Deputado Augustinho Moreira, do PV, decidiu não disputar um novo mandato, mas vai votar em companheiros de outro partido, o PHS
FOTO: JOSÉ LEOMAR
Na medida que o Calendário Eleitoral se aproxima, vereadores, deputados e demais políticos se articulam intensamente na procura de apoios visando o sucesso eleitoral. Após uma análise desse cenário, cientistas políticos avaliam como um comportamento comum o ato de deixar a ideologia partidária em segundo plano para buscar a manutenção de alianças que possibilitem uma maior atração de votos.
Apesar da fidelidade partidária ter tentado inibir a troca de legendas, membros de vários partidos parecem não se preocupar com o fortalecimento das siglas a que pertencem quando o assunto é assegurar o apoio ao padrinho ou afilhado político. O vereador Joaquim Rocha (PV), por exemplo, revelou que qualquer postura a ser tomada durante o pleito partirá das orientações do deputado federal José Guimarães (PT).
Em publicação recente, o Diário do Nordeste também mostrou que os vereadores Adail Júnior (PROS) e Adelmo Martins (PROS), membros do mesmo partido do governador Cid Gomes, participarão das campanhas de reeleição de dois opositores do Governo do Estado. Enquanto o primeiro apoia Roberto Mesquita (PV), o segundo revelou que vai ajudar Fernanda Pessoa (PR) a permanecer na Assembleia Legislativa.
No Parlamento estadual não é diferente, já que o deputado estadual Augustinho Moreira (PV) antecipou que não tentará a reeleição, mas que apoiará as candidaturas de Tin Gomes (PHS) para a Assembleia e de Adail Carneiro (PHS) para a Câmara dos Deputados, apesar de ambos não fazerem parte do mesmo partido do parlamentar.
Amizades
Na avaliação do cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), os exemplos citados denunciam não somente a fragilidade ideológica dos partidos brasileiros como explicitam o modo como as relações pessoais influenciam a política e ditam os critérios para a formação das alianças.
"Com esses exemplos, você também pode concluir que as amizades na política são muito mais fortes que qualquer sentimento de fidelidade partidária. E esse retrato não mostra só a fragilidade ideológica que toma conta dos partidos brasileiros, mas revela muito mais a forma como as relações pessoais influenciam a política", ressaltou o especialista.
David Fleischer acredita que a própria classe política reconhece a influência do padrinho na escolha do eleitor. O professor da UnB lembrou o papel do ex-presidente Lula nas eleições municipais como um exemplo da importância desses personagens na formação das alianças.
"Na última eleição, o ex-presidente Lula deu claros sinais de como o apoio de um padrinho político é mais importante do que qualquer ideologia partidária. Esse é um exemplo tosco, mas Lula percorreu o País afirmando que ia eleger vários postes pelo País", apontou o professor ao acrescentar que, em algumas regiões, o apoio foi decisivo.
De acordo com David Fleischer, o eleitor é quem referenda esse quadro na medida em que a maioria da população pouco se importa com o partido ao qual o candidato é filiado. "A maioria dos eleitores está muito mais preocupada em saber o que aquele candidato fez ou não. Ou seja, o eleitor comum está muito mais atento com a folha corrida do sujeito do que com o perfil ideológico que ele defende", explicou o professor.
Esvaziadas
Já o cientista político Francisco Moreira, da Universidade de Fortaleza (Unifor), apontou que a própria formação dos partidos brasileiros obedeceu a lógica dos padrinhos políticos. "Com raríssimas exceções, a maioria das legendas são esvaziadas de ideologia. O PMDB no Ceará, por exemplo, constrói-se em cima da imagem de uma frente partidária. Os demais membros se filiam ao partido muito mais para garantirem o apoio de uma liderança do que pelo compromisso programático", pontuou.
Francisco Moreira frisou que esse retrato foi o que tornou necessária a criação da Lei de Fidelidade Partidária, já que a busca desenfreada por apoio de nomes com maior capital eleitoral intensificou o troca-troca de legendas. "São representantes que navegam de acordo com interesses de determinadas lideranças e, muitas vezes, esses interesses se transformam em interesses particulares" acrescentou político.
O professor da Unifor lamentou que essa realidade tenha forte peso para o crescimento do descrédito da população em relação à política brasileira e defendeu que os Tribunais Regionais Eleitorais precisam ser mais rígidos na divulgação de campanhas junto à sociedade sobre a importância da representação.
"A política está se tornando mal vista por todos, porque a maioria, em vez de fazer uma ação em busca dos interesses da sociedade que eles representam, muitas vezes, se preocupa em garantir os interesses de pequenos grupos. Acho que os Tribunais precisavam desempenhar um papel mais importante nesse processo. Não só no sentido de evitar isso, mas no sentido de orientar a população sobre importância da política como ação" cobrou Francisco Moreira.