A passagem de Dilma Rousseff pelo Ceará, ontem, demonstrou que a campanha será “delicada” no que diz respeito à acomodação de aliados em palanques apostos. A presidente brasileira, que disputa a reeleição, precisa administrar a tensão entre o PMDB, que terá o senador Eunício Oliveira na disputa pelo governo do Ceará, e o Pros do Ceará, que indicou o petista Camilo Santana para encabeçar a coligação articulada pelo governador Cid Gomes.
Nos próximos meses, Dilma Rousseff deve andar “pisando em ovos”, tentando não desagradar a ambos os lados. Um passo mais incisivo em favor de um dos lados pode, na avaliação de aliados, causar reações contrárias com potencial para prejudicar sua estimativa de votos no Ceará.
Na passagem por Fortaleza, Dilma participou da abertura da IV Reunião da Cúpula do Brics - grupo das principais economias emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e afastou qualquer manifestação com tom de campanha eleitoral. As atividades do grupo encerram-se hoje em Brasília.
CID X EUNÍCIO
Dilma chegou ao evento acompanhada do governador Cid Gomes, que também seguiu de perto uma conversa rápida com a imprensa sobre o evento. O governador, inclusive, chegou a compor a mesa de reunião dos chefes de Estados. Eunício, porém, chegou ao evento perto do meio-dia e depois almoçou com grupo. Na ocasião, o peemedebista e Dilma chegaram a trocar algumas palavras, tendo Cid como observador.
Eunício participou do evento, segundo sua assessoria de comunicação, atendendo ao pedido de Dilma. O petista Camilo Santana, por outro lado, não foi visto no local. Nos bastidores, a informação é de que Cid teria sido orientado a não levar Camilo, para evitar o viés eleitoral levantando um constrangimento a Dilma. Apesar de estarem em lados opostos na disputa pelo Governo do Estado, Eunício e Cid participam do evento ao lado da presidente da República nas posições de senador e governador do Ceará.
NEUTRALIDADE
A tradução da postura de Dilma pode ser entendida de seguinte forma: previsão é que a petista se manterá neutra em relação ao confronto local, caso contrário perderá o palanque do PMDB para o tucano Aécio Neves, também candidato à Presidência da República.
O problema é que essa possível neutralidade atende aos interesses de Eunício Oliveira, que depois de não receber o apoio do PT local, realizou interlocução solicitando uma postura diferenciada da cúpula nacional. Do outro, a atitude desagrada aos irmãos Ferreira Gomes, que migraram do PSB para o Pros, no ano passado, apenas para continuar na base aliada da petista. Cid e o irmão, Ciro Gomes, secretário da Saúde do Ceará, contam com a gratidão de Dilma que poderá ser traduzida em apoio eleitoral.
GESTO CONCRETO
Interlocutores do Planalto pontuam que, embora a presidente conte com bônus maior que seu opositor, no período eleitoral não é simples administrar possíveis descontentamentos. A participação de Dilma na campanha politica do Ceará é tratada, nos bastidores, sem qualquer sinalização concreta da cúpula petista, por exemplo, com a participação em comícios, ou mesmo de uma visita durante a campanha.
Embora aliados de Cid digam, publicamente, que conversaram com Dilma sobre o assunto e ela prometeu vir ao Ceará, até agora, o único gesto concreto foi um encontro, que aconteceu no Palácio do Planalto, em Brasília, onde o deputado federal José Nobre Guimarães (PT) apresentou Camilo Santana como candidato pela coligação comandada por Cid Gomes (Pros), além da candidata a vice governadora, Izolda Cela, e do candidato a senador, Mauro Filho, ambos do Pros.