Superados os ânimos das eleições, os partidos começam a se reposicionar no Ceará para discutir estratégias de sobrevivência política para os próximos anos. Com 12 deputados estaduais eleitos, o PROS do governador Cid Gomes e do prefeito Roberto Cláudio aparece como uma das legendas com mais expressão no Estado, apesar da pouca estrutura em nível nacional. O PT ganha a chefia do Governo Estadual pela primeira vez, mas perde espaço no Legislativo. Já o PMDB fará reunião na próxima quarta-feira em que poderá enquadrar possíveis infiéis. O PT conseguiu o cargo mais cobiçado do Executivo estadual, o de governador, com a eleição de Camilo Santana, mas o partido caiu de cinco para duas vagas na Assembleia Legislativa. Em 2015, o PT perde no Legislativo os deputados Dedé Teixeira, Rachel Marques, Nelson Martins e Professor Pinheiro, além do governador eleito, que é deputado. Outro impasse a ser discutido pela legenda é a posição da corrente da ex-prefeita Luizianne Lins, a Democracia Socialista, que faz oposição à Prefeitura de Fortaleza e ao Governo do Estado. Embora militantes ligados à ex-prefeita tenham negado publicamente a participação da petista na campanha de Eunício Oliveira, fontes ligadas ao candidato derrotado garantem que ela apoiou o adversário do PT. O presidente estadual do PT, De Assis Diniz, minimiza a divisão do partido e diz que denúncias de infidelidade partidária serão debatidas internamente. "A única coisa que temos ciência é que, a partir do governo do Camilo, teremos profundas transformações na política do Ceará. O resto é detalhe e tem que olhar para frente", aponta. De Assis acrescenta que o partido sofreu impacto com a eleição para o Legislativo cearense. "A Assembleia foi para nós muito ruim, perdemos quadros que tinham identidade e capacidade de elaboração muito grande para o partido", lamenta. Protagonista O recém-criado PROS, que acomodou inúmeras lideranças do PSB cearense depois da saída de Cid Gomes, aparece como um dos protagonistas no Estado. O partido conseguiu levar 12 deputados para a Assembleia Legislativa e três para a Câmara Federal. O prefeito da Capital e a vice-governadora eleita, Izolda Cela, integram a legenda. A expectativa é que o PROS tenha papel determinante na composição do novo governo. "O peso político do PROS é bem expressivo com relação à coligação encabeçada pelo Camilo. Esperamos ter esse chamamento para discutir, mas o pensamento agora é debater a continuidade do programa de governo", alega o primeiro secretário da Assembleia, Sérgio Aguiar. Adianta que o partido deve ser uma das principais bases de sustentação do próximo governo. Aliado do grupo político ligado ao governador Cid Gomes até o início do ano, o PMDB do senador Eunício Oliveira poderá fazer oposição à próxima gestão. No entanto, ainda não há confirmação de que a postura seja adotada por todos os seis deputados estaduais eleitos. Em entrevista à Folha de São Paulo na última quinta-feira, Eunício Oliveira, presidente estadual do PMDB, confirmou a tese de que o partido fará oposição ao governador eleito, Camilo Santana. Acrescentou que a legenda vai enquadrar os parlamentares da sigla que descumprirem a orientação partidária. Traições O secretário geral do PMDB cearense, João Melo, informa que a direção estadual do partido vai se reunir quarta-feira para oficializar a postura daqui para frente. Ele disse que, no encontro, serão colocadas na mesa situações que constrangeram a legenda, como a tímida votação de Eunício no município de Iguatu, reduto político do deputado eleito pelo PMDB Agenor Neto. "Vamos ter uma conversa bem aberta e democrática como é o hábito do PMDB para fazer direcionamentos da parte política", responde. "Será objeto de avaliação (supostas traições de correligionários nas eleições), inclusive com presença do deputado Agenor Neto, vice-presidente do partido", completa, sem detalhar se os correligionários insubordinados serão punidos. O PMDB conseguiu eleger a segunda maior bancada da Assembleia, com seis deputados, perdendo apenas para o PROS. No dia 13 de novembro, o PDT Ceará fará balanço da eleição, um dia depois do encontro nacional, explica o presidente estadual da sigla, André Figueiredo. O partido elegeu três deputados estaduais e um federal. Ele sustenta tese que a legenda encaminhará para o Conselho de Ética casos que podem ser enquadrados como infidelidade, como a situação de Heitor Férrer ao pedir votos para Aécio Neves. Partido que concentrou na década de 1990 a maioria das prefeituras cearenses, o PSDB tem hoje uma estrutura reduzida no Estado. Porém, conseguiu fazer um deputado estadual (Carlos Matos) e um federal (Raimundo Gomes de Matos), além de eleger o senador Tasso Jereissati. Para o presidente estadual do PSDB cearense, Luiz Pontes, a eleição de Tasso Jereissati deve dar um novo fôlego ao partido no Ceará. Ele explica que, na próxima quarta-feira, o presidenciável derrotado Aécio Neves se reunirá com todos os deputados federais e senadores eleitos. "Agora vamos começar a preparar o partido para as eleições de 2016 (...) Não vamos aceitar qualquer um só porque tem votos, tem que ter uma triagem. Essa é a maneira de nós colaborarmos para fortalecer o partido", declarou. Lorena AlvesRepórter