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Ao menos 2 milhões de eleitores não votaram - QR Code Friendly
Terça, 07 Outubro 2014 08:12

Ao menos 2 milhões de eleitores não votaram

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  Cerca de dois milhões de eleitores cearenses optaram por não votar no último domingo, repetindo um cenário presenciado no pleito de 2010. O levantamento considera os 20% de abstenções, que somam 1,2 milhão de votantes, além da parcela do eleitorado que anulou o sufrágio ou votou em branco. A taxa mais alta de rejeição foi para o cargo de senador, em que quase 20% (mais de um milhão de eleitores) não quiseram escolher nenhum dos quatro candidatos contra 15% que abriram mão de votar para governador, quase 742 mil pessoas. Por sua vez, a votação para eleger os 22 deputados federais cearenses e os 46 estaduais apresentou menos renúncias ao direito de votar. Quase 398 mil teclaram o botão em branco para deputado federal e mais de 242 mil anularam. Para o cargo de deputado estadual, os números são menores: mais de 315 mil eleitores votaram em branco e 232 mil anularam. Anulados Nacionalmente, a porcentagem de pessoas que se abstiveram de votar é semelhante à do Ceará. Mais de 19% dos eleitores não compareceram ao local de votação, um total de 27,6 milhões de brasileiros, além de 4,4 milhões de votos em branco e 6,6 milhões anulados. Embora alto, o percentual de abstenções e votos nulos e brancos não surpreende no Estado. Nas últimas eleições gerais, em 2010, os mesmos 20% de eleitores não compareceram às urnas. Naquele ano, 481 mil anularam o voto para governador, mais de 10% das pessoas que foram às seções eleitorais, enquanto 241 mil votaram em branco. Para o Senado Federal, a rejeição dos eleitores cearenses é ainda pior do que a deste ano: 762 mil deram voto em branco e 1,2 milhão anularam, o que simboliza mais de 13% dos votantes. Doutora em Sociologia do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará (Uece), a professora Cristina Nobre atribui o alto índice de abstenções e votos nulos e brancos à fragilidade ideológica dos partidos, aliada às contradições das coligações partidárias. "Houve uma salada em termos de alianças. Antigos rivais se tornaram aliados, isso criou uma confusão na cabeça das pessoas. As pessoas não pensam em relação aos partidos, e sim às lideranças", explica. Majoritária A docente ressalta que são essas alianças da disputa majoritária que acabam afastando o voto de parte do eleitorado. Além disso, ela aponta que muitos candidatos a deputado acabam não apoiando postulantes majoritários com medo de perder votos. "Nem todo candidato a deputado fez vinculação ao nome de governador porque tem duas candidaturas muito fortes disputando o eleitorado", detalha. Cristina Nobre justifica que a maior porcentagem em relação a votos nulos e brancos refere-se à disputa para senador, porque a função é considerada "abstrata" para os eleitores. "O Senado é a votação mais difícil. A figura é a mais abstrata, cria uma confusão sobre a função do senador", completa a acadêmica. Em contraponto a esse cenários, os eleitores têm mais proximidade com os cargos proporcionais do legislativo: deputado estadual e federal. Isso porque, de acordo com a pesquisadora da Uece, o trabalho de corpo a corpo é mais intenso nos bairros da Capital e Interior. "São os deputados que articulam pessoas para trabalhar na eleição, fazer boca de urna, distribuição de material. Isso cria um certo vínculo com um deputado estadual e federal. Quem vai trabalhar na campanha também vota no candidato que está nos papéis que ele está distribuindo", afirma. Boca de urna De acordo com a professora universitária Cristina Nobre, a interferência da boca de urna no resultado das eleições ficou clara durante o pleito deste ano. "A tendência de menos abstenções é em função desse trabalho de base. Essas são as eleições que mais deixaram escancarado esse processo, pessoas foram presas, ficou muito evidente", opina. O cientista político Hermano Ferreira, professor da Uece, diz acreditar que falta motivação do eleitor para sair de casa para votar. Ele acrescenta que outro fator que tem contribuído para restringir o número de eleitores que vão às urnas é a limitação para o transporte de eleitores até os locais de votação, especialmente na zona rural. Hoje, a Justiça Eleitoral proíbe que candidatos ou associações disponibilizem carros para transportar pessoas no dia da votação. A regra visa a impedir a compra de votos e o beneficiamento eleitoral. "Há um controle maior sobre o eleitor. Quando ele tem que votar em um bairro muito afastado e não tem quem o leve para votar, fica em casa. Fica difícil se deslocar. Outro aspecto que aumentou a abstenção é o desestímulo com a política", completa o cientista político. Falta de interesse O professor Horácio Frota, coordenador do mestrado em Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará, aponta que a falta de interesse do eleitor com as eleições não é um fenômeno restrito ao Brasil. "Esse descontentamento é algo que está se percebendo, não é só local, é do mundo todo. Aqui a diferença é que o voto é obrigatório. Há um descrédito com sistema eleitoral", declara. Na opinião do especialista, o índice de votos brancos e nulos é menor para eleger deputados estaduais e federais, porque, além de haver mais opções, os candidatos fazem um trabalho de campanha mais próximo ao eleitorado. "Para deputado, o número é maior, sempre tem algum (candidato) que se aproxima mais (das convicções do eleitor). O deputado vai no corpo a corpo, até através dos cabos eleitorais", destaca o cientista político.
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