A 27 dias das eleições, o vazamento de informações pela revista Veja, referente à delação premiada do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, acirrou o debate político eleitoral. De acordo com a publicação, a lista do ex-diretor reúne mais de 30 políticos que estariam envolvidos com esquema de corrupção, recebendo recursos desviados da empresa em troca de apoio parlamentar no Congresso Nacional. No Ceará, candidatos ao Governo comentaram o episódio, que pode interferir nos resultados nas eleições, haja vista que, segundo a revista, pelo menos três partidos políticos - PT, PMDB e PP - teriam tirado proveito de parte dos recursos da estatal.
A deputada Eliane Novais (PSB), que concorre à sucessão estadual, usou seu tempo de propaganda no rádio e na TV, ontem, para expor a polêmica. Ele ressaltou que os candidatos Camilo Santana (PT) e Eunício Oliveira (PMDB) fazem parte dos partidos envolvidos no escândalo.
Em entrevista ao jornal O Estado, Eliana afirmou acreditar no envolvimento de seu adversário no esquema da estatal. Uma das empresas de propriedade de Eunício tem contratos com a Petrobras. “Eu tenho certeza absoluta que o nome do Eunício vai aparecer nesse pacote dos senadores envolvidos”, disparou a socialista que ainda completou afirmando que “este é mais um vexame nacional que vai envolver o Ceará”.
Além dos partidos, segundo a Veja, pelo menos 25 deputados federais, seis senadores, três governadores e um ministro de Estado estão envolvidos no caso. Para o candidato do Psol, Ailton Lopes, o esquema é fruto da atual estrutura do Estado brasileiro, onde os cargos são ocupados no troca-troca característico do fisiologismo político partidário. Para o socialista, é necessário que a reforma política passe, principalmente, na concepção ética do exercício do poder público.
“Só aqui no Estado do Ceará, houve um aumento no número de cargos comissionados não concursados de 155%, de 2012 a 2013”, apontou Ailton, dando conta de que, além do volume “absurdo”, as pessoas contratadas para assumirem os cargos, são, segundo afirma, escolhidas sem nenhum conhecimento técnico, apenas para garantir o apoio dos partidos na aprovação de determinadas medidas ou para conquistar a manifestação das bancadas em favor do governo.
“O PMDB é expert nisso. Nunca deixou de ser governo no nosso País”, completou, reafirmando que o atual modelo político onde as empresas “investem fortunas” nas campanhas é o principal incentivador da corrupção no Brasil.
Indignação
Já o senador Eunício Oliveira (PMDB), candidato ao governo do Estado do Ceará, afirmou ao jornal O Estado que observa com tristeza o caso, que envolve nomes atuantes da política brasileira. “Olho com tristeza cada vez que aparece um caso de corrupção no Brasil. Obviamente, vejo isso com indignação de pessoas que têm a obrigação de zelar pela coisa pública e desvirtua os caminhos”, pontuou. Eunício é aliado de nomes citados pela revista, entre os quais, o senador Renan Calheiros (PMDB).
SEM COMENTÁRIOS
A equipe de reportagem entrou em contato com a assessoria do candidato da base governista, Camilo Santana (PT), contudo, informou que o petista não irá se pronunciar sobre o assunto.
Envolvidos
De acordo com a revista, entre os envolvidos, estariam o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), os senadores Ciro Nogueira (PP-PI), Romero Jucá (PMDB-RR) e os deputados Cândido Vaccarezza (SP), João Pizzolatti (PP-SC) e Mário Negromonte (PP).
Entre os governadores, Paulo Roberto Costa cita o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), Roseana Sarney (PMDB), atual governadora do Maranhão, e Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco, morto dia 13 de agosto em acidente aéreo em Santos.
Histórico
Paulo Roberto Costa ocupou a diretoria da Petrobras entre 2004 e 2012, participando, portanto, dos dois governos Lula e dos dois primeiros anos do governo Dilma Rousseff. O ex-presidente da Petrobras foi preso em março deste ano pela Polícia Federal, sob acusação de participar de um esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef.
Em depoimentos, Costa afirmou que a distribuição do dinheiro servia para garantir que os partidos aliados continuassem a apoiar o Palácio do Planalto no Congresso Nacional. As investigações da PF já haviam revelado uma ampla rede de corrupção na Petrobras envolvendo funcionários da empresa, grandes empreiteiras, doleiros e políticos importantes.