. "O histórico rebelde de Fortaleza estava na Avenida da Universidade e não no Cocó. Foram dois eleições diferentes", compara.
Rejeição
Mesmo tendo ganhado a eleição, Camilo perdeu para Eunício na Capital. Para Cristina Nobre, a estratégia de vincular a campanha de Camilo à mesma cor amarela que elegeu Cid Gomes, por dois mandatos, e Roberto Cláudio prefeito de Fortaleza pode ter aumentado a rejeição do petista em Fortaleza.
"A administração do Roberto Cláudio, a meu ver, não está tão boa. O Camilo aparecia vinculado muito mais ao prefeito do que ao PT e há uma decepção na periferia com a administração atual", declara, acrescentando que a segurança pública, considerada um dos gargalos da gestão Cid Gomes, pode ter contribuído para o mau desempenho de Camilo em Fortaleza.
A cientista política Patrícia Teixeira, professora da Universidade do Vale do Jaguaribe, explica que a eleição da Dilma no Ceará reflete o peso do PT no Estado. "O Camilo usou o 13 do PT laranja e o Eunício ficou neutro. Esses conchavos têm conseguido espaço, mas eles se beneficiaram mais dos eleitores da Dilma do que conseguiram votos para ela. A Dilma já seria reeleita sozinha", destaca.
Para a especialista, a derrota de Camilo na Capital expressa a negação dos fortalezenses à continuidade do clã comandado por Cid Gomes. "Muitas pessoas terminaram votando no Eunício na intenção de quebrar o poder da família Ferreira Gomes. Ele é o candidato do Cid que representa a continuidade", opina.